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AC, Ruínas do castelo de Castelo Novo
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Caminha-se pelas graníticas ruas de Castelo Novo, quase sem vivalma, com marcas evidentes dum passado já longínquo. Ainda assomam esboços de personagens por entre as rochas, à socapa, como que a querer-nos contar a história a seu modo, mas só os mais observadores reparam nelas. O passado entristece pelo desprezo, como que a augurar que, assim, o futuro não será nada risonho.
Nalguns quintais, em casas mais desafogadas, as laranjeiras e os limoeiros continuam a manter o porte digno. Mas também nalguns becos, com pequenas casas bem aconchegadas, se conseguem vislumbrar as vivências doutras eras. Incertas, pela certa, temperadas por uma religião, sob a égide da Ordem de Cristo, herdeira dos Templários, que apostava, acima de tudo, no simbolismo. Como dizia uma certa fadista, cantarei até que a voz me doa. Por mais que sofrida.
Em toda a área circundante da pequena aldeia - já foi concelho, note-se, daí ser obrigatório, para qualquer visitante, espreitar o Pelourinho e a antiga Casa da Câmara, ainda bem conservados - se sente o abraço aconchegante da Gardunha. As encostas já foram riqueza florestal, é verdade, mas o amarelo das giestas, nesta altura do ano, a substituir o negro dos incêndios, adorna os afloramentos graníticos duma beleza singela, combinando a rudeza da rocha com a delicadeza da flor.
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AC, Encosta da Gardunha sobranceira a Castelo Novo
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No castelo roqueiro, ou no que sobra dele, a visão panorâmica amplia-se. E por ali ficamos, contemplando, deixando aflorar uma mescla de informações que nos foram tatuando ao longo do tempo, embalados no cantar da água das duas ribeiras que circundam a povoação: a Ribeira de Gualdim (referência ao Mestre Templário Gualdim Pais, pela certa) e a Ribeira de Alpreade, onde ainda se podem observar as ruínas de várias azenhas que marcavam o quotidiano doutros tempos. E é neste enquadramento, com o tempo parado, que se recorda o essencial do foral concedido pelo rei, com as antigas lendas a ganharem alforria, dando vida a cada esquina, enquanto se vislumbram algumas casas senhoriais, amplas e desafogadas, contrastando com a necessidade do esforço hercúleo dos braços da populaça para garantirem o sustento, mais de uns do que de outros.
O sol começa a inclinar, tal como o tempo, convidando a uma visita diferente, entre quatro paredes, a fim de restaurar o corpo e a alma. E assim, ainda embalados por histórias de outros tempos, com um leve aroma de Belisandra no ar, se manipulou faca e garfo, com um sorriso de satisfação sempre presente. Estômagos refeitos e mentes claras, bem o sabemos, ajudam sempre a mitigar o caminho.
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