.
.
.
Margarida Cepêda, Lua crescente
.
..
Quando a noite
eterno e sedutor mistério
envergava as melhores vestes
hálito frio de inconfessáveis temores
aconchegava-te a mim
consagração palpável do fruto
e esconjurava gigantes e duendes
bruxas e princesas
heróis e vilões.
Sentia cada movimento do teu corpo
cada alteração do respirar
almofada visceral
em eterno confronto
com o humor das ondas.
Quando acordavas
sol intenso adornado de flores
o teu olhar era o filtro do mundo
o teu sorriso o meu sorriso
breve trégua de apertado coração.
Depois
quando já soletravas sol e lua
comecei a levar-te para o quintal
e aí
teatro mágico de mil cenários
continuei a enfeitiçar-te
em incondicional rendição
às teias da minha voz:
era uma vez...
..