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Van Gogh, Paisagem da colheita
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A quinta, com o passar do tempo, fora ganhando uma ambiência muito própria. Durante o dia vivia-se a constância do movimento, moldada nos elementos. A natureza tudo nos dá, mas tudo nos exige, é uma cumplicidade sem concessões, e ali havia sempre algo para fazer. Contudo, chegado o ocaso, o vislumbre da lua apaziguava o instinto físico da sobrevivência. E, de forma natural, insinuava-se a poesia, cantando-se o já feito e as pontas daquilo que os desafiava. Semeava-se apaziguando, que a esperança carece de dificuldades domáveis. Era nessas alturas que Tiago se afoitava, que as suas palavras, preservando o que de bom tinham, os transportava para o que havia para lá do horizonte, recordando-lhes que não viviam sozinhos.
Um dia, num fim de tarde, Diana regressou. O seu olhar ainda guardava rastos de inquietude, mas estava diferente
de quando partira. Havia nela um entusiasmo novo, próprio de quem encontrara
algo e sentia necessidade de o partilhar.
Ao jantar, feito da frugalidade do que cultivavam, Diana
começou-se a soltar. E falou com alma. Reforçou a ideia que já todos
tinham – a impossibilidade dum mundo sob um jugo sem regras,
que apenas beneficiava uma minoria sem rosto – e começou a lançar sementes dum diferente porvir. Reclamou da necessidade da visão feminina do mundo se chegar à
frente, substituindo a secular e máscula prática guerreira, e que toda e qualquer
solução, para ser sustentável, teria que se basear no equilíbrio com um elemento fundamental: a terra. E disse mais. Que, para lá da necessidade de as mulheres se chegarem à frente, era uma heresia ousar
falar de liberdade quando não se respeita o mais elementar da nossa origem.
Tiago ouvia, deliciado. Não pela novidade, mas pela
cumplicidade que sentia. Tudo aquilo, para ele, fazia sentido. Diana precisara
de sair dali para entender, mas para ele a revelação viera com a percepção da
elementar arquitectura da construção de qualquer ninho. Fosse ele de
pintassilgo, de melro ou de rola. E, sem se dar conta, sorria enquanto ouvia.
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Eu eu também sorri ao longo da leitura deste fantástico texto.
ResponderEliminarPoeta , o último parágrafo do texto me faz lembrar Manoel de Barros : " Não precisei ler
ResponderEliminarSão Paulo , Santo Agostinho , São Jerônimo , nem
Tomás de Aquino , nem São Francisco de Assis -
para conhecer Deus .Formigas me mostraram Ele ."
Tudo muito bonito .
Parabéns.
beijos e boa semana
Olá, AC.
ResponderEliminarComo vivo no campo, retribuo ao Tiago o sorriso cúmplice de quem partilha um pedacinho do céu que a Natureza nos deu e entende bem o canto dos pássaros e a arquitetura dos ninhos :)
Bj. Bom fim de semana :)
Cada um percebe o sentido das coisas ao seu modo. Tiago nem só precisou olhar pro seu ao redor, Diana fez uma viagem mais extensa. Ambos obtiveram intensidade.
ResponderEliminarO texto é tão lido. Passeei a cada linha.
Beijo, AC.
A delicia da descoberta do obvio.
ResponderEliminarComo um bebê fitando surpreso seus próprios dedos. E só mais tarde vai saber o que pode fazer com eles.
Gostei muito do seu texto. Um texto de protesto, de busca de renovação, mas com a ternura de quem conhece a arquitetura dos ninhos... Abraço.
ResponderEliminarAmigo AC,
ResponderEliminarA morada é bucólica e Diana tem ótima consciência social e política.
O homem, para ter boa vida, deve viver sempre em harmonia com a natureza, pois, depende totalmente dela.
Somos seres humanos que independem de sexo. Temos que sempre convergir para o bem comum.
O conto é uma obra-prima.
A imagem é oportuna com o texto.
Abraços e ótimo fim de semana para ti e família.
Também gostei muito deste conto, mas quem é o autor? Caso o AC seja o autor, tenho que visitar este blogue mais vezes, sem falar de futebol.
ResponderEliminarRespondi ao seu comentário no "ematejoca azul".
Termino com as palavras do Nelson Rodrigues:
"O futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano."
De certo não dormes mais no berçario da natureza, pois já caminha rumo a luz imperecível. Já ouve Deus.
ResponderEliminarbjs nossos
epifania, epifania
ResponderEliminarabraço
AC, belíssimo texto onde a delicadeza das palavras mostram toda a força que ele nos dá a sentir. Um ótimo final de semana para ti e familia. Um grande beijo meu amigo.
ResponderEliminarTranquilidade, paz...tudo o que senti ao ler este texto tão aberto, cheio de luz...
ResponderEliminarObrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Um texto muito sereno e belo.
ResponderEliminarA Natureza exige cumplicidade é uma imagem que guardarei.
Beijinho!:)
Ir longe para aprender o que está em qualquer lugar.Muito belo seu texto, AC.
ResponderEliminarBeijos.
Ás vezes precisamos partir para entender o que sempre esteve dentro de nós.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo
Oi, A.C.,aí estão os ingredientes básicos da felicidade e a humanidade insana se degladia pelo consumismo desenfreado que não leva a nenhum lugar.
ResponderEliminar"Felicidade é uma casinha atoa
e dentro dela uma mulher, depois
que seja simples e que seja boa,
uma casinha apenas para dois"(música popular)
Lindo e delicado conto ..Tiago e Diana em suas vidas ensinam...Uns percebem, outros não, ritmos diferentes ao final,tocando a mesma música..
ResponderEliminarbeijo,chica
que lindo escrito querido AC,
ResponderEliminara percepção é tão distinta..
gostei da leitura.
beijos e um belo Domingo.
Quem vive " com " a natureza está centrado e verá e valorizará tudo que recebe e dá .
ResponderEliminarUm beijo AC
diana falou com alma, com a vida necessária para erguer a ceia e todas as histórias que constroem nossas moradas.
ResponderEliminarmuito lindo, ac!
beijos.
E que se tenha sempre a percepção certa das coisas...abraços amigo e uma bela semana pra ti.
ResponderEliminarPerceber a importância dessa igualdade de gêneros que tanto ainda carece o mundo de hoje através de um conto romântico.Belo e sensível!
ResponderEliminarAbraços,bom dia!
a natuzeza os contos as histórias tudo ingredientes para nos ensinar o caminho da alma
ResponderEliminarbeijinhos
ResponderEliminarDiana, muito para além da "costela".
O paraíso aqui tão perto...
Um beijo
Um conto romântico que inevitavelmente nos faz sorrir.
ResponderEliminarLindo... lindo!
AC, que espetáculo de texto. Juro que eu podria ficar mais de hora comentando-o, tantas são suas sutilezas e riquezas. Fico apenas - pela pressa - com o encontro do Céu com a Terra, promovido pelo leva-e-traz do Vento. Grande abraço e desejos de que tenhas uma ótima semana.
ResponderEliminarObrigado.
Gilson.
A natureza exige sensibilidade como a que encontro nas palavras do meu amigo!
ResponderEliminarBoa semana AC
Beijinho e uma flor
Foi preciso Diana partir para entender o que sempre esteve lá dentro, foi a Natureza que falou mais alto.
ResponderEliminarBjs
Também para mim faz sentido, também eu sorrio enquanto o leio!
ResponderEliminarGosto muito deste(s) mundo(s) que encontro quando venho a este espaço...!
Beijos.
chamo a isso de sintonia...
ResponderEliminare como é bom quando acontece...
beijo carinhoso
Cada um vê a vida de um jeito diferente, abraço Lisette.
ResponderEliminarGostei de vir, há tanto não vinha aqui.
ResponderEliminarFoi bom, bonito de se ler.
Obrigada pelo momento.
um beijo
zerafim
Lindo texto a natureza sempre fala mais alto como aconteceu aqui.
ResponderEliminarUma linda e feliz semana beijos,Evanir.
tão bonito A.C!
ResponderEliminarum beijo
Temos muito a aprender com a natureza.
ResponderEliminarGostei imenso de o ler
Beijinhos
Tão belo o texto quanto a escolha da obra. Suave, delicada e envolvente.
ResponderEliminarEscreve muito, muito bem. Parabéns.bjs
ResponderEliminarHá muito que não passava por aqui...Gostei imenso do texto e fiquei a pensar como faria falta uma Diana na nossa A.R. Talvez as coisas mudassem...
ResponderEliminarBeijo
Graça
Uma bela semana pra ti meu amigo...abraços...
ResponderEliminarVim retribuir a visita e gostei do que vi. Peço permissão para ficar. Sigo-te aqui!
ResponderEliminarDeixo aqui o meu carinho e o desejo de uma linda semana!
Que tal, AC? Boa noite, poeta!
ResponderEliminarAdmiro seu bonita e encantadora história bucólica.
Um grande abraco.
ResponderEliminarBelo texto e linda obra de Van Gogh.
Obrigada pela visita.
Abraço.
Olá ! vim retribuir o carinho da sua visita e participação no meu blog, fiquei feliz. Vim conecer o seu, améi as postagens e as imagens, concordo co A Vera, linda obra de arte de Van Gogh. Parabéns!! Volte sempre você será bem vinda! Já estou seguindo o seu com todo carinho. Bjuss uma linda tarde.
ResponderEliminarUm conto delicado, reflexivo e maravilhoso!!! Adoro vir e ler aqui. Vou lincar teu blog para não perder-me mais.
ResponderEliminarUm beijo.
Ah! Matas-te a charada do poema, além de poema, ele é também quase uma charada...E tu o desvendas-te bem. (risos).
Como é gostoso ler-te querido amigo. Teu texto é leve e doce.
ResponderEliminarUm grande bj no teu coração
A mais doce e completa sensação de completude entre um homem e uma mulher foi o que depreendi do teu texto.
ResponderEliminarSempre que venho, encanto-me com teu textos e fico por muito tempo com essa sensação de planar nos pensamentos.
Sigo contigo.
Beijo.
Sendo toda a diferença *.*
ResponderEliminarO mundo é feito de homens e de mulheres por isso afastá-las dessa realidade é construir um mundo sem alicerces!
ResponderEliminarAbraço
Ela parecia adivinhar o que ele queria ouvir!
ResponderEliminarBela cumplicidade!
Adorei o conto!
Beijo querido poeta!
Ah, abençoado Tiago!
ResponderEliminarSempre uma delícia lê-lo, AC!
Beijinhos, boa semana!
Madalena
Uma partida, um retorno, uma mudança, um reencontro a harmonia, a bonança, a felicidade, o ajuste...
ResponderEliminarQuanta poesia, pode-se saborear, numa simples vida, a dois...
Beijo, AC,
da lúcia
ResponderEliminarOlá, AC
Ambiente que convida à conversa, discorrendo sobre o direito das mulheres fazerem parte das decisões referentes à sociedade, a bem do equilíbrio e do bem-estar.
Gostei muito do seu texto, calmo e harmonioso, e muito bem ilustrado.
Abraço
Olinda
Pois é estou em falta, já não vinha cá a algum
ResponderEliminartempo, mas é difícil dar a volta a todos os
seguidores e tenho tido tão pouco tempo para
estar no PC. Mas o que eu tenho peridido,porque
aqui há belíssimos textos, como este último.
Meus avós eram rurais, pessoas que viviam no
campo e trabalhavam a terra(do lado materno)
e em pequenina acompanhei um bocado dessa
vivência e lembra-me de algumas coisas.
Outra qualidade de vida.
Um bj.
Irene Alves
Não sei qual a arte que mais apreciei, a de Van Gogh ou a sua.Perfeito.
ResponderEliminarbeijinhos
Gostei muito do texto.
ResponderEliminarA natureza tudo dá.
Tudo começa e acaba aí.
Um beijo e bom fim-e-semana
Um mês de agosto daqueles me impediu de ver os posts de blogs amigos...mas adorei o texto.
ResponderEliminarAbraço
mesmo sem ser Diana, me contando em ser Helena, sorrio pra esse moço que sabe reconhecer em pessoas o sabor de ninho.
ResponderEliminarbeijosss
lindo lindo!!!
Li e reli para conservar o sorriso nos lábios. Cada pessoa na sua busca pelos porquês da existência. Muito bom!
ResponderEliminarAbraço forte.
♡✿彡╮
ResponderEliminarMuito bonito!
Bom fim de semana!
Beijinhos.
Brasil.
•°♫¸.♪♫°
Lindo e maravilhoso este caminhar do "Tiago" pelas coisas belas e sublimes da vida! Adorei ler!
ResponderEliminarUm beijinho e um :) BFS
Querido, passando para te desejar um fim de semana cheio de alegrias e descanso.
ResponderEliminarBeijo!
um maravilhoso final de semana pra ti meu amigo,,,poesias e paz sempre...abraços...
ResponderEliminarLindo, AC. Diana voltou com novas ideias, evoluiu. Com alguma exceção, fosse o sexo feminino encabeçar as lutas da vida, com o homem um passo atrás, claro, o ninho, a pátria e o mundo, seriam melhores, não acha? Amigo,um beijo!!!
ResponderEliminarOlá, meu amigo AC!
ResponderEliminarEstou passando rapidamente apenas para lhe dizer que retornei à blogosfera. Agora pretendo agir com mais calma e consciência em relação aos meus objetivos. Cometerei o pecado de não ler o seu post hoje (é apenas uma visita rápida). Somente com o tempo poderei me organizar para visitar melhor os amigos.
Meu novo espaço: http://ocantoeosilenciodoverbo.blogspot.com.br/
Beijos!
Muito lindo!!
ResponderEliminarBom final de semana!
Beijos!!
Um bom domingo e uma excelente semana pra ti meu amigo...abraços...
ResponderEliminara sede da compreensão da mudança sentida por Diana e aceite por Tiago
ResponderEliminarbeijinhos
ResponderEliminarÀs vezes é preciso partir para que os olhos cresçam e se compreenda o sentido das asas.
Tão belo quanto verdadeiro, o que escreveu, AC!!
Um beijinho
cumplicidade é sempre bom.
ResponderEliminarum beij
Bonita expressão de liberdade.
ResponderEliminarótima semana para você!
Oi AC, tô passando prá desejar uma ótima semana! bjsss
ResponderEliminarUm novo começo, abraço Lisette.
ResponderEliminarGosto dessa cumplicidade ...e a Natureza é a nossa casa...a casa comum...todos sabem mas frequentemente esquecem... Bom setembro AC
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