domingo, 24 de janeiro de 2010

VIOLETAS

..
.
Já era tarde, mãe
E a translação
Em relógio solar
Deixava sulcos
Calados e profundos
Na vontade
Do teu respirar.
Ainda falavas
Com entusiasmo
Da Maria menina e moça
Quando à tardinha
No fontanário
Em apelo de mulher
Trocava olhares
Dissimulados
Com o príncipe aldeão
E as violetas
Deslumbradas
Davam as mãos
Na elaboração do cenário
Que formalizava
As razões do coração.
O sol já se despedia
Para lá do monte
Mas ainda sentia
No teu olhar
O aroma das violetas
Que engalanou
Naquele fim de tarde
Com emoção e sem tino
O oráculo que descrevia
Num voar de cotovia
A luz do teu destino.
.
.

15 comentários:

  1. Fazendo uma leitura rápida e superficial, só posso dizer:
    - Uaaaaaaauuuuuuuuuuuu!!! Sublime!
    Que ambiente violeta e perfumado ficou no ar!!!
    Depois volto para uma leitura mais atenta e profunda! :)

    ResponderEliminar
  2. Que maravilha! O poeta não é só um fingidor é, também, um "médico" da alma.
    Caldeira

    ResponderEliminar
  3. Que palavras bonitas, Caldeira!
    Um abraço

    ResponderEliminar
  4. Vestida de uma índole maternal, a tua poesia ganha uma expressividade sublime, personificada no carinho das violetas que "Deslumbradas/davam as mãos" e eram cúmplices desse afecto trocado nos "olhares/dissimulados".
    Que fascínio nesse olhar que o sol e o destino abraçam, irradiando a luz muito além da razão desse entardecer.
    Por momentos, todos os sentidos ficam ao rubro: inala-se o aroma das violetas, ouve-se a voz do fontanário (...da mãe), vêem-se os olhares meigos, sente-se a despedida do sol e saboreia-se o alimento do coração.
    Toda a natureza parece rendida à menina e moça, à mulher e mãe. E é no seu destino que se encontra o triunfo do seu respirar...
    Por vezes sinto que, por mais que escreva, fica sempre algo por dizer. :)
    Simplesmente perfeito, Agostinho!

    ResponderEliminar
  5. Obrigado, JB!
    Sabes, às vezes esquecemos que as mães também foram meninas e moças, e que o seu respirar também foi afectado pelo aroma das violetas.

    ResponderEliminar
  6. Daqui, de longe, cheiro estas violetas e, de olhos fechados, sinto-as... e escuto-as.
    Elas dizem-me da espécie de carinho e admiração, que o poeta sente...
    Dizem-me da espécie de abraço, consolo e compensação que o mesmo quer dar...
    E da espécie de sentida homenagem, que ele presta...
    Mãe e filha...
    Mãe-Casulo...
    Filha-Orfã-Mulher-Mãe-Irmã...
    Meninas e moças...
    A juventude passa, mas os sonhos ficam cristalizados no éter da vida (as memórias e os medos também).
    Daí a frescura e a candura, e o arrebatamento apaixonado, que se nos assoma e surpreende em idades maduras...
    Menina e moça sonhadora. Laços verdes, eternos, nos cabelos. Irresistível. Mas as flores não chegam... e o longe, no espaço, ou no tempo, exige perto.
    O perto não se materializa... e entristece. E desce a encosta, sózinha... para a azul-marinha janela.

    A morte é a única traição de uma Mãe.
    O meu Pai já partiu e deixou-nos um vazio profundo e mudo... por isso, creio comprender a dor sufocante e indizível, quando se perde a Mãe.
    O sentimento de falta de chão, abandono, orfandade, solidão e medo... que se sente.
    Quando se perde o Pai, a pouco e pouco, vai crescendo o medo de perder a Mãe... e, a verdade é que esta vai-nos morrendo todos os dias... e nós, cada vez muito mais atentos, percebemo-lo, nitidamente. E isso dilacera-nos e estilhaça-nos em mil bocadinhos. Deixar partir é muito difícil...
    E tudo o mais a morte nos ensina. Até um Réquiem de Violetas.
    Talvez tardias.

    ResponderEliminar
  7. Alexandra, que comentário tão sentido!
    Oxalá o aroma das violetas perdure sem qualquer condicionalismo.
    Volte sempre.

    ResponderEliminar
  8. Amigo, eu bem tento empedernir a minha parede, mas as tuas palavras conseguem sempre passar por entre as frestas e tocar-me muito fundo.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  9. #Jorge,
    Empedernir a parede?! Só tu! :)
    Um abraço também para ti.

    ResponderEliminar
  10. Não tenho podido vir aqui e hoje fiquei "entupida" e atordida pela beleza e profundidade do canto.Tenho os olhos húmidos de comoção e de encantamento. Este é talvez o poema que mais me tocou, pela singularidade das imagens e pela ternura com que emoldurou as palavras. Bem sabe como me devo sentir, Agostinho!!!!!
    Um forte abraço.

    ResponderEliminar
  11. #Ibel,
    Bem sei da forte ligação que tinha e tem com a sua mãe. Também a minha, que tinha um forte apego à vida, continua guardadinha dentro de mim.
    Ainda bem que gostou do poema.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  12. Quem sabe, numa outra serra, as nossas mãs não nos empurraram para esta comunhão virtual?
    Deus queira que as violetas as encantem e que gostem de nos lerem e de se lerem.

    LIA

    ResponderEliminar
  13. Mãe...
    Sempre linda a sua maneira de abordar seja que tema for!
    Felizmente, ainda tenho a minha e, a emprestada(sogra) que apesar dos seus 87 anos tem uma lucidez incrivel, só a atraiçoa a lentidão na locomoção, das sequelas que os avcs lhe vão deixando.
    A MÂE verdadeira, é a amiga, a presença, o ouvido para as lamurias da crise,dos problemas,
    da falta de paciencia para conseguir compreender a filha mais nova que me apareceu onze anos depois das manas, mas, que me enche de alegria e me diz tanta vez "amo-te tanto mãe, és tão linda".
    A minha mãe, tem 20 anos de diferença comigo, por isso falamos de tudo, sem tabus e se um dia ela partir será muito dificil de encarar, mas por agora recuso pensar nisso.
    As lágrimas caiem sempre mas o tema MÃE é insuperável...
    A sua e a de todos aqueles que já não partilham da sua presença fisica, está com certeza e sempre no lugar mais bonito que possuímos "CORAÇÃO E PENSAMENTO" e nunca nos deixam abandonados.
    Sublime e linda, como sempre, a sua mensagem.

    ResponderEliminar
  14. Tem razão, Ana Paula, a mãe é tudo isso e muito mais. Apesar do corte do cordão umbilical, a ligação com ela nunca se perde, mantém-se para sempre.
    A sua filhota mais nova é muito profunda, colocando questões que passam despercebidas a outros. Tenho a certeza que a apoiará incondicionalmente. Mãe é mãe.

    ResponderEliminar
  15. Ibel, quem sabe?
    De qualquer modo, uma certeza eu tenho: gosto muito de ler o que escreve em Frutos de Mim e Mar.

    ResponderEliminar