sábado, 26 de janeiro de 2013

ELOS

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Margarida Cepêda, Semente
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Despertaste-me, insuflando vida. Embalaste-me, vezes sem conta, sussurrando melodias que só os bosques, à tardinha, ainda sabiam entoar. Impeliste-me, a custo, sentindo na pele a separação das águas. Olhaste-me ao longe, contraída, com um brilho de quem nunca esquece. E parti.
Quando regressei, já com limos na demanda, quase tudo mudara. Só o canto da lareira, onde me desenhavas as mais belas histórias, se mantinha intacto, como que esperando pela sucessão natural das coisas.
Avivei o lume, aconcheguei-te na cadeira e sorri. Chegara a minha vez de te contar histórias.
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sábado, 19 de janeiro de 2013

IDIOSSINCRASIAS DO RESPIRAR E OUTRAS TOLICES

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Hélio Cunha, Cidadela
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Viver é coisa séria. Podemos pintalgar gestos, tentar abrilhantar os ecos do respirar, mas, mais tarde ou mais cedo, acabamos sempre por ser confrontados com as passadas que demos. Atitudes que, quase sem darmos conta, moldam, significativamente, todo o nosso percurso, decisões muitas vezes tomadas de acordo com cores, dissabores, odores, ou tão só de meras circunstâncias. É o tempo da rebeldia com ou sem causa, de horizontes limitados, de gritar bem alto, é o tempo de olhar para o umbigo. Que, ultrapassado, enfrenta várias bifurcações: seguir o caminho mais fácil, servindo as ideias feitas, ou enfrentar as agruras do espinhoso não, apenas baseado em convicções. A partir daqui não há loas, não há cantos de sereia, cada passo implica sentir o peso de cada movimento, de cada gesto. A cumplicidade pode ajudar, semeando violetas pelo caminho, mas não mais do que isso. É necessário ir fundo, bem fundo, passando pela caverna dos medos, para redescobrir a nossa nudez. Talvez, então, se descubra a simplicidade do brilho das estrelas, da configuração das nuvens, do desabrochar das plantas...
Viver é coisa mesmo séria. Os homens, contudo, teimam em rever-se em si próprios. Por mais tempestades que enfrentem, continuam a querer pôr cuspo no nariz do seu semelhante. Os homens teimam em ser tolos.
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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ADORMECERES

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Chegaste de mansinho
Quando a bruma
Asfixiante
Inundava o fundo do vale
E trazias contigo
Sem nada o prever
O aroma das madrugadas
Com o dia por resolver.
O verde das faias refulgia
Com a claridade instalada
E a cotovia
Prenúncio de sinfonia
Galgava as alturas
Em ânsia ilimitada.
Gostaste do papel
Forjado em conto de fadas
E a cantar bailaste
A sorrir adormeceste
Mas esqueceste
No sono profundo
A função primordial
(Deixaram de bater as asas).
Então o lume
Exigente na atenção
Lentamente esmoreceu
E a bruma
Expectante
Inundou de rompante
A razão do coração.
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