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Para além do acentuar do poderio do sol, dono e senhor destas e doutras latitudes, com mudanças, para os mais incrédulos, em entrega personalizada, tudo parecia igual: os pardais comportavam-se como donos e senhores do território, debicando onde mais lhes aprouvesse, as borboletas continuavam a esvoaçar sobre tudo o que encaixasse na sua química, o sino continuava a repicar às mesmas horas. Tudo parecia, enfim, no seu lugar. Contudo, algo não fazia sentido.
Lá longe, mas suficientemente perto, um louco - não dos bons, que também os há - lembrou-se de colocar em causa o equilíbrio, já precário, do planeta. E, de repente, as sirenes tocaram, as mães abraçaram os filhos com uma intensidade de quem adivinha a desgraça, os varões, embora com parcos meios, vestiram a farda da luta como se fosse a derradeira causa. Resistir é preciso, acreditam eles.
Perante a resistência, em plano ascendente, o louco persiste, obcecado, como se a sua visão fosse única. E é aí que reside o verdadeiro perigo. É que, e estamos fartos e cansados de saber, uma fera acossada é capaz das maiores dissonâncias, seja qual for o preço. Para ela, se perder, quem cá ficar que o pague.
Vivemos tempos conturbados, é verdade, daí a necessidade, cada vez mais imperiosa, do cultivo de valores como a paz, a tolerância, a esperança... E, já que a minha geração não conseguiu resolver o problema - infelizmente agravou-o, na ânsia de ter, atirando para trás das costas os sinais comprometedores - acredito, cada vez mais, em acções para que a geração dos meus filhos, já, e do meu neto, amanhã, consigam vislumbrar, na prática, os passos certos para alcançar um verdadeiro equilíbrio. Com a premência de que o futuro não é amanhã, é já hoje.
Quanto à avestruz, se sobreviver, quando tirar a cabeça da areia que apague a luz, porque tudo o que ficar não vale um pingo de alívio.
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