domingo, 23 de janeiro de 2022

ÀS VEZES

.
AC
.
.
Às vezes um gato não mia. Mas caminha.
Às vezes uma ave não chilreia. Mas voa.
Às vezes o planeta parece desfocado. Mas roda.
Às vezes uma estrela não se vê. Mas está lá.
Às vezes temos que nos isolar. Mas existimos.
Às vezes falta-nos a mão. Mas sobrevivemos.
Às vezes apetece-nos chorar. Mas cantamos.
Às vezes apetece-nos abraçar. Mas imaginamos.
Às vezes, para contrariar as nuvens negras, apetece-nos oferecer flores. E, confiantes na sua magia, enviamos uma foto do pôr-do-sol.
.
.
Uma pessoa que me é muito cara não conseguiu iludir a teia do coronavírus. Este texto é para ela.
.
.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

INSTANTÂNEO DE SOLTAS PONTAS

.
.
Fotografias de AC
.
.
O dia escoava-se, medido em ínfimas centelhas de luz, como se algo de importante estivesse a acontecer. Fosse pelas cores, pela geometria, pelos sinais ou insinuações, parecia urgente resgatar o momento para o poder perpetuar, a nosso bel-prazer, a fim de dissecá-lo, fruí-lo, ensaiar novas formas de arte, de filosofia. Mas sentia-se, quase ao de leve, que havia algo, em simultâneo, que nos escorria, nos ultrapassava, que ia para lá do olhar, que devassava a própria alma. 
Por mais que nos doa, é impossível domar o tempo. E por ali fiquei, na humildade da minha condição, mas grato pelo cenário do escoar do tempo, de sentir algo a acontecer. Seja lá o que for.
.
.
 



sábado, 1 de janeiro de 2022

ACERCA DO RENOVAR DA ESPERANÇA

.
Margarida Cepêda, Esperança
.
.
Eu subi para ver que, de uma fonte, se pode formar um rio.
Eu desci para ver que, no ultrapassar dos obstáculos do rio, o anseio era abraçar o mar. 
Enquanto subia e descia, vi muita gente a arrebanhar, no lusco-fusco ou às claras, mas outros tantos a abraçar, nas ruas e becos onde, aparentemente, nada havia para lucrar.
Que dizer, depois de tanto caminhar?
Não importa o que os outros pensam, ou façam, o que conta é fazer e acreditar. Em mim, em ti, nos outros, num mundo (ainda) por descobrir. E sorrir, sorrir sempre, mesmo que nas entrelinhas se chore, seja qual for o porvir.
.
.
Que 2022 seja o esboço duma esperança sem limites, pois só assim ela faz sentido. 
Um grande abraço para todos aqueles que, de alguma forma, vão acarinhando este cantinho, que se pretende pleno de interioridades. O meu eterno bem-haja.
.
.