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Fotografia de AC
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Entre Gardunha e Estrela, no baixio dos campos sobranceiros ao Zêzere, há uma imensidão de vida que escapa aos olhares dos cultores de vidas apressadas. Por ali, sem qualquer esforço, avista-se a mais díspare passarada, da mais tímida à mais exuberante: melros, cegonhas, milhafres, perdizes, pintassilgos, papa-figos, guarda-rios, tordos, estorninhos, gralhas, toutinegras, pintarroxos, chapins, piscos, cotovias...
Num dia de deambulações, a espreitar possíveis janelas da alma, eis que, na placidez do caminho, surge uma manada de vacas, a pastar, em estreita relação com um bando de garças-boieiras. Parar era quase sacrilégio, não fosse perturbar a harmonia do local, mas a tentação foi mais forte. Ainda pensei em encontrar o melhor ângulo para a fotografia, mas o levantar de cabeça, em modo tranquilo, de uma ou outra vaca, levou-me a mudar de ideias. O intruso era eu. É já daqui, pensei. E, facto consumado, sem alaridos, lá segui o meu caminho.
As vacas e as garças, em atitude zen, ficaram para trás. Eu, sem pressas, prossegui na eterna busca do (im)possível poema.
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