terça-feira, 3 de novembro de 2009

A VALSA LENTA

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O Outono entrou de mansinho, mas a sua sinfonia colorida, em tons nostálgicos, já se faz notar.
As árvores da escola, correspondendo a um ciclo imemorial, começam a libertar as folhas que, numa dança suave, se encaminham para o novo anfitrião, a terra batida do recinto do recreio. Quando o tapete começa a ganhar forma, a Teresa, a auxiliar da escola, não está pelos ajustes: mal arranja um tempito nos seus afazeres, pega na vassoura e vai juntando as folhas invasoras em montinhos, destinando-lhes o contentor como morada. Só que às vezes chega a hora do recreio antes de ela acabar o serviço, e aqueles montinhos, ali mesmo à mão, são verdadeira cobiça para as brincadeiras, principalmente dos mais novos. E então é vê-los, radiantes, atirando as folhas ao ar, como que dizendo:
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..........Eu gosto de apanhar folhas
..........Ouvir o vento a soprar
..........Correr pela estrada fora
..........Como se fosse a voar
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Quando os pequenotes entram para a sala, um mar de folhas coloridas cobre todo o recinto, extenuadas das brincadeiras daquelas mãos afoitas e entusiastas. Então a Teresa, pacientemente, junta-as de novo, mete-as num saco e leva-as para o contentor.
Indiferentes a tudo, e seguindo uma lei do princípio do tempo, das árvores, em ritmo de valsa lenta, outras folhas vão caindo...
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2 comentários:

  1. A sua escrita é doce,terna.E apaziguadora. Também.Há dentro de si uma limpeza muito branca.Mas como podia ser de outra maneira, com um apego tão de mel a esse"bando de pardais á solta"?
    Cada vez mais o coração me chama para interioridades que valham.
    Ibel

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  2. Agostinho,
    A tua escrita é contagiante e torna-se mais ainda quando se tem o privilégio de poder partilhar os momentos que aprecias. Por isso, tomei a liberdade de pegar nessa sinfonia colorida e de lhe acrescentar mais algumas notas...
    "...Quando os pequenotes entram para a sala, um mar de folhas coloridas entra com eles..." e então é vê-los entusiasmados,como que dizendo:

    Eu gosto de apanhar folhas
    Trazê-las dentro da mala
    Fazer um belo cartaz
    Nas paredes da minha sala.

    E assim, algumas folhas conseguem fugir ao contentor e à Teresa,ficando, por momentos, a morar nas salas de aula dos pequenotes.

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