sábado, 23 de março de 2013

TEIA DE FRÁGEIS EQUILÍBRIOS

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Imagem do Google
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Já fora verme, gente, flor.
Os últimos resistentes iam descendo, a pouco e pouco, as veredas que conduziam ao vale. Ele subia. Lá longe, na imponente montanha de delicados equilíbrios, queria acompanhar o voo da águia. Era ali que se forjava, sem impermeável, o destino de cada gota de água.
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sábado, 16 de março de 2013

ESGAR POÉTICO EM LOAS DE COTOVIA

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Margarida Cepêda, A Criação de Eva
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Chegavas, à tardinha, quando as cotovias subiam mais alto, em busca do sol, procurando o perpetuar dos dias em loas de desespero. A luz, cativa do movimento ancestral, limitava-se a sorrir, derramando os últimos acordes em efémera eternidade.
Vestias-lhe a pele, naquele mágico instante de mudança, e iniciavas a encenação das mil e uma noites de qualquer anseio. As cigarras faziam-te reverência, e até o rumor das águas parava, assombrado, com o entoar da tua melodia.
Quando chegavas, à tardinha, e as cotovias insistiam em subir mais alto, cada canto era o prenúncio da transfiguração da noite.
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quarta-feira, 6 de março de 2013

ESCONJUROS EM TONS DE VERDE

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Hélio Cunha, A Estação dos Pássaros
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Avesso a conjuras e maus presságios, o ressoar da madeira ecoava pelo vale, entoando cantilenas de pássaros em construção.
Sentias-me habitado, emaranhado em equações de verdes desígnios, e subias ao alto da colina para me trazeres novas do horizonte.
Oferecias-mas ao serão, imbuída de cores, retribuía com relatos da arquitectura das aves. Já os sabias, já a sentias. Nessas horas éramos crentes, o ritual apenas acentuava o brilho das palavras primordiais.
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