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Margarida Cepêda, A 1.ª porta
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O barco navega nas aparências, transpondo a fronteira do tempo em que a função das várias variáveis é manipulada no filtro duma só variável. Para trás ficou o tempo dos cantos ao amanhã, como se tudo estivesse logo ali. Não estava, não está.
Tentamos determinar a origem dos ventos, o que os faz mover, mas há sempre algo que não acompanha a sua sagacidade: umas vezes ilude-nos o canto da sereia, que nos acomoda, noutras deparamos com a nossa infimidade, que nos reformula. Do que permitimos parece haver solução, baseada em equilíbrio de forças, do que não sabemos apenas nos resta ousar. Se a primeira é mundana, à tona d'água, a segunda mexe com a nossa caixa negra. E isso assusta. Ousar, no mínimo, implica ficar com a criança nos braços, o que, assente a poeira, é sempre o início de algo: de nos descobrirmos, de nos desafiarmos. Contudo, e apesar das evidências, teimamos em acomodar o medo, em negar canteiros às flores.
Aqui e ali, apesar do uivo dos lobos, ainda há um recanto na lareira para quem chega. A horta, enquanto sustentável, é convicta fonte de partilha. Não para ficar, que a cumplicidade quer-se revigorante ponto de partida. Seja lá o que isso for.
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