terça-feira, 27 de dezembro de 2011

(DES)OLHAR

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Margarida Cepêda, Morrer e renascer na grande câmara
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Olhavas para ti
E vias
Em pânico
O tempo a escoar
Qual ampulheta
Meteórica
Sem vontade de parar
E não sabias
Confundida
Que tecla tocar
Para refrear
A angústia premente
Que minava
Continuamente
A verdade instalada.
Se ponderasses
Para além do ego
Talvez notasses
Sem desatino
O fio de água
Cristalino
Que corria
Galgando a frágua
Para abraçar
Por inteiro
A razão do seu destino.
Então talvez pudesses serenar.
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sábado, 17 de dezembro de 2011

CUMPLICIDADES

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 Imagem tirada da net
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Os teus olhos, temperados em procuras, deslumbramentos e esperas, dizem-me que é tempo de repousar da vertigem da viagem, de soltar os idiomas interiores alheios às palavras desenhadas na poeira.
Falas-me, baixinho, da liberdade que mora no silêncio do deserto, mas os corpos são seara sequiosa de amadurecer no respirar da poesia que se solta da pele.
Dou-te a mão, dás-me a mão. Ainda me falas de liberdade, mas nos teus olhos a luz do deserto adquire outra tonalidade com o aroma do trigo maduro.
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sábado, 10 de dezembro de 2011

ECOS

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Fotografia de AC
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A grande montanha parece logo ali, à distância de um gesto, mas o seu piscar de olho é ilusão para os apressados.
Apesar das cautelas, o caminho inicia-se com o bolso repleto de verbos, na confiança do seu aconchego, mas poucos são os que ganham vida com o jorrar do silêncio dos pinheiros. O local tem vida própria, exige do intruso que se dispa, se liberte das marcas doutro linguajar. A brisa, habituada a tais aromas, sussurra ao de leve a importância de saber ouvir, de deixar de lado as encruzilhadas do ruído. E o canto da rola é garante da comunhão com o lugar.
Só tu, refém dum tempo em contratempo, pareces não entender a leveza etérea do meu sorriso.
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sábado, 3 de dezembro de 2011

EM BUSCA DO FUTURO

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Imagem retirada da net
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Margarida Cepêda, Berço
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Eram nómadas por convicção. Traziam consigo, coladas no dorso, conchas de outras eras, medalhas naturais adquiridas no seu viajar.
Vislumbraram há muito o padrão das estrelas, mas continuavam sem encontrar a correspondência nos seus passos.
Sabiam dos limites da explicação do claro-escuro, perpetuadora de fronteiras, e percorriam os caminhos em busca de novas tonalidades. Tentavam de todas as formas geométricas, mas o brilho total, sem eclipse, teimava em não se revelar.
Na sua tentativa de descobrir o futuro, ser nómada tornara-se condição e estado de espírito. E, por entre a carícia do vento, a música e a dança tendem a suavizar o caminho.
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Reformulado. Para Zerafim e as 5 cozinheiras Vurdón.
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