segunda-feira, 14 de março de 2011

SOBREVIVÊNCIAS

.Margarida Cepêda, As nossas teias
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Os tempos não iam para grandes assomos de liberdade.
O trabalho no terreno, verdadeiro sustentáculo de todo o edifício, gemia até mais não com a carga opressora. A cúpula, por seu lado, nunca se dava por satisfeita, enfeitiçada que estava na análise dos gráficos. E, na lógica do gabinete, mais um ponto percentual não custava nada. Todos sentiam o cheiro do medo, e as chefias intermédias, entaladas que estavam entre o coração e a razão, tentavam encontrar pé no mar da sobrevivência.
O Teles, chegado há pouco a um cargo de chefia - na verdade não mandava nada, era apenas um mero transmissor - começou por sentir cócegas no ego aquando da sua nomeação. Mas em breve o sorriso deu lugar à angústia quando se apercebeu do seu verdadeiro papel.
O tempo, contudo, faz milagres. E o Teles, qual ovo de Colombo, julgou encontrar a solução para anular a sua estreiteza. Forjou um projecto que agradasse às instâncias superiores e, em simultâneo, piscasse o olho às bases.
A cúpula, sorridente, bateu-lhe nas costas como quem elogia um menino. As bases, porém, já há muito tinham perdido a vontade de sorrir. O Teles era apenas mais um que tinha vendido a alma ao diabo.
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58 comentários:

  1. Coitado do Teles... ficou entalado entre o poder e o povo. É que já não há piscadela de olho que nos valha... :)

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  2. Mais um dos outros...ou de tantos outros...!!
    Beijo d'anjo

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  3. Subserviências que as pequenas promoções e os parcos euros conquistam.E passar de oprimido a opressor faz toda a diferença para quem tem um ego que precisa deste tipo de afago. Como dizes " na verdade não mandava nada...". Um post muito interessante que merece a nossa reflexão e daí a necessidade de uma leitura muito atenta.

    Bem-hajas!

    Beijinho

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  4. O preço de algumas sobrevivências é alto demais.
    Um grande bj querido amigo que tanta falta me faz.

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  5. li a primeira frase e pensei: olha uma verdade tão bem dita!
    e não parei de ler até dar com o fim :)

    um beijinho*

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  6. Oi poeta...
    Na realidade os Telles chocam mas não assustam não, hoje em dia neste mundo tão competitivo e individualista vendem a alma por um lugar ao sol. Poucos escolhem tentar escolher, outros tantos decidem sem pensar, apenas reproduzem as vontades e necesidades de quem está no poder.
    Fiquei mega feliz em te ver e te ter como seguidor,é um prazer tão grande e quase um presente neste dia da poesia.
    beijos e até...

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  7. Olá AC!!!

    Pode ter conseguido uma vitória,mas não sairá impune o Telles...a vida cobra,seja no ato ou em prestações salgadas!!!
    A tão temida lei da ação e reação.

    Beijos Amigo

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  8. É querido AC,
    e tantos Teles por aí..
    bem scrito!
    beijos

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  9. Eis que o herói levanta-se da catacumba, quando atento ao chamado de sua postura e como nada, arrisca a estratégia no jeito desesperador da sua consciência...
    Se estou em coma arrisco a esperança...

    Profundo AC...
    Gosto de tuas interioridades, sempre muito reflexivas...

    Bjs

    Livinha

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  10. E hoje encontrei-me com um Teles!!

    Abraços meu querido!!^^

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  11. AC, meu querido,

    Quanto será que custa um homem?

    Sempre brilhante, meu amigo.

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  12. Quantos Teles encontramos por aí?
    Adorei o texto. Parabéns.

    Adriana

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  13. Teles – uma figura muito clonada nos tempos de hoje! : )

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  14. Os Teles da nossa realidade...

    ótimo texto!!

    bjinhus...

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  15. Tantos Teles existem em todo o canto, heim?

    Texto lindo, pra variar.

    E ler você é sempre prazeroso, que bom que veio.
    Beijos...

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  16. Você faz uma combinação ótima com as fotos da Margarida, esta as nossas teias juntamente com o texto a sobrevivencia, nos mostra como ficamos envolvidos nas nossas escolhas e muitas vezes não fazemos a escolha conveniente com os nossos desejos.
    bjs tenha uma excelente semana.

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  17. vender a alma ao daibo eis a questão :)

    beijos

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  18. Agostinho,
    Ainda bem que tiveste um tempinho para voltares. E voltaste com garra. Denuncias uma das atitudes muito comuns nos dias de hoje. Atitude onde falta a ética e, consequentemente, como não se pode agradar a dois Senhores, sofre-se as consequências.
    É difícil fazer-se, em simultâneo, de Olivia patroa e Olívia costureira.
    Grande abraço, amigo.
    Caldeira

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  19. AC
    "Os tempos não iam para grandes assomos de liberdade". E agora vão!!! O Teles, ai AC quantos Teles não vendem a alma ao Diabo ou sei lá a quem. Forte este seu texto. Adorei. Bem vindo.
    Beijo

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  20. esses teus textos espargem significancias,


    abraço

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  21. Teles deveria ser o sobrenome oficial em todas as instâncias do poder público no Brasil eas exceções existem apenas para confirmar a regra.

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  22. Ironicamente subtil!!!
    Ai , tantos Teles que temos por aí e tão poucos AC...
    Beijo

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  23. Entendo!... Já vi, já sei!... Conheço alguns "Teles"

    Textualmente, um verdadeiro achado!

    Parabéns.

    Um beijo

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  24. Infelizmente, conhecemos muitos Teles...
    Pergunto-me se estas pessoas se sentirão realizadas? ou enganam-se a si próprias à custa do engano que provocam nos outros?
    Dificil de entender estes meandros...
    abraço

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  25. Muito boa ficção, mas têm também o retrato da realidade humana moderna.

    Até mais!

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  26. já estava com saudades daqui.

    beijinho*

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  27. AC
    Hoje trabalhar em firma não é para qualquer um
    com carinho MOnica

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  28. Ao longo de minha ainda curta vida já me cruzei com muitos Teles, e que abomináveis eles são! Abraço.

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  29. Como sempre, parabéns pelo texto brilhante, AC!

    Abraço

    wwwsinparangon.blogspot.com

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  30. AC! Desaparecido rs!
    Aprecio deveras o modo como constroi seus textos.
    Sempre perfeitos!
    Deixo um beijo e um excelente dia pra vc!

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  31. E isso é vida??? Mas infelizmente há muita gente assim....
    Texto interessante, real....
    Beijos e abraços
    Marta

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  32. Mais um Teles igual a tantos outros...este post é digno de uma boa reflexão sem dúvida!
    Bjs

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  33. Atualmente vivemos num mundo onde a subserviencia é a aliada da sobrevivencia, acima de quaisquer valores, a não ser os que alimentam o ego e o bolso...

    abços

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  34. Oi AC!
    Essa é uma realidade tipicamente brasileira... Paternalismo, clientelismo, nepotismo... É uma teia que se arrasta por todos os governos. Texto interessante! Vale a reflexão! Bjuss

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  35. … sabes porque por vezes não me apetece acordar, Agostinho?!...
    Precisamente por isso…, cada vez mais é difícil descobrir onde está quem ainda não vendeu a sua alma ao diabo, ou seja a quem fôr!...
    Incrível, como tu sabes dizer as coisas :)
    Beijo meu e abraço:)

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  36. AC,
    Fez-me lembrar Dante e a Divina Comédia por causa de vender a alma ao diabo.
    Vejo que ficou fascinado por Margarida Cêpeda. Esta tela não conhecia, gostei e foi bem escolhida para o que pretende demonstar, embora me ultrapasse.
    Sabe usar muito bem a pena e o tinteiro, parabéns!
    Abraço!

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  37. Porque da Serra vem sempre boas histórias?
    Vou fixar este trilho, pois a paisagem promete ...

    Um abraço do Canto de Cá ...

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  38. Que medo! Vivo rodeada de Teles! Já não distingo quem não é, questiono a própria sombra.

    Abraço

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  39. os estreitos
    estreitam-se sempre mais um pouco

    pisco é um pássaro

    e o seu texto
    é um menino que dá um pontapé nos poderes acinzentados

    um beijo, AC!

    manuela

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  40. O tempo é implacavel...fiel companheiro,,,louco inimigo...e nos deixa lembranças e saudades e ainda incerto futuro...grande abraço de bom dia pra ti amigo.

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  41. Oi AC!

    Belo texto... fiquei aqui pensando em quantos Teles eu conheço kkk
    bjs

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  42. Agostinho

    Esta metáfora política está extraordinária.
    O Teles sufoca-nos e a alma estiola.Que boom ver como se pode fazer política de forma literária e profunda.

    O meu abraço de sempre com saudades.

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  43. Graças a Deus que eu te encontrei,eu revirei o planeta atrás de ti,ta exagerei um pouquinho.
    Estou de volta com um blog novo,o antigo foi denunciado.
    Volto daqui um pouco para comentar seu texto á altura,estou resgatando meus seguidores mais adoráveis,um eu já capturei.
    Beijokas millllllllllllllll

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  44. AC

    É vê-los passar, com a alma vendida. Alguns voltam a regressar às bases, desalmados exprimidos que nem limões e de costas curvadas. Foram muitas as palmadas..
    Apenas sinto pena... custa-me sempre ver alguém cair de joelhos na humilhação.

    Excelente texto!!

    Um abraço

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  45. Um belissimo final de semana pra ti amigo...abraços.

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  46. Oi,eu ñ disse que voltaria meu amigo!!!
    Gostei do seu texto,o envolvimento político é bem parecido com meu país,tudo tão banal.
    Parabénsssssssss.
    Um exelente fds meu querido.

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  47. admirável metáfora!

    mas em verdade o Telles não tem alma...

    abraços

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  48. Agostinhamigo

    Subscrevo o que disse a nossa Émepontamiga: «chama-lhe Teles...». Porém, não me fico pela subscrição; nada disso.

    Já o tenho dito, repito e tripito: prosa desta não há muita. Plagiando os velhos Dupon & Dupont, prosa desta não há muita; ou seja, há pouca. O amigo Banana não diria melhor.

    É escorreita, é incisiva, é ácida - mas é saudável. O dito Teles era apenas mais um que vendera a alma ao Diabo. Sem a mínima dúvida.

    Prontos (sem s), fico-me, passo, calo-me.
    Olá, não me calo: na nossa Travessa vou publicar lá para o princípio da semana, quiçá, mais um capítulo do meu romance policial...

    Abç

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  49. Conheço o "Teles"... Há quem se venda por um prato de lentilhas...
    Beijo
    Graça

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  50. Olá, AC!
    Saudade de você!
    Seu texto, como sempre, forte e realista.
    Impecável!
    Beijo grande!

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  51. Querido AC...

    Estive reclusa por alguns dias, num torvelinho meio sem sentido e , confesso, um pouco desencantada ainda.Mas ,redescobri o que sempre soube: na blogosfera sinto-me em casa e quando a gente se perde o regresso é o caminho.

    Volto, hoje, e me deparo com um texto que desejaria que não houvesse saído da imaginação. Mas atrás da ficção, o mundo contemporâneo se mostra avassalador.E aí tão presente.

    Que pena! Quero voltar aqui para vê-lo escrever sobre águas e teixos, rouxinóis e amores possíveis e impossíveis,porque essa beleza que seus textos possuem são marca registrada.

    Beijos.

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  52. AC,

    Perfeito texto !
    E tantos são os "Teles" que vemos por aí ...


    Bjo Grande !
    :)

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  53. Em meia dúzia de parágrafos narrou uma parcela assinalável do mundo. Uma parcela que, infelizmente, parece alargar-se em momentos como os actuais. O problema surge perante a evidência de que agradar a Deus e ao diabo, a gregos e a troianos, é tarefa impossível.

    Bom domingo!

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  54. Amizade!

    Não lembro datas...
    Não me dedico a fazer contas, Nem fico imaginando até quando... Simplesmente, porque amigos não são números.
    Amizade é presença permitida, ausência necessária E sempre presente, Esteja longe, Esteja ao lado, Esteja onde estiver...
    E o amor, que dedico a um amigo é algo sem palavras... É sorrir por dentro... chorar de emoção... Calar se preciso...

    (Alice Ruiz).

    FELIZ DIA DO BLOGUEIRO!

    beijooo.

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  55. Querido Ac! Fico extremamente feliz quando vai passear até ao meu blog!

    É mais feliz ainda com seus ecritos. Pelo que posso notar, agora você está mais ligado ao concreto, ao objetivo. Parece que mudou um pouco de estilo.

    Beijos...!

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  56. Muito bem urdido...louvo-te o talento!!!Há tantos que vendem a alma ao diabo!!!

    Eu compreendo a tua demora em me visitar, não te preocupes com isso, tenho pena porque fazes falta e adoro os teus comentários...mas para compensar é bom sentir-te de surpresa ...

    Beijo grande

    (espero por ti no próximo carnaval:))

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