sábado, 2 de janeiro de 2010

VIAGEM

.Gustavo Fernandes, Raiz Encaixada
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Olhava em volta e não se identificava com o que via. Os outros olhavam-no de lado, como se dali nada pudesse vir de bom.
Um dia descobriu um livro de receitas e leu-o com avidez. A partir daí começou a olhar para o mundo com outros olhos, e resolveu partir em demanda. Mas estava tão imbuído dum determinado formato que calcorreava os caminhos com uma leveza estonteante, fotografando-os de forma leve e apressada. O destino, acreditava, jogava por si, e mais tarde ou mais cedo chegaria à descoberta do graal almejado. E prosseguiu o seu caminho.
Entre tempestades e bonanças, fugas e abandonos, quedas e sobressaltos, o bom porto nunca chegava. E desesperava.
Quando o naufrágio se adivinhava, regressou às origens e ancorou em local de abrigo. Lambeu as feridas, aquietou-se, olhou em volta. E finalmente descobriu, dentro de si, a razão de ser da raiz.
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9 comentários:

  1. As minhas raízes são de uma terra plana em que o olhar se estende até ao infinito...

    Mas as ramificações da vida trouxeram-me às serras da Beira e aqui também pude encontrar terrenos férteis.


    Mais uma vez um belo texto!

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  2. A vida é uma viagem ...

    Ao longo desta caminhada, importa optar pela fé e recomeçar sempre de novo até chegarmos ao local de abrigo que nos dá a verdadeira paz, alegria e liberdade!

    Bela viagem que me proporcionaste no início do Ano Novo!
    Aconteceu vida interior...

    Um abraço amigo!

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  3. Gosto de poder pensar e sentir que o ser humano tem a capacidade de enriquecer a sua vida (a sua raiz principal) ramificando o seu interior.
    Poder encontrar abrigos é sinal de sobrevivência, desde que esses não sejam indefinidamente o seu alimento. Colher deles a esperança para continuar o caminho e fazer brotar novas ramificações é fortalecer o seu ser, é curar as feridas, é crescer aqui, ali e acolá.
    É bom poder viajar nas raízes do teu poema, da vida... se elas forem o suporte da alma e se se alimentarem dos nutrientes do coração. Potenciar esses nutrientes é perpetuar a espécie humana.
    Gosto de criar raízes neste terreno fértil das Interioridades! :)

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  4. Maravilhosa esta alegoria da vida e do regresso às raízes, depois do desencanto das receitas e das utopias sonhadas.
    Isto é que é ecrever bem e apressado. Gosto!!!!

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  5. Olhava em volta
    e não se identificava com o que via.
    Os outros olhavam-no de lado
    (como se dali nada pudesse vir de bom...)
    Um dia descobriu
    um livro de receitas.
    A partir daí começou a olhar
    para o mundo com outros olhos,
    e resolveu partir em demanda.
    Mas estava tão imbuído
    dum determinado formato
    que calcorreava os caminhos
    com uma leveza estonteante,
    fotografando-os
    de forma leve e apressada.
    O destino,
    (acreditava!!!),
    jogava por si,
    e mais tarde ou mais cedo
    chegaria à descoberta
    do graal almejado.
    E prosseguiu o seu caminho.
    Entre
    tempestades
    e bonanças,
    fugas
    e abandonos,
    quedas
    e sobressaltos,
    o bom porto nunca chegava.
    E desesperava.
    Quando o naufrágio se adivinhava,
    regressou às origens
    e ancorou em local de abrigo.
    Lambeu as feridas,
    aquietou-se,
    olhou em volta.
    E finalmente descobriu,
    dentro de Si,
    a Razão de ser da Raiz.


    Agostinho,

    Não resisti à tentação de imprimir im ritm veloz aos verbos de movimento.

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  6. #Carolina,
    Ainda bem que vieste da planura alentejana e encontraste aqui o teu porto de abrigo. A tua companhia e a tua amizade enriquecem-nos.

    #José,
    Olá, cavaleiro da fé, fico muito contente por gostares. Aqui a vida interior aumenta com a tua presença.

    #JB,
    Gostei muito do que escreveste, é lindo!
    Ainda te hei-de ver a criar um blogue. :)

    #Ibel,
    Ainda bem que não resistiu à tentação. O que fez só enriquece este blogue, e eu gosto de ver a minha caixa de comentários bem frequentada.
    Espero que continue a ter boas tentações. :)
    Obrigado.

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  7. Gostei da viagem. Felizmente eu sempre me senti bem aqui no Alentejo. Às vezes apetece espreitar para lá do horizonte, mas aqui é que são as minhas raízes.
    Um abraço, amigo!

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  8. Raízes... e asas.....

    "Asas e raízes.
    Que as asas enraizem e as raízes voem."

    (Juan Ramon Jiménez)

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  9. "Asas e raízes. Que as asas enraízem e que as raízes voem."
    Gostei!

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