terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

MEMORANDO

.
.
.
Ouvia-te, sabia que eras uma igual. Falavas como nuvem despegada, aparentemente sem rumo, mas num tom único, depurado, avesso a ruídos de fundo. Ambos sabíamos, caminheiros de muitas veredas, que na vida há muitos imponderáveis, a maioria fora do nosso controle, mas que é nisso que reside o seu âmago: querer romper, para lá das amarras, em busca da sensação de que todos contamos, amparados num calorzinho que não tolha, mas que amplie.
Procurei dar-te a mão, cúmplice, pronto para retomar a jornada.Também eu sabia que as ilhas, como essência, não nos levam a lado nenhum.
.
.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

TELA QUASE PRIMAVERIL

.
Imagem "roubada" do Pinterest
.
.
Havia um ribeiro, de águas calmas e murmurantes, abrigado na sombra dos salgueiros. Em volta, nos campos enfeitados de alvas margaridas, as borboletas, num arroubo quase hipnótico, ensaiavam leves e delicados movimentos duma dança ancestral. 
Olhei, olhei…, que lhe faltava? Só quando surgiste, sorridente, na curva do caminho, é que percebi, finalmente, que a tela estava completa. E publiquei.
.
.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

PAISAGEM COM CORONA AO FUNDO

.
AC, Ervilhas
.
.
Começam a chegar dias mais soalheiros, por vezes gaiteiros, confirmando que a roda das estações anda a precisar de um bom ajuste.
A passarada, com um relógio biológico bem apurado, imune a cogitações humanas, faz-se notar, e de que maneira, a cada dia que passa. O olhar espraia-se, aprovador, deixando-se envolver pelo resultado das movimentações dos últimos tempos: já se apararam as quatro sebes; plantaram-se novas árvores; limparam-se os canteiros; queimaram-se alguns sobrantes; fez-se a poda de algumas árvores mais antigas; começou a preparar-se a terra para a horta de verão; as ervilhas, na horta de inverno, começam a sorrir...
Tudo parece no seu lugar, em harmonia, mas desta vez o pensamento não se liberta por completo. Insinuam-se os ecos do coronavírus que, de tanto matraquear, começam a fazer alguma mossa. Diz-me o instinto que eles, os deuses pardos, não nos estão a contar tudo, chinesices rima com segredices, que a coisa está muito longe de estar controlada. Aguardemos.
Indiferente às minhas cogitações, o Whisky, o canzarrão trazido pelas visitas de almoço, saltita à minha volta, insinuante, a salivar com um pau na boca. Ele tem razão. Vamos lá mexer essas pernas e brincar um pouco, amigo.
.

Domingo, 16/02. Os donos do Whisky estiveram cá novamente a almoçar e, claro, trouxeram-no com eles. Habitante de apartamento, o rapaz aproveitou para pintar a manta, quase sempre de pau na boca, envolvendo toda a gente na brincadeira. No final, satisfeito com as emoções da vida ao ar livre, mostrou pouca vontade de se ir embora. Começa por aqui a criar laços, o malandreco.
.
.