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Fotografia de AC
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Havia um tempo, sempre presente, em que as maravilhas estavam fechadas, como se tudo o que de mau acontecesse fosse questão intrínseca. Éramos encorajados a bater no peito, mea culpa, concentrando energias em elevado torpor, na esperança dum qualquer milagre à imagem de santas vidas. Éramos encorajados à redenção, deixando para segundo plano as injustiças do mundo.
As amarras, contudo, apesar da severidade dos guardas, eram ténues perante o apelo natural do que se respirava lá fora.
Um espreitar, um ousar, um pular. No início, qual vestir de pele dum recém-nascido, o impacto era violento, abissal: tudo fugia às regras, no comer e no rir, tudo parecia áspera terra, longe das linhas delineadas num qualquer gabinete avesso à luz. Depois, retiradas as névoas confessionais, o que nos rodeava - as pedras, as ervas, os rios, os pássaros, a água, as estrelas… - parecia ter uma linguagem própria, irmanada numa linguagem maior, muito maior, plena de harmonia. Tudo parecia saber, sem alardes, o seu exacto lugar. Insinuava-se uma outra configuração, apelava-se a um entendimento em que cada ser tentava construir a sua própria tela, contributo individual para uma interpretação maior.
Mas nem todos. A maioria, escancarando as portas ao medo, tendia a estabelecer limites por tudo e por nada, impregnando a vida de rituais. Era a sua forma de se defenderem do que não entendiam. Nunca tinham saído do cativeiro, era nele que dormiam bem. E assim criaram a normalidade, plena de intolerâncias…
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Havia um tempo, sempre presente, em que as maravilhas estavam fechadas, como se tudo o que de mau acontecesse fosse questão intrínseca. Éramos encorajados a bater no peito, mea culpa, concentrando energias em elevado torpor, na esperança dum qualquer milagre à imagem de santas vidas. Éramos encorajados à redenção, deixando para segundo plano as injustiças do mundo.
As amarras, contudo, apesar da severidade dos guardas, eram ténues perante o apelo natural do que se respirava lá fora.
Um espreitar, um ousar, um pular. No início, qual vestir de pele dum recém-nascido, o impacto era violento, abissal: tudo fugia às regras, no comer e no rir, tudo parecia áspera terra, longe das linhas delineadas num qualquer gabinete avesso à luz. Depois, retiradas as névoas confessionais, o que nos rodeava - as pedras, as ervas, os rios, os pássaros, a água, as estrelas… - parecia ter uma linguagem própria, irmanada numa linguagem maior, muito maior, plena de harmonia. Tudo parecia saber, sem alardes, o seu exacto lugar. Insinuava-se uma outra configuração, apelava-se a um entendimento em que cada ser tentava construir a sua própria tela, contributo individual para uma interpretação maior.
Mas nem todos. A maioria, escancarando as portas ao medo, tendia a estabelecer limites por tudo e por nada, impregnando a vida de rituais. Era a sua forma de se defenderem do que não entendiam. Nunca tinham saído do cativeiro, era nele que dormiam bem. E assim criaram a normalidade, plena de intolerâncias…
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Havia um tempo, sempre presente, em que as maravilhas estavam fechadas...
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