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Margarida Cepêda, Transparente
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Após uma actividade qualquer, algures a meio da cidade, os pais do Miguel, o meu neto, e os da Diana, uma amiga de creche, resolveram ir até ao Parque Verde. Aí chegados, o escorrega foi o divertimento de eleição para as duas crianças, ambas com cerca de dois anos e meio.
A brincadeira começou, os risos soltaram-se e, para eles, parecia não haver fim à vista, com os adultos, por perto, agradados com o desenrolar.
O tempo foi passando e, às tantas, os pais da Diana começaram a olhar para o relógio, pois tinham outro compromisso. Com todo o jeito possível, abeiraram-se da menina e disseram-lhe que tinham que ir embora. A pequena, contudo, estava a adorar a brincadeira e, vai não vai, resolveu socorrer-se do argumento mais eficaz que conhecia para a poder perpetuar: começou a chorar. Nestas alturas, já se sabe, os adultos tentam tudo para acalmar a criança, cada um tentando ser mais convincente que o outro.
Por entre a agitação, quase ninguém reparou no Miguel que, compenetrado, olhava para o chão em busca de qualquer coisa. Às tantas pareceu satisfeito, apanhou o que queria e aproximou-se da amiga, que continuava a chorar. Depois, com ar quase solene, mas pejado de carinho, estendeu a mão, abriu-a, deixando ver uma uma pequeníssima pedra brilhante, e disse-lhe, com o encanto que só as crianças sabem ter:
- Toma, Diana. Não chora, não?!
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