sábado, 7 de novembro de 2009

NARCISO

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A seara ondulava
Sensual
E as papoilas
Efémeras
Adornavam o bailado
Que embalava
A paixão das cigarras
Assim eras tu
Em Maio
Na frescura dos caminhos
Radiante
Com o mundo a teus pés
Gostavas do teu brilho
E embriagavas-te
Na imagem do espelho
Que enfeitavas
Com as cores
Duma Primavera duradoura
Esqueceste os aromas da terra
E não vias que os deuses
Despreocupados
Em olímpico tédio
Jogavam o teu destino
Em jogo de dados
Dedilhando-o
Em acordes chorados
O espelho fragmentou-se
E não percebeste
A sensação de frio
Nos caminhos que te levaram
À solidão
Dum palco vazio.
.
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6 comentários:

  1. Porque não estamos sozinhos no mundo…

    Porque somos um “ser-com-os-outros”…

    Porque queremos acreditar que a vida não é uma árvore outonal e que podemos ramificá-la com os laços da família…

    Porque os teus textos nos transportam para um mundo interior que nos liberta de insignificâncias materiais e nos leva a questionar…


    Por tudo isto aqui deixamos um “Obrigado”

    A dupla maravilha e Ana Carolina (reflexão conjunta)

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  2. Olá, dupla/tripla maravilha!
    É muito bom poder contar com a vossa cumplicidade.
    Sei que estão sempre presentes, e isso é que conta.
    Obrigado!

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  3. Narciso?
    Aparentemente uma simples flor...
    Poeticamente envaideceste-a de tal forma que se soltou da terra para ser:
    ... bailado de sensações
    ... brisa mitológica de arrepiar a esfera olímpica
    ... tragédia adivinhada vivida com paixão...
    Com toda a sinceridade e, ainda embalada nesta dança simbólica, miro o espelho olímpico e vejo, no alto do seu monte, o lugar de um outro "deus": Agostinho, o Poeta.
    :)
    Regressando à terra, parabéns Agostinho!

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  4. Um poema moldado em estilo Horaciano.Adoro Horácio, o inspirador de Ricardo Reis.Poema sério, grave, profundo, lembrando que somos seres efémeros, seres para a morte e que morremos a cada minuto que passa.A morte como resultado da soma dos dias. Bonifrates na mão do destino,eis-nos chegados ao dia da "sensação de frio(...)dum palco vazio.
    Agostinho,você é poético na prosa e na poesia porque é em si morada dela, na sua essência mais pura.
    IBEL

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  5. Talvez que um dia o frio
    Se arrepie no teu corpo
    Ou os vermes te desfaçam de nudez
    Mas da tua alma
    A essência pura
    Permanecerá na água dos teus versos
    Onde Apolo se banha
    Na linfa de Narciso
    E dessa morte não perecerás.

    IBEL

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  6. Gostei muito.
    Homrm, não pares de escrever!

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