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Fotografias (com um intervalo de 2 minutos) de AC
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Volvido o equinócio, e já com a maioria dos frutos recolhidos, a natureza começa a recolher-se, num porto de abrigo muito próprio, arrastando nesse movimento tudo o que a envolve. O sol inclina-se, os animais recolhem-se, as sementes resguardam-se, e os solos, descansando, começam a revigorar.
Há, no entanto, uma panóplia de vida a emergir, quase em contramão, qual serviço mínimo para manter tudo em funcionamento: aves, como os tordos, que se vêm resguardar, mais a sul, da inclemência do frio setentrional, árvores que prometem frutos, como o diospireiro e a laranjeira, ou que simplesmente florescem, como a nespereira. E, enquanto nos vamos preparando para a estação fria, os milagres da vida, assim os queiramos observar, continuam a estar presentes, qual fio condutor duma vida aparentemente irregular, mas plena.
Por aqui, no meu pequeno paraíso, a passarada continua a debicar nos figos pingo de mel, dando corpo à expressão "chamou-lhe um figo". Mas, em amena convivência, e tal a abundância, sempre vou colhendo alguns para provar e, essencialmente, para fazer compota. É quanto me basta.
As amendoeiras já entregaram a carta a Garcia, mas os dois castanheiros que por aqui há ainda estão à espera de melhores dias - já não falta muito - para proporcionarem a sua oferenda. Até lá, e sem preocupações de maior, vou recolhendo os frutos dos tomateiros, que continuam a produzir, enquanto vou gerindo, conforme as necessidades, a colheita do alho francês, dos lombardos e da couve galega. As abóboras, já quase totalmente alaranjadas, começam a ficar no ponto, tal como as malaguetas, dum rubro tentador. As alfaces, duma maturação mais fácil, continuam a replantar-se, e sempre de satisfação plena. O feijão e as curgetes já lá vão, enquanto um ou ou outro pimento ainda se esforça por despontar. Olhando para o céu, bandos de garças começam a movimentar-se, em forma de >, como que a querer reconfigurar algo. Elas lá sabem.
Ontem, ao fim da tarde, e como os pequenos milagres, por aqui, estão sempre presentes, o sol resolveu presentear-me com um festival de cor, pleno de mensagens de copo meio cheio. Olhei, absorvi, registei, agradeci. E a conclusão surge, de forma natural: a vida, por maiores que sejam as dificuldades, e por mais que a queiram pintar de negras cores, continua a ser grata. Assim a queiramos ver e abraçar.
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