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Subia a encosta, sem bordão, à mercê do que lhe oferecia o caminho, mudando, a cada passo, de indumentária. Aqui o verde escuro dos pinheiros, mais além o verde vivo dos castanheiros, em harmonioso enlace com a alternança alquímica de fetos e carvalhos. Para trás ficava o piscar de olho das cerejeiras, eterno canto de sereia para qualquer viajante. E quantos se deixavam prender! Mas continuava, a percepção das coisas assim o exigia.
Às vezes, quando chegava ao cume, parecia que tudo se encaixava. O mundo, visto dali, parecia um enorme puzzle com as peças no devido lugar. Bastava saber olhar. Outras, vá lá saber-se o porquê, tudo parecia desarrumado, em convulsão, sem fio condutor. Era quando precisava de mais tempo, de apaziguar alguma cicatriz mais renitente. Iniciava, então, o ritual. Olhava em volta, à procura do melhor ângulo, e escolhia um local para se sentar, normalmente talhado em granito. Depois olhava, à distância, à espera que fosse tomado pela envolvência. Quando se dava conta, depois de imerso na imensidão, o tempo sorria. Dele e para ele.
Na descida, e já sem canto de sereia, o sabor das cerejas era doce e reconfortante brisa.
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