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AC, No meu quintal há laranjas
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Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Não sei que lhes fiz, saíram-me da mão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Não sei que lhes fiz, perdi um sapato.
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Não sei que lhes fiz, fiquei com vergonha.
Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Recriaram a história, viajaram de balão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Sentiram-se nus, no seu melhor fato.
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Choraram na mama, em jeito de ronha.
Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Voaram bem alto, não queriam o chão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Quem faz a comida, se não há nada no prato?
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Perdi-lhes o rasto, que coisa enfadonha.
Choraram na mama, em jeito de ronha.
Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Voaram bem alto, não queriam o chão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Quem faz a comida, se não há nada no prato?
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Perdi-lhes o rasto, que coisa enfadonha.
Havia um homem, uma cegonha, um gato e um cão.
Só perceberam a história, quando deram a mão.
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E as laranjas, que estão ali a fazer?
Fazem parte da história, mas não vou dizer. *
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* Afinal, vá lá saber-se o porquê, sempre digo. Aparentemente não tinha motivo para o post - raramente tenho, podem crer, antes de me sentar em frente do computador - mas, em período pós-almoço, com o olhar a soltar-se, reparei nas laranjas que cresciam lá fora, em território de suposta liberdade. Fui buscar a máquina, fotografei e, quando me preparava para escrever algo que abrangesse a imagem, as palavras, como que ganhando alforria, desviaram-se para outras paragens, mais consentâneas com um período em que o maravilhoso dita leis: a infância. Talvez, com esta breve explicação, as laranjas já possam sorrir. :)
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