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Frida Kahlo, Árvore da Esperança
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Por onde passava só via terra devastada. Colheitas queimadas, pilhagens, nascentes envenenadas. Teimava em prosseguir, mas os sinais não mudavam. Por todo o lado a mesma aridez, o mesmo fruto da falência das ideias. A vida é feita de ciclos, lia-se nos livros, mas os ciclos são a prova da cegueira colectiva. Sempre os mesmos erros, sempre a mesma tendência para o arrotar do estômago. E, em celeiro vazio, o músculo acabava por assomar.
Da cabana, em plena floresta, saía uma leve coluna de fumo.
Aproximou-se, cauteloso, mas não via guardas nem defesas, apenas um jerico que
pastava, indiferente ao que o rodeava. Espreitou. Lá dentro, como se da coisa mais natural se tratasse, duas pessoas afadigavam-se a manter
vivo o lume, mexendo de quando em vez, com uma colher de pau, num caldeirão que
destilava odores apetecíveis. Próximo, num berço de madeira, um bebé dormitava.
Bateu à porta. De dentro não perguntaram quem era,
limitaram-se a abrir. E entrou. Dois rostos sorridentes encaminharam-no para
uma tosca mesa de madeira, onde o aguardava uma tigela de caldo fumegante.
No final, já saciado, olhou em volta. Na cabana pouco ou
nenhum conforto havia, mas uma prateleira de tigelas chamou-lhe a atenção. Eram
para quem chegasse, disseram-lhe, um estômago reconfortado ajuda a manter a
esperança. E continuavam a sorrir.
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Para todos os cúmplices de interiores odisseias,
Feliz Natal
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