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AC, Paisagem com Estrela ao fundo
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Os passos eram firmes, determinados, apesar duma constante espada, na sombra, a ameaçar travar a marcha. Talvez por isso. A vida, na sua essência, baseia-se no risco de ousar ir mais além, controlá-la está fora de questão. Há, pois, que depurar os empecilhos, contornar os profetas da desgraça, estar acima da filosofia dos donos dos quintais, especialistas em fronteiras.
De repente, qual convite irrecusável, insinua-se a pausa. O olhar alonga-se, planando na sensação de descoberta duma espécie de portal com ligação directa à alma, a configuração das coisas ganha outra dimensão. O tempo pára. Cada pormenor ganha vida, como que a dizer que tudo conta, sente-se o respirar do silêncio. Às tantas, apesar de apenas em esboço, insinua-se a dúvida: se eu estou, por que é que tu não estás?
Sim, eu sei que caminhar, muitas vezes, é descobrirmo-nos na solidão. Mas, podes crer, é nessa caminhada que se forja a cumplicidade mais pura. É disso que todos precisamos, é isso que todos nós procuramos. Apesar de, cada vez menos imunes a ruídos, continuarmos obcecados em ser donos de um qualquer quintal. Tudo por que queremos uma recompensa imediata, por mais ilusória.
Talvez, um dia, nos encontremos.
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