sábado, 25 de janeiro de 2014

TORGANDO

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Nasceu na severidade do granito, a acreditar na honra, temperado na discreta tonalidade da urze.
A alma, movida a inquietude, era tão grande que mudou de lugar. E quis saber, indagar, questionar.
Depressa percebeu que, na severidade dos muros, tudo era pequeno, no espaço e nas intenções. Nas areias movediças da vida ressentiu-se da omissão do  espelho dos olhos, da ausência da simplicidade de respirar. Para manter a dignidade à tona esbracejou, gritou, recusou pactuar. Até ao fim.
Ciclicamente regressava à urze, ao simbolismo da força das raízes da torga. Desistir, nunca, a força da terra-mãe nunca o abandonou. E, entre o cá e o lá, foi forjando convicções, alimentando afectos, por mais raros, preciosidade em paisagens humanas inspiradas em cata-ventos.
Vi-o passar. Era dos que deixava rasto. As portas que se fechavam, apesar das ferroadas, apenas inchavam o peito de dignidade.
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sábado, 18 de janeiro de 2014

(RE)ENCONTROS

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Hélio Cunha, O Reencontro dos Amantes
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Elevas-te nas palavras, invocas químicas sem rasto na memória, o teu eco inunda a aurora de desenhos, alados nas intenções, muitas pontas por (des)atar.
Oiço-te, nem sempre entendo. Mas também há dias, forjados na tua imensidão, em que dás guarida ao que te envolve. É quando te deslumbras no brilho das estrelas, quando te deixas inundar pelo perfume das violetas. Nessas alturas, quando dás voz ao silêncio, tudo parece fazer sentido.
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sábado, 11 de janeiro de 2014

COMETA

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Hélio Cunha, Porta do Infinito
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Eterna crisálida, suor nos esporos, navega na vertigem, asas renovadas em cada inspirar. Alheia a portos e abrigos, não sabe para onde vai, apenas sente, a cada volteio de asa, que desenha mais um ponto na carta do universo.
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sábado, 4 de janeiro de 2014

MELODIA

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Margarida Cepêda, Semente
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Olhas, deslumbrada, para o voo dos pássaros, mergulhas na geografia tecida nas subtilezas do que se respira, do que se é.
Não voas, mas sentes. E soltas o riso e o choro, enquanto as mãos aquecem no desvendar de outras mãos.
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