sábado, 19 de julho de 2014

O PERFEITO IMPERFEITO

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Pintura de Margarida Cepêda
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Ainda me lembro, mãe, quando, nas manhãs de nevoeiro, insistias em desfolhar malmequeres. As flores, em carícia permanente, eram auscultadas em gestos cerimoniais, cada pétala que tiravas era um pouco de névoa que se ia. E continuavas, em gestos de eterno perfil, até os medos se desprenderem. Era então chegada a hora de libertar os barcos, de soprar as velas que enfunavam os sonhos.
Quando partiste, em perfeito alinhavado com o imperfeito, ainda era a delicadeza dos gestos que bordava o esboço do teu eterno desfolhar. Só eu via, mas tu continuavas a sorrir.
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