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António Tapadinhas, Rhapsody in blue
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Porque te preocupas tanto em entender? O teu olhar recusa paredes, o alcance do voo da águia para ti é coisa pouca. Dizes que há sempre um novo horizonte para lá da montanha mais próxima, mas no fundo não é essa a viagem que almejas. Queres abraçar o mundo e condensá-lo nas tuas mãos, ao abrigo do resgate de ventos e marés.
É isso que pensas?
Sim, é como se quisesses levar para o teu abrigo todos os livros do mundo. Esqueces, no entanto, que só por si eles nada são.
Sim, eu sei. Eles carecem de entendimento e trabalho, muito trabalho. E isso só é possível em onda gigante, devastadora na partilha, em que o segredo almejado seja partilha colectiva.
Mas tu não querias escrever o poema definitivo?
Isso não existe, aprendi que o definitivo é feito de pequenas coisas. Ultimamente alegram-me os pequenos poemas, o canto da simplicidade.
Sabes, gosto de te ouvir, mas sinto que viver é muito mais que isso, ultrapassa as pequenas e as grandes coisas. Haverá entendimento para isto?
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