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Margarida Cepêda, Acima do mar das nuvens
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Contornavas, num jeito que te vestia a pele, as palavras de curto alcance, com a morte anunciada, e seguias. Não te entendiam, não viam o que tu vias, apontavam-te o dedo. Doía-te, mas sorrias. E continuavas.
Hoje, quando olho para a tua visão abrangente, saúdo o teu sorriso, cada vez mais depurado, a tua ousadia em ler os olhos de Minotauro, o abraçar da solidão do querer saber, do querer ser.
Eu sei que só olhas para baixo nas pausas, nos momentos de arrumar o que transportas, talvez, quem sabe?, na esperança de vislumbrar cumplicidades. São paragens necessárias, o lamber de feridas, a descontrição das opções. Depois, saciada a bolsa de afectos, é o universo que te espera.
Quanto mais mergulhas, mais pequena te sentes, tamanho é o mistério daquilo que nos envolve. E rejubilas. Mas, por mais que mergulhes, continuas a sentir a ausência do calor nas mãos.
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