sábado, 13 de fevereiro de 2016

O BAILE DOS (DES)ENCANTAMENTOS

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Fotografia de AC
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Chegavam, em noites de lua cheia, quando um leve rumor se insinuava nas frestas.
Bailavam, levemente, contornando as pedras da penitência. Cada movimento, como se obedecesse a uma vontade maior, parecia ter o impulso certo. Ora distante, ora perto, como se pretendessem restabelecer, na sua abrangência, o temor pelos segredos bem guardados. Aos homens o que é dos homens, aos deuses o que é dos deuses.
Eram seres do outro mundo, diziam, enquanto resguardavam os mais novos. Acreditavam na simplicidade dos elementos, mas a noite trazia-lhes pedaços de coisas que não entendiam. Era então que, no aconchego do lume, se forjavam histórias de sobrenaturais encantamentos, todas com rabo de fora, não fosse o diabo tecê-las.
Bailavam, levemente, abrindo janelas para outros portais. E desvaneciam-se no ar, deixando rastos de temor e espanto.
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39 comentários:

  1. A noite faz-nos ver as coisas de outra forma, muito mais sinistras. O luar é lindo, mas nada como a luz do sol:)

    Bom fim-de-semana:)

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  2. Só pela poesia podemos ousar imaginar o que se sentia em outros tempos.
    Porque a poesia não se entende, sente-se! E há coisS que estão aquém e além das palavras!

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  3. Imaginei Craig na Dun (de Oulander).
    Bom fim de semana

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  4. E foi o espanto, a estranheza e a perplexidade que os homens sentiram perante os enigmas do universo e da vida que deram origem à pintura, à literatura, à filosofia, à religião. Foi assim que o homem começou a interpretar-se, a si e ao mundo.
    Foi um prazer ler o seu texto, AC.

    Um beijinho :)

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  5. Um dia seremos de novo crianças
    Será outro dia

    Abraço

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  6. Uma imagem apelativa a um trecho a fazer lembrar as noites de luar com seres de outro mundo...


    Abraço

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  7. Ouvi algumas dessas histórias, sentada no banquinho que a avó tinha para mim (à minha medida) junto à lareira e à luz dela, as histórias ganhavam forma nas chamas e nas sombras. Depois, dormia com ela, encolhidinha, não fosse o diabo tecê-las eheheheh

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  8. A noite e os seus mistérios. O luar e os seus encantamentos. Os homens e os seu temores. E os Deuses, além...
    :)

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  9. Gosto de entrar neste portal e embalar a minha alma na sua valsa.
    Bela prosa poética, AC.
    Fica um beijinho.

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  10. Que lindo!"Bailavam, levemente, abrindo janelas para outros portais..."...e eu que "aqui" me sinto brisa, balanço-me para trás e para a frente na esperança que deuses também me olhem...!Há dias que alguém aqui dizia que o imaginava sempre a sorrir. Eu não! Imagino-o pensativo e num encantamento silencioso e constante com tudo aquilo que outros ainda não conseguem ver. Obrigada e um forte abraço.

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  11. Vivi esses momentos e como criança temia o que os muito mais velhos diziam...e apesar dos pesares ainda hoje sou essa criança que dá brilho, cor, abrindo "janelas a outros portais.

    A imagem é fabulosa e conjugaste na perfeição.

    Parabéns e um bom fim de semana

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  12. A mim bailavam-me os olhos seguindo a voz da avó materna, ela própria encantada com a magia das histórias que (me) contava.
    O meu olhar foi marcado nesse tempo...
    Havia medo mas o encantamento superou-o.
    Apreciei, particularmente, este texto,
    Bjo, AC :)

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  13. Sou uma "velha criança"! Adoro ouvir e contar histórias!
    Adorei sua prosa poética!
    Beijo carinhoso!

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  14. Tive um Avô que poderia entrar neste belo texto , levando - me pela mão , como ele sempre fazia .

    Um beijo AC ,
    Maria

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  15. a noite "inflama" as visões...
    há que ter cuidado!

    fazes bem deixar o rabo de fora (para a realidade)
    - "não vá o diabo tecê-las..."

    forte abraço, meu caro amigo

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  16. Caro AC,

    Tenho reparado que usas muito as pinturas de Margarida Cepêda nas tuas publicações e, para cada uma delas, escreves uma mensagem fabulosa, a condizer com a mensagem implícita na tela.
    Esta teve um sabor muito especial para mim. Revi-me, sentada à lareira, - no meu Alentejo distante no tempo e no espaço - numa cadeira baixinha de assento de palha.
    Nas longas noites de Inverno era grande o encantamento, com as histórias contadas pelos adultos.Sempre envoltas nessa magia que tão bem descreves.
    Cheguei, li, li e reli, sentindo-me envolta nesse rasto de temor e espanto sentido na minha infância, para onde me transportaste e, finalmente, só me resta dizer-te uma única palavra mais: Obrigada.

    Um abraço amigo, AC!

    Beijinhos :)

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  17. Um falar nascido da tradição oral, do fantástico, parte de um imaginário coletivo que me próximo. Dos "temores e espanto" que ficavam ainda sei a cor.

    Um prazer ler estes textos curtos, mas recheados de imagens significativas.

    Bj.

    Lídia

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  18. Abriam portais surreais e fascinantes que ainda hoje povoam as minhas noites e os meus sonhos. Que boas lembranças me trouxeste AC. Beijinho

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  19. a noite e seus mistérios, e algumas crendices.
    um beijo

    :)

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  20. ~~~
    Quem não teve o seu quinhão de histórias de encantamento,
    muitas arrepiantes, mas que nos ensinavam a ser corajosos?!

    ~ Um texto poético
    delicado e maravilhoso à altura da bela pintura...

    ~~~ Beijinhos, AC. ~~~

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  21. Gostei da dança das tuas palavras abrindo janelas
    para outros portais...rss
    Acredito que este temor e espanto infantil estimulado
    pelas histórias dos avós eram tão saudáveis para
    o campo da imaginação, hoje, as crianças se perdem
    nas imagens de terror das máquinas (jogos).
    Adoro voar aqui!!
    Uma semana inspiradora, Poeta!
    Beijo

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  22. Poeta , adorei o texto . Também , suas visitas ao meu espaço . Muito obrigada . Beijos

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  23. Não sei que diga, acho o texto soberbo!
    Senti-me embalada pelas palavras que evocam o encantamento das histórias no aconchego do lume...
    Obrigado :)

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  24. Que texto incrível, que me remeteu com muitas saudades, à infância dos "causos" à beira do fogão à lenha. Adorei!
    Abraços, uma boa noite!
    Mariangela

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  25. Que prazer ler seus textos, AC. Fiquei alguns (vários) dias afastada da web e ao retornar li cada um deles, como se lê um livro novo, com prazer, com ansiedade pela próxima página, querendo e não querendo que termine. Ainda bem que certamente haverá novas postagens, para meu deleite. Abraços, boa semana.

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  26. Que maravilha! Adorei e recuei no tempo, quando menina sentada num pequeno banco à lareira de candeeiro a petróleo no mínimo porque a fogueira iluminava e ouvia histórias em que acreditava porque eram contadas pelo meu pai! Um momento de saudade.

    Boa semana AC e um beijinho

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  27. Este texto tem o cariz de realismo mágico... Gostei mesmo muito, porque esse imaginário é muito rico e leva-nos até onde a imaginação é capaz...
    Um beijo.

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  28. Do tempo dos nossos avós. Esses tempos maravilhosos ao lume do sobrenatural :)

    Abraços!

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  29. Estórias de bruxedos e magia perto da lareira no país profundo.

    Boa semana

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  30. Um texto... com uma aura mística...
    Histórias... lendas... sem elas perder-se-ia tanto da sabedoria popular... e através delas, perdura sempre a duvida... realidade passada ou fantasiada?...
    Gostei imenso do texto... que nos abre os portais do tempo... para histórias de outro tempo... em que o tempo, trazia com ele... mais encantamento...
    Abraço! Boa semana!
    Ana

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  31. Nada a acrescentar ao que foi publicado pelos "gostos" anteriores - acrescento o meu, parabéns.

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  32. Oi, A. C....a vida precisa da magia e do encantamento para se tornar mais instigante...lembrei-me do meu pai contando histórias de quando ele era menino, sentados á beira do fogão de lenha, a família reunida nas noites frias ouvindo histórias insólitas, de fantasmas e duendes que por sua vez já vinham de outras eras...
    um abraço

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  33. Um texto que me remete para a infância, para as histórias contadas nesse tempo em que não havia TV, e as noites eram passadas a ouvir histórias.
    Um abraço

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  34. Quando uma pintura desperta esta magia de palavras surge um encantamento que nos remete para os contos de mistério.
    Beleza pura!
    Um beijinho

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  35. Não é sensato que venhamos dizer que o progresso nao tem sido bom. Ainda vivi emtempos em que não havia electricidade na aldeia onde nasci e não era nada agradável, tenho belas recordações desses tempos, pois apesar de tudo a nossa humilde casinha era confortável, e lá estava a lareira para a tornar mais aconchegante, À volta dela passámos bons momentos, mesmo em se tratando de uma familia pequena.mas unida. Nao costumo visitar este teu blog, mas vou começar a faze-lo. Gostei muito do texto. Um beiinho
    Emilia

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  36. A certeza da dança das cumplicidades, e o mistério denso que as rege.
    Um belíssimo texto, com sempre, AC.
    xx

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  37. Uma forma encantadora de aludir a outros tempos...hoje, as pessoas revestem-se em blocos de cimento e até se esquecem dos mistérios da lua, do sol, do vento, do mar ... e as janelas não dão para a rua!

    Beijo encantado com a tua prosa poética e sempre renovada!
    PN

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