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AC, Filtro outonal
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Há um sol, ao de leve, que me aquece de mansinho, como se tentasse perpetuar aquilo que é breve, alquimia de poeta que tudo quer abraçar.
Rompe a névoa, aqui e ali, pintalgando conceitos efémeros, como se tudo fosse nada. Vão-se as andorinhas, rendidas ao capricho solar, e eu para aqui fico, tentando amarrar, na tela, o intangível, como se a simplicidade do ciclo da vida fosse quadro para emoldurar.
Sento-me na pedra de granito, altaneira, filtrando a luz que se insinua nas folhas, dando-lhes uma vida única, própria de cada instante. Sinto que, para lá da sinfonia de cores, estamos mal preparados para o que se segue, queríamos a vida sempre à mercê. É por isso que olhamos com desconfiança a velhice, quase não reparando na sabedoria acumulada. É por isso que continuamos a não saber enfrentar a morte, olhos nos olhos, quando é a única certeza que transportamos a tiracolo.
Há um sol, ao de leve, que me tenta iludir na certeza, desafiando-me para a descoberta de outras certezas. E eu, eterno crente na dignidade, como se não houvesse outro rumo, continuo a investir contra o muro, partindo pedra após pedra. Talvez, quem sabe, um dia consigamos saber aquilo que andamos cá a fazer.
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