.
.
.
Pegou no saco de carvão vegetal e, com os devidos cuidados, abasteceu o grelhador. Aplainou o nível da negra substância, colocou a grelha cerca de 30 cm acima do carvão e colocou os pedaços maiores do carburante por cima da grelha. Depois, socorrendo-se da lenha miúda que fora acumulando no outono anterior, dispôs os gravetos por cima do carvão. Acendeu duas pinhas, colocou-as em locais estratégicos no meio da lenha e aguardou que a combustão se desenvolvesse, qual desígnio com fim bem controlado.
Saciado o apetite voraz do lume, com desenhos incandescentes, sempre em fase crescente, a querer dar mostras de gente crescida, às tantas, com o carvão na parte superior da grelha já a crepitar, era hora de envolver a camada superior com a inferior, qual rasgo de homogeneidade, não fosse o diabo tecê-las. E assim se misturou o carvão elevado na superfície da grelha com a arraia miúda do purgatório, qual inferno sem Dante. Mas, dou-me conta, há quem cante, nem que seja eu, com muitos sorrisos de permeio.
Com o lume estabilizado, era hora de colocar as douradas (da Madeira, dizia o folheto) na grelha. E o grelhado, com a bênção de cinco paredes, ficou mesmo a preceito, com o manuseador a usufruir da bênção da ausência da sexta parede.
Quando levou as douradas para a mesa, com o azeite e o vinho da região já a postos, do fogão tinham acabado de sair alguns legumes cozidos a preceito, não fosse a ocasião arrefecer. Tudo a combinar, tudo em harmonia, tudo em prol da compreensão e do usufruto da vida.
Através da vidraça, enquanto se degustava, viam-se duas andorinhas pousadas no estendal da roupa, muito compenetradas, pondo a conversa em dia. Não falavam das douradas, tenho a certeza. O desdém pelo meu contentamento era compreensível, elas tinham muita roupa para lavar. :)
.
.