sábado, 30 de novembro de 2013

A PORTA DA PARTILHA

.
Margarida Cepêda, A 1.ª porta
.
.
.
O barco navega nas aparências, transpondo a fronteira do tempo em que a função das várias variáveis é manipulada no filtro duma só variável. Para trás ficou o tempo dos cantos ao amanhã, como se tudo estivesse logo ali. Não estava, não está.
Tentamos determinar a origem dos ventos, o que os faz mover, mas há sempre algo que não acompanha a sua sagacidade: umas vezes ilude-nos o canto da sereia, que nos acomoda, noutras deparamos com a nossa infimidade, que nos reformula. Do que permitimos parece haver solução, baseada em equilíbrio de forças, do que não sabemos apenas nos resta ousar. Se a primeira é mundana, à tona d'água, a segunda mexe com a nossa caixa negra. E isso assusta. Ousar, no mínimo, implica ficar com a criança nos braços, o que, assente a poeira, é sempre o início de algo: de nos descobrirmos, de nos desafiarmos. Contudo, e apesar das evidências, teimamos em acomodar o medo, em negar canteiros às flores.
Aqui e ali, apesar do uivo dos lobos, ainda há um recanto na lareira para quem chega. A horta, enquanto sustentável, é convicta fonte de partilha. Não para ficar, que a cumplicidade quer-se revigorante ponto de partida. Seja lá o que isso for.
.
.

44 comentários:

  1. Very nice post!
    Thanks & Welcome for your comment and your next visit to my blogs.
    Have a nice day! Cath.

    ResponderEliminar
  2. Lindo e tão bom te ler! Mesmo com uivos, a porta aberta...Fala muito! abração,chica

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Chica,
      A vida é eterna aprendizagem, mas nunca dispensa a esperança.

      Abraço

      Eliminar
  3. A partilha é algo de que nunca nos deveríamos alhear.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida, Luísa, sem o sentido de partilha não vamos a lado nenhum.

      Eliminar
  4. Seja lá o que isso for...

    Gostei muito.

    Beijo :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sónia,
      Há muito no "seja lá o que isso for", mas tem que ser sentido por cada um de nós.

      Beijo :)

      Eliminar
  5. Agostinhamigo

    Por aqui e apesar do uivo dos lobos deveria haver quem caçasse uns quantos que não uivam, dão pulos de contentes...

    Abç

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Henrique,
      Todos sabemos ao que te referes, é bem localizável - pudera, todos o sentimos! - mas as minhas palavras pretendem ir mais longe, apanhando no seu percurso até as simpáticas bochechas do pai natal. ;)

      Abraço

      Eliminar
  6. É na cumplicidade que podemos sobreviver!

    Abraço

    ResponderEliminar
  7. Ousar carece de coragem, desapego e fé. O comodismo é muito mais imediato e fácil. Mas os canteiros permanecem sem flores. Vida sem cor.
    Um abraço!

    ResponderEliminar
  8. Bia,
    Como muito bem dá a entender, sem esforço não há recompensa. E um mundo assim, ausente de valores, não faz qualquer sentido.

    Abraço

    ResponderEliminar
  9. AC, a caixa negra deixaria expostas muitas pessoas reféns do passado, que se escondem atrás das aparências e, forçosamente, se acomodam no medo. Mas, existe algo tão simples, a horta -também tenho uma- para onde podem convergir os olhares, as conversas, as ideias, a partilha...
    Beijos!

    ResponderEliminar
  10. Shirley,
    O passado faz parte de nós, não iremos a lado nenhum se o tentarmos ocultar. É com base nas aprendizagens passadas que se constrói o futuro, não será assim?

    Beijo :)

    ResponderEliminar
  11. Olá querido poeta AC!
    Saudade de te ler...
    Acomodamos no medo, com medo da luz.
    Devemos ter mais canteiros de flores!
    Beijos
    Ana

    ResponderEliminar
  12. Oi, A.C. li duas vezes, sob dois enfoques...O primeiro que me ocorreu foi filosófico e místico e confesso que me perdi na rota. Na segunda leitura usei o enfoque político e aí caiu como uma luva. Mas depois percebi que o entendimento poderá ser tantos outros quantos são os de nossas experiências e vivências.Quanto ao que percebi foi uma enorme semelhança entre as periécias políticas e econômicas dos nossos países, da esperança como moto contínuo da nossa psicologia social e o constante desabar do que se espera, depois vislumbrar uma possibilidade e entre trancos e barrancos a continua ilusão que vai dar certo.Aqui no Brasil dizemos: "brasileiro, profissão esperança"
    Um abraço

    ResponderEliminar
  13. O grande problema é o facto de o barco ter sempre navegado ao sabor da corrente,sem rota decididamente bem traçada, e mesmo se alguma vez a tivesse tido, apareceriam os tresloucados piratas disfarçados de grandes marinheiros a desviar o rumo.
    Não nos resta senão olharmos cada vez mais uns para os outros, e partilhar, partilhar; as nesgas de lucidez e bondade que nos restam, os produtos da horta, as palavras amigas e de esperança.
    Embora o uivo dos lobos persista e nos incomode tanto, existe ainda um manancial de caixas negras com poder adormecido que convém revelar.
    Nem sei se o entendi, AC, só sei que adoro os seus textos e lei-os sempre à minha maneira.....:-)
    xx

    ResponderEliminar
  14. Equilíbrio de forças, partilha e cumplicidade completam o canteiro de flores onde podemos viver, recusando a sobreviver apenas.

    bom domingo AC

    beijinho e uma flor

    ResponderEliminar
  15. "Contudo, e apesar das evidências, teimamos em acomodar o medo, em negar canteiros às flores."

    É isso. O medo é o pior inimigo da humanidade. Ele é para a humanidade o mesmo que o travão para a roda. Como ele o mundo não pula nem avança mas fica estagnado e quase sempre com o povo subjugado.
    Um abraço e bom Domingo.

    ResponderEliminar
  16. Por aqui, e apesar do uivo dos lobos, há sempre um recanto na lareira para quem chega, a horta, enquanto sustentável, é convicta fonte de partilha.


    Que lindo a generosidade da partilha...

    ResponderEliminar
  17. ✿⊱°•.¸
    "Seja lá o que isso for."
    Essa frase é sinônimo de esperança.

    ÓTIMO MÊS DE DEZEMBRO!

    ❥ Boa semana!
    Beijinhos.♩♫♬°º•.¸
    Minas°º✿

    ResponderEliminar
  18. Ousar ... a nossa força , a nossa fé , o nosso chegar lá .

    Um beijo , AC ,
    Maria

    ResponderEliminar
  19. sempre reflexões..
    beijo e bom Domingo AC.

    ResponderEliminar
  20. Gostei particularmente desta passagem:
    "Ousar, no mínimo, implica ficar com a criança nos braços, o que, assente a poeira, é sempre o início de algo: de nos descobrirmos, de nos desafiarmos. Contudo, e apesar das evidências, teimamos em acomodar o medo".

    Diz tudo para quem, como eu, faz do verbo ousar uma forma de estar na vida. O sair da zona de conforto. A vida não faz sentido algum - pelo menos para mim - quando, toda e qualquer rotina vai parar ao acomodar-se. Aliás, pensando bem, a rotina mata a alegria de quem ousa viver de forma um pouco diferente.

    Uma excelente semana, AC.

    ResponderEliminar
  21. o cálido refúgio da amizade - antes da aspereza dos caminhos...

    excelente.

    abraço

    ResponderEliminar
  22. AC: seus escrever nos remete a lugares tão diferenciados..que nos encontramos..ao nos perdermos...abraços meus nesse começo de semana pra ti querido

    ResponderEliminar
  23. Olá, AC!
    "Ter medo", é instinto que faz parte de nós e muitas vezes nos protege, mas também nosso inimigo, quando exageramos na dose ...nos acomodamos,e tornamos esta vida rotineira e repetitiva - e muitas vezes sem sentido...

    E há por aqui matéria de sobra em que meditar...
    Um abraço;boa semana.
    Vitort

    ResponderEliminar
  24. Pelo menos ainda há um recanto na lareira...haja esperança de alg mais
    Bjs

    ResponderEliminar
  25. "Negar canteiro às flores" achei ótimo! Há tantos caminhos as serem partilhados, mas o da esperança com certeza é o que nos motiva e abre sempre mais portas.

    Beijocas

    ResponderEliminar
  26. É verdade, teimamos em acomodar o medo.
    Um texto bonito que nos leva a reflectir.
    Bjs

    ResponderEliminar
  27. Devemos exercitar esta porta aberta para a partilha, acredito que

    quanto mais compreendemos a nossa caixa preta, mas estes

    contatos serão plenos e verdadeiros. Caminhando para

    cumplicidade sem amarras, a partilha do voo...

    Sempre grata pela partilha dos teus belos voos repletos

    de filosofia e poesia,AC!

    Belíssima a imagem...

    Bj.

    ResponderEliminar
  28. Fico sem palavras para comentar algo tão poético e verdadeiro, AC, mas é preciso ousar se queremos algo diferente, ainda que o vento não esteja de jeito ... E que bom que aqui, ou ali as portas estarão sempre abertas aos que viajam novos caminhos... Acho que nessa partilha todos acabam aprendendo alguma coisa.

    Como sempre excelente.

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  29. O que fazer sem a partilha, meu caro A.C.? É cada vez mais rara a conjugação do verbo partilhar, mas é preciso ver este sonho em cada rosto. E, em verdade, me delicio com a precisão da tua linguagem. É sempre encantadora, poética.
    Grande abraço,

    ResponderEliminar
  30. texto de várias interpretações, mas, acho que em todo o seu conteúdo, achei por bem louvar a definição da partilha que está bem definida e por vezes anda arredia...

    :)

    ResponderEliminar
  31. Olá AC,

    Li e reli, porque sim, e porque gosto de o fazer quando aquilo que leio não está explícito, o suficiente, para, de uma assentada, comentar sem ficar a matutar...
    Assim mesmo, não sei onde começam as metáforas e acabam as tuas reflexões sobre a difícil arte de viver.
    Ficou-me a certeza que a partilha e a cumplicidade fazem parte da tua filosofia de vida...o medo também! Mas, eu, não gosto de o acomodar. Prefiro enfrentar tudo o que me atemoriza, para de seguida poder respirar...ainda que as descobertas me deixem, temporariamente, ainda mais desconfortável!:)

    Abraço, AC..


    ResponderEliminar
  32. Bom dia AC!

    Não vou tentar decifrar metáforas, nem descodificar o que lhe vai na alma. É um prazer ler o que escreve. E para mim , basta-me sentir e contemplar a força das palavras. Seja lá o que isso for.

    Deixo abraço!

    ResponderEliminar
  33. AC, é sempre um prazer ler os seus contos breves, porém densos de conteúdo!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  34. Tenho uma ideia sobre o que aborda neste texto, que me agradou.

    Mas limito-me a deixar-lhe saudações

    ResponderEliminar
  35. Ousar recomenda-se, ainda que o que se colhe seja amargo. É preciso perder o medo. Mais do que isso, é urgente!

    ResponderEliminar
  36. Determinar a origem dos ventos é sempre muito impreciso. Basta apenas caminhar pela ampulheta ou se preferir por uma clepsidra...
    Saber que há um canto seguro, uma porta por onde possa dividir uma ou outra ideia ou emoção, já está de bom tamanho.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  37. Um texto que faz jus ao nome do blogue...Um dissertar sobre atitudes de quem deixa andar o barco a navegar nas ondas da superficialidade... Abanar "consciências" devia ser objetivo de quem sabe que a passividade não move moinhos! Mas há tantas mentes "fechadas"...
    O meu percurso foi sempre interventivo...Dos resultados vou sabendo alguma coisa...
    E sim, é preciso ousar sair da zona de conforto...
    Bjo

    ResponderEliminar
  38. Super lindo e poderoso que está este teu texto,gostei imenso de ler. Muitos beijinhos e até breve!! Fica com deus!!

    ResponderEliminar