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Foto de AC
.A enxada, extremidade natural dos braços, com razão e com tempo, começou a rasgar a terra com a atenção que ela merecia.
As ervas eram um obstáculo, mas apenas pela sua delicadeza, pois cada pormenor evidenciado - a forma das folhas, a flor que se desenhava... - era constante empecilho para um cavador demasiado sensível àquilo que o rodeava. Mas, por entre tratados inaudíveis para o exterior, que apenas diziam respeito ao portador da enxada e às espécies invadidas, lá se foi criando um compromisso apaziguador de consciências. E a terra foi-se preparando, com algum trauteio, de modo a receber algumas novas espécies.
O desafio, desta vez, era aconchegar as alfaces ao calor confraternizante dum canteiro semi-selvagem, onde algumas espécies cultivadas convivessem com rosmaninhos, muito senhores dos seus domínios, em perfeita harmonia. E, sempre com outras ervas de permeio, tentou-se que as alfaces se integrassem na irmandade, qual retrato duma talvez efémera tentativa de remediar os males do mundo. Utopia na sua mais pura essência, é bom de ver, com a vantagem de se poder usufruir de cores e odores. Até porque a música de fundo estava mais que garantida, pois a passarada, por aqui, é dona por inteiro do lugar.
O Miguel, a três meses de fazer quatro anos, às vezes irrompe por aqui, sedento de conhecimentos e brincadeiras, sempre com um olhar atento por perto. Já dá atenção aos pássaros, começa a tratar as flores e as borboletas por tu, numa forma muito própria, mas com as abelhas ainda existe uma distância prudente. Tem tempo.
Perante tal cenário, e longe de Instagrams, Facebooks e outros que tais, por opção, digam-me lá uma coisa, que ninguém nos ouve: estarei fora de moda? Perdoem-me, desde já, o meu irónico sorriso. :)
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