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"La poesía es algo que anda por las calles. Que se mueve, que pasa a nuestro lado. Todas las cosas tienen su misterio, y la poesía es el misterio que tienen todas las cosas. (…) Por eso yo no concibo la poesía como una abstracción, sino como una cosa real, existente, que ha pasado junto a mí."
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"La poesía es algo que anda por las calles. Que se mueve, que pasa a nuestro lado. Todas las cosas tienen su misterio, y la poesía es el misterio que tienen todas las cosas. (…) Por eso yo no concibo la poesía como una abstracción, sino como una cosa real, existente, que ha pasado junto a mí."
Federico Garcia Lorca
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Tendo como pano de fundo as palavras de Lorca, o Fundão, por estes dias, está a vestir outra roupagem. De 19 de março a 4 de abril, com o patrocínio da União Europeia, através do seu programa Europa Criativa, esta pequena cidade do interior está a colocar no terreno o evento "Poesia na Rua", que se desenrola, em simultâneo, em Guadalajara (Espanha), Grenoble (França) e em Cologno Monzese (Itália).
Instado a escrever algo para um grupo de cerca de 100 crianças levar à cena, saíram-me estas quadras, todas à solta, onde se pretende recriar uma rua fantástica, maravilhosa - os miúdos simularão mesmo uma rua, povoada pelas personagens das quadras - onde tudo pode acontecer. Oxalá eles se divirtam.
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Na rua da minha tia
Há constante descoberta
Espreitam estrelas p’la janela
Mesmo quando o sol aperta.
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Na rua da minha tia
Há um burro a ladrar
Um sapato a dizer rimas
Um caracol a sprintar.
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Na rua da minha tia
Há um leão voador
Rabisca planos de voo
Debaixo dum cobertor.
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Na rua da minha tia
Os cavalos sentam-se à mesa
Pedem um fardo de palha
Com toda a delicadeza.
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Na rua da minha tia
Há baleias a passar
Engomam as conversas todas
Sem nunca as arranhar.
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Na rua da minha tia
Há formigas d’encantar
São todas namoradeiras
Todas gostam de dançar.
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Na rua da minha tia
Há um tapete de velas no ar
A desenhar mil aventuras
Com as aves sempre a remar.
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Na rua da minha tia
Os polícias andam descalços
Os sonhos são verdadeiros
Os ladrões são todos falsos.
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Na rua da minha tia
A chuva não cai no chão
Faz piruetas nos telhados
Em forma de coração.
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Na rua da minha tia
As borboletas usam redes
Para apanhar os poemas
Que respiram nas paredes.
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Na rua da minha tia
Há um homem muito elegante
Conta memórias a toda a gente
Que herdou dum elefante.
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Na rua da minha tia
Há uma quadra em cada flor
No aroma de cada uma
Se sente a palavra amor.
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Na rua da minha tia
Há bailes de adivinhas
As respostas chegam p’lo ar
Trazidas por joaninhas.
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Na rua da minha tia
Todos passam da cepa torta
As abelhas, quando chegam
Deixam mel em cada porta.
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Na rua da minha tia
Os dragões não têm asas
Dão passinhos de balê
Enquanto pintam as casas.
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Na rua da minha tia
As janelas abrem p‘ró mundo
Quanto mais a gente a olha
Mais a rua não tem fundo.
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Adenda, pós actuação: A miudagem portou-de bem, interpretando a filosofia da coisa da melhor maneira, de tal forma que, no final da sessão, por entre efusivos parabéns, foram convidados para apresentar "Na Rua da Minha Tia" na sede do Agrupamento de Escolas, no dia aberto à população. Em finais de Maio eles lá estarão.
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