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Chegou ao cume do pequeno outeiro e parou, deixando-se invadir pela sinfonia de cores e aromas. Era uma zona xistosa, propícia a estevas e giestas, com o rosmaninho, aqui e ali, a impor a sua presença, amaciando o ar mais agreste das suas vizinhas.
À medida que descia a encosta sentia que, naquele ermo, tudo parecia ter o tempo certo. A passarada era abundante, mas esquiva, como que a estranhar a visita. Sorriu. Apesar de se integrar, de imediato, naquela corrente de energia, ainda não fazia parte da paisagem. Tinha tempo.
Mais abaixo corria a ribeira, ladeada de salgueiros, com água suficiente para aliviar as agruras do pó do caminho. Uma lontra, curiosa, levantou o olhar, mas depressa se enfiou na sua toca. Um estranho é um estranho, seja em que recanto for.
Quando chegou junto da velha casa, rodeada de silvas, viu que havia ali muito que fazer. A marca dos antigos habitantes há muito que se escondera, escorraçada por políticas de gabinete sem qualquer nexo. Ainda se viam assomar, no meio da alta vegetação, meia dúzia de árvores de fruto de tronco já carcomido, memórias de outras eras, mas pouco mais parecia indiciar, à primeira vista, que por ali já houvera uma fértil quinta, que respirara azáfama ao ritmo das estações. Isso fora há muito, num tempo em que aprendera como ninguém a descobrir ninhos de pintassilgo. Entretanto outros ritmos se impuseram.
Aproximou-se dum enorme bloco de granito e elegeu o seu reduto para primeiro poiso. Limpou a área circundante e, com vagar, começou a montar a tenda. A seguir foi explorar o local. À medida que avançava foi reconhecendo uma parede aqui, uma rocha ali. E às tantas, quase sem se dar conta e com a ansiedade de permeio, viu-se a procurar vestígios de antigos recantos.
O fim da tarde aproximava-se. Sentou-se no bloco de granito e olhou em volta, pensativo, enquanto roía uma maçã. Tinha uma semana para preparar o local para a chegada dos outros. Viriam munidos de ferramentas e sementes, risos e esperança. Talvez reencontrassem ali o seu lugar.
À medida que descia a encosta sentia que, naquele ermo, tudo parecia ter o tempo certo. A passarada era abundante, mas esquiva, como que a estranhar a visita. Sorriu. Apesar de se integrar, de imediato, naquela corrente de energia, ainda não fazia parte da paisagem. Tinha tempo.
Mais abaixo corria a ribeira, ladeada de salgueiros, com água suficiente para aliviar as agruras do pó do caminho. Uma lontra, curiosa, levantou o olhar, mas depressa se enfiou na sua toca. Um estranho é um estranho, seja em que recanto for.
Quando chegou junto da velha casa, rodeada de silvas, viu que havia ali muito que fazer. A marca dos antigos habitantes há muito que se escondera, escorraçada por políticas de gabinete sem qualquer nexo. Ainda se viam assomar, no meio da alta vegetação, meia dúzia de árvores de fruto de tronco já carcomido, memórias de outras eras, mas pouco mais parecia indiciar, à primeira vista, que por ali já houvera uma fértil quinta, que respirara azáfama ao ritmo das estações. Isso fora há muito, num tempo em que aprendera como ninguém a descobrir ninhos de pintassilgo. Entretanto outros ritmos se impuseram.
Aproximou-se dum enorme bloco de granito e elegeu o seu reduto para primeiro poiso. Limpou a área circundante e, com vagar, começou a montar a tenda. A seguir foi explorar o local. À medida que avançava foi reconhecendo uma parede aqui, uma rocha ali. E às tantas, quase sem se dar conta e com a ansiedade de permeio, viu-se a procurar vestígios de antigos recantos.
O fim da tarde aproximava-se. Sentou-se no bloco de granito e olhou em volta, pensativo, enquanto roía uma maçã. Tinha uma semana para preparar o local para a chegada dos outros. Viriam munidos de ferramentas e sementes, risos e esperança. Talvez reencontrassem ali o seu lugar.
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Maravilhoso texto, AC.
ResponderEliminarVocê escreveria romances, fácil, fácil, como quem caminha na juventude, quase a dançar. Isso se já não os escreve.
Abraço.
Gilson.
Engraçado! tb estou roendo uam maçã!
ResponderEliminarvai uam trinca?
kis :=)
Lindíssimo texto, imaginação incrível!
ResponderEliminarAbraços e ótimo final de semana!
Mariangela
Haverá sempre um reencontro de cores e aromas quando se está em paz....
ResponderEliminarObrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Uma mão aberta
ResponderEliminarde terra
daquela
que se ama e lembra
Um punhado de
gente
que se espera
E um vontade que se tem...
Resultará o sonho?
Não sei...
(um texto que me comove)
procuro o meu lugar há tantas épocas que acho que o tempo até já se esqueceu de mim... :)
ResponderEliminartexto maravilhoso!!!
também a imagem merece uma palavra, que a minha é pobre para tamanha mensagem
ResponderEliminara VIDA na palma da mão!
que coisa linda
Parei na foto, essa que tanto encanta a nós, especialmente as romí.
ResponderEliminarVestígios de alguem que já está prestes a encontrar uma bifucação. A roda da vida AC, não tem como escapar dela.
Sigamos confiantes nos novos ventos.
um beijo e um abraço,,
há, e uma cesta de maças.
romí zerafim
Faço uso das palavras do anonimo acima, realmente não encontro um lugar. E este seu regresso me fez olhar para o horizonte e suspirar.
ResponderEliminarbjs carissimo tenhas um belo final de semana.
reencontrar-se seja onde for que haja um significado latente da existência que floriu,
ResponderEliminarabraço
Não queria terminar a leitura viajei nesse lindo texto !Parabéns amigo AC que lindo!
ResponderEliminarCADA VEZ QUE LEIO POR AQUI ME ENCANTO
BEIJO
Um contador de hisórias nato! parabens por mais este conto encantadaor.Abraços.
ResponderEliminarEspetacular teu texto..Lindo e me fez muito bem!! abração,chica
ResponderEliminarCaro Ac,al sabato aspetto le tue parole misteriose perchè il traduttore è "misterioso".Ma il senso arriva.
ResponderEliminarSarebbe da fare in tanti luoghi di questa nostra Bella Terra il tuo Ritorno!Con semi e risate e una nuova mela da mordere per ciascuno di noi!
Un abbraccio,Rita.
Lindo demais!!!
ResponderEliminarUm novo recomeçar onde a esperança se encontra na palma da mão. Sempre brilhante a escrever.
ResponderEliminarBom restinho de sabado e um excelente domingo.
Beijinhos
Maria
Tão bonito e sereno... a espera e a reconstrução quando se destinam aos outros, o sabor é um deleite.
ResponderEliminarParabéns, AC!
Bom o sabor do regresso.
ResponderEliminarUm grande bj querido amigo
A sensação é a de estar presenciando a cena, feito fosse num filme. E aqui me posto a esperar a chegada dos outros, com suas sementes e sorrisos, prontos para colherem frutos e alegria.
ResponderEliminarBeijos, meu caro A.C.
Ac ,saudades dos seus contos por isso passei por aqui.bjs
ResponderEliminarBusquei meu banquinho e aqui sentei. Quero esperar com ele os outros. Quero ver que chão trazem, que paredes vão erguer.
ResponderEliminarEsse post não é um só. Ele é um começo, não é?
beijoss :)
Todos os regressos trazem à tona lembranças... Beijos.
ResponderEliminarPreparar o terreno para os outros... alisar, limpar alindar!
ResponderEliminarTemos que ser sempre uns para os outros e se lhes pudermos facilitar a vida... melhor!
Um abraço,
Texto inebriante, AC! O regresso a alguma coisa que já se foi pode assustar inicialmente, mas é tb um encontro íntimo com todas as possibilidades do viver.
ResponderEliminarbj imenso
Amigo AC,
ResponderEliminarO conto está uma pintura.
A exímia narrativa, a linguagem colorida, a descrição singular tornam a ambientação em um paraíso.
Regresso é sempre um recomeço, por isso laborioso e carente de readaptação.
As "Políticas de gabinetes" são sempre um estorvo para nossas vidas.
Parabéns pela maestria!
Abraços e ótimo fim de semana para ti e família!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarUma belíssima narrativa! Bem escrita e muito apelativa... quase participamos in loco!
ResponderEliminarRegressar é recomeçar... e coisa tão deliciosa, o 'roer a maçã' fruindo da paisagem.
A metáfora implícita na imagem. Muito bonita!
você leva a gente pelo cheiro de terra e de nostalgia... linda prosa, AC.
ResponderEliminarbeijos!!
Um belo regresso com perfume de vida,,,de estrada percorrida,,,de sentimentos jogados pela trilha,,,e uma nostalgia guardada no peito...abraços de boa semana pra ti amigo...
ResponderEliminarTodo começo é um eterno recomeço...assim acontece com as famílias e com as nações.Linda descrição da vida sendo traçada.
ResponderEliminarUm abraço
AC
ResponderEliminarExistirá sempre um reencontro de coisas belas,poderá demorar, mas exite.
A beleza da foto tirou-me a respiração por momentos.
Boa semana meu amigo.
Beijinho e uma flor
... O azul subirá à flor do dia
ResponderEliminare, rio, voltarás a correr soletrando no poema,
sílaba a sílaba, regressos à nascente.
Fonte inalterável onde sempre te encontrarás.
L.B.
Um beijo
Olá AC, excelente descrição deste "mundo virtual"... em que cada pássaro contribui com o seu colorido, para a conjugação desta imensa tela de aromas e cores. Por aqui, sinto o agradável aroma do rosmaninho e, atrevo-me a plantar um sorriso de satisfação pela linda paisagem que vejo na palma da sua da mão... o " vizinho esmerou-se... parabéns pelas belas metáforas :) Um grande beijinho... é sempre um gosto respirar estes ares!
ResponderEliminarPuxa AC, agora você saltou do computador para a sala da Maylê, quase deu pra sentir o gosto maça e a brisa que passava.
ResponderEliminarParabéns, ficamos felizes, estamos reunidas hoje e acabamos por ler em voz alta.
bjs nossos
Bonito! Sinto a magia e a paz do lugar.
ResponderEliminarMais palavras para quê?
Bjs
e quando os outros chegarem, escreva AC
ResponderEliminara procura dos pintassilgos e faça a história desse lugar escolhido
às vezes dá vontade de continuar, a ler
um abraço
Bom!
ResponderEliminarOlá, AC!
ResponderEliminarA infância revisitada, ou o constatar triste de como este Portugal interior mudou tanto; como definhou e vai definhando por obra e (des)graça de mentes "inteligentes" que não o consideram como parte do território...
Muito bem relatado o encontro com esse tempo passado, e que esperemos volte a ser presente.
Abraço amigo
Vitor
Parabéns AC!
ResponderEliminarConseguiu que todos esperem juntos, pelos "outros"!
Um beijo
Sónia
Uma semana de paz e poesias pra ti meu amigo...abraços fraternos.
ResponderEliminarPela sua descrição do lugar, eu juro que já lá estive. Belo sítio!
ResponderEliminarUm beijo, AC,
da Lúcia
Adorável AC...viajei em cada recanto que suas palavras me levaram...
ResponderEliminarBoa semana amigo, beijos,
Valéria
Olá meu querido!
ResponderEliminarVim te ler e deixar meu carinho.
E que bom encontrar um lugar pra se acalmar, quando perdido se está.
Beijos
lindo demais A.C!
ResponderEliminarcuida do teu jardim
um beijo
Agora que vi, que show lindo este do Sting! Não? Combinou bem com o Interioridades.
ResponderEliminaroutro beijo
Um bom dia pra ti meu amigo...abraços.
ResponderEliminarO ser humano tem alma inquieta. Constrói, abandona e saudoso, volta... Linda imagem escolhida para esse texto. Um beijo, AC!
ResponderEliminarQuanto melhor o texto, melhor enxergo o cenário. E eis-me aqui a conseguir tocar-lhe com a mão! Mas, cuidado, "Um estranho é um estranho, seja em que recanto for.!
ResponderEliminarBeijinhos,
Madalena
o Escritor na paisagem...
ResponderEliminarenvolvente texto. no ritmo certo. e na palavra.
abraço
Querido Poeta
ResponderEliminarFoi tão bem descrito que quase me senti lá...nesse lugar mágico da natureza...adorei como sempre.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Que poesia linda emforma de narrativa romanceada.
ResponderEliminarUm deslumbramento.
Uma descrição perfeita, visualizei tudo!
ResponderEliminarParabéns!
beijinhos
AC você tem uma habilidade com as palavras que encanta! lindo texto!
ResponderEliminardiz-me se encontrares um lugar assim, tão perfeito como o que descreveste...
ResponderEliminarbeijinho
O Éden nosso de cada vida... Lindo!
ResponderEliminarNossa muita novidade poe aqui, voltarei com mais tempo pra ler ecomentar...
ResponderEliminarsdds amigo
Su
Um texto poético que se le com o maior agrado do mundo.
ResponderEliminarAbraço
Graça
Seus escritos sempre mostram uma grande espiritualidade, uma navegação além, viagens.
ResponderEliminarGrande Beijo!
Viajo em suas palavras e também para para descansar sentindo o cheiro do campo ao redor...Adoro vir aqui.
ResponderEliminarAbração.
Há uma linguagem própria nestes regressos.
ResponderEliminarA cada passo, à medida em que se desbravam silvas e se sorvem os aromas, a cadência lenta da vida em redor, aconchega-se na alma, como um abraço do tempo. Um outro tempo recuperado que, muito muito embora nunca tenha deixado de nos pertencer, quase permitimos que morra, não fosse a emoção necessária e urgente de o procurarmos do outro lado do abandono.
É sempre tão agradável encontrar no que lemos, as emoções que conhecemos...
Obrigada!
Um beijinho ;)
Aqui temos mais uma prosa das boas! Passadinha breve devido ao atraso forçado...
ResponderEliminarAbraços.
"E a cadência das coisas
ResponderEliminarVai muito para além de nós..."
Prosa-poética que adorei!
Maria luísa
Encontrarei tempo para vir ler-te...:))) queria retribuir o abraço e acrescentar que o sentimento é recíproco!:))) "Bué"__gostei!:)))
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