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Ela não andava bem. Ainda se tocou a rebate, mas as raízes do tumor mamário já eram demasiado fortes. E a Pretinha acabou por se
apagar.
Hoje, logo pela manhã, a enxada exercia o seu mister, compassada, activando memórias que, por
si, se auto-seleccionavam na complexa combustão da razão com a emoção. A cova
ia-se aprofundando, mas a facilidade inicial fora sol de pouca dura. O terreno,
fiel à filosofia dum Inverno nada pluvioso, recusava-se à ideia de fundo, e estoicava-se numa coriácea resistência. É que os equilíbrios não se manuseiam de acordo com a vontade do esforçado aprendiz, são matéria sensível avessa a qualquer
atalho de circunstância. Mas a causa era forte, e insistir era necessário. Por
mais que doesse.
O tempo decorria, indiferente ao drama da relação da enxada
com o terreno duro, e apenas uns baldes de água iam apaziguando a
convivência da (im)possibilidade das coisas. As memórias, ainda em carne viva,
alimentavam a convicção, e a tarefa lá se ia cumprindo. O tempo deixara de existir
no desfilar de imagens da Pretinha, incondicional companheira de tantas horas.
E foram tantas! Não usava turbante, aquela louca schnauzer gigante, mas era
certeira na leitura de alegrias e tristezas, e para qualquer delas
disponibilizava uma ternura única. Sabia seduzir, a Pretinha, socorrendo-se
apenas da naturalidade das coisas. Estou aqui, conta comigo. E estava sempre.
O tocar do telemóvel desvaneceu imagens e emoções. Era da clínica,
onde ela tinha passado a sua última noite de vida, e só nessa altura a ditadura
do tempo se impôs. Desde que a enxada iniciara o seu ritual, o sol já tinha
galgado três horas no seu galopar. Estava na hora de ir buscar a Pretinha. A
terra aguardava-a.
Enquanto a enterrava – não interessa o porquê, mas tinha que
ser eu, mas é duro, muito duro – alguns pensamentos, daqueles que não pedem
autorização para assomar, chegavam-se à frente. Para lá do choro, momento único
de expurgação, a morte, para o observador atento, é
sempre uma tentativa de reconciliação com a vida. Não é ela, em si, uma forma única?
No final, flores silvestres para a Pretinha. Ela gostaria.
..
Isso a gente guarda com a gente, só quem vive esse momento e essa sensação estranha de amor incondicional com um animal, mais humano que muito humano de 2 pernas é quem sabe.
ResponderEliminarFlores para a pretinha e que são Roque e São lázaro a guardem, são os cães que nos ajudam nos momentos da caminhada, aceitam nossos defeitos e comemoram conosco sem se importarem que sejam futéis ou não.
O nosso chamava batuta, era um viralata de rabo cotô, se foi, mas ainda hoje, sinto que está chegando a qualquer momento.
9bjs
Me emociona isso pois lembro da minha quando perdemos após 15 anos. è triste e sentimos mesmo.
ResponderEliminarFica bem! Uma pena, mas ninguém quer vê-los sofrer! abração,chica
Bicho sofrendo é triste demais de se ver, então, mesmo não adiantando como consolo, bom é saber que ela está sem dor, sem sofrimento agora, lá nos céus dos cachorros.
ResponderEliminarE agora permanecem imutáveis e tatuadas as lembranças eternas da pretinha.
Meu abraço solidário, querido A.C.
Beijo!
Fifus, meu bebê schnauzer está doente. Corri com ele hoje cedo para o veterinário. Chora deitadinho aqui a meus pés enquanto se recupera. E eu choro aqui aos seus pela sua perda, que, sim, eu sei, são só cães, mas como são humanos.
ResponderEliminarSinto muito, AC.
De verdade.
Beijosss
Amigo AC,
ResponderEliminarO texto é trágico e comovente, porém belíssimo, como tudo que tu fazes.
Esse bichinhos são, deveras, verdeiros filhos e irmãos quando fazem parte do convívio da família.
Infelizmente, não podemos garantir nem nossa própria vida, apesar de fazer tudo que está em nossos limites para tentar salvá-los.
O texto feito com emoção fica ainda mais belo.
Abraços do amigo de além-mar e ótimo fim de semana para ti e família.
que belo texto de lealdade e emoção AC..
ResponderEliminaros cães são um presente..
deixo aqui meu carinho..
beijos..
Sei como é difícil!
ResponderEliminarUm abraço
Lídia
Partilho a mesma dor...
ResponderEliminarO meu gato Chavez distraído, ao passar a estrada, acabou por ser atropelado. E assim se foi um pedaço de mim, restando as fotografias.
Um grande abraço pois bem sei que, para quem gosta de animais, este é tão necessário.
É com as lágrimas a correrem que estou aqui a tentar escrever não sei o que dizer para te confortar, porque não existem palavras!
ResponderEliminarEsta Pretinha era linda e amada! Sei o que custa, conheço bem esse sofrimento.
Eu não tenho cães, jurei a mim mesma não voltar a ter, tive um rafeiro, que cada dia que meu falecido marido chegava do trabalho ele ia buscar na boca um chinelo do dono (habito que o meu falecido tinha, calçar os chinelos logo que entrava em casa) quando meu marido morreu o nosso cão foi buscar não um, mas os dois chinelos do dono deitou a sua cabecinha em cima deles, deixou de comer e assim teve 45 dias sem largar os chinelos, o veterinário disse que nada havia a fazer, ele estava a sofrer a saudade do dono, morreu após 45 dias, foi enterrado junto com os chinelos que ele não queria largar.
Tenho uma Pretina, mas gata, temos gatos não por opção,mas tudo começou à uns anitos porque alguem deixou aqui 4 muito pequeninos abandonados, como acontece todos os anos nas férias. Eles acabaram por fazerem criação, amamos muito estes amiguinhos, hoje temos 6, mas já tivemos muitos, mas os caçadores mataram-me alguns,outro morreu envenenado, outro atropelado, outro regaram-no com gasolina e atiaram-lhe o fogo, enfim, até existe por aqui quem nos mate os pretos para os comerem, um horror.
Meu amigo desculpa pela extinção.
O meu abraço solidário quero que o sintas AC, sei que é dificil, mas pode ser confortante.
Beijinho e uma flor
Vivi com o autor cada bater da enxada na terra ao ler esta triste, mas não menos bela publicação!
ResponderEliminarNão se poderá substituir a companheira de tantos anos, mas as lembranças são eternas!
Não tenho palavras e fico-me pelo silêncio. As flores florirão.
ResponderEliminarBeijinho.
Tudo o que escreves é lindo, mas este texto, tocou-me profundamente! faz um ano que assisti aos últimos momentos da minha gata de 14 anos...fiz como tu, e mais não digo.
ResponderEliminarBjs
E que em breve outra Pretinha ocupe o lugar e deixe outras belas marcas.
ResponderEliminarUm beijo
Triste quando chega a hora do nosso melhor amigo! Dói demais e custamos a aceitar tal perda. Só o tempo...
ResponderEliminarMeu abraço.
tais
Querido amigo AC, só posso te dizer que também choro contigo pois já passei por essa situação inúmeras vêzes com nossos animais. Cada perda é uma perda que sentimos profundamente. Talvez os adoremos mais que a muitos humanos por serem leais, sinceros, amigos verdadeiros e que não nos cobram nada. Nem o tempo poderá apagar os belos momentos que tiveram juntos. Um grande e carinhoso abraço.
ResponderEliminarque a Pretinha descanse em paz,
ResponderEliminarabraço
ResponderEliminarHá palavras que nunca se sabe dizer...
:(
Um abraço, Ac
A Pretinha vai ficar para sempre na sua memória e no seu coração.o que os animais ,cães e gatos nos dão de estima e solidariedade fazem bem para a nossa alma e o amor mútuo faz sempre valer a pena apesar da saudade.Um abraço
ResponderEliminarPretinha cumpriu seu ciclo na terra, missão cumprida - hora de despedir-se. Como as vezes é difícil se despedir desses seres que nos trazem tanta alegria.
ResponderEliminarbeijos
sempre que chego aqui, sou tocada pela vida. mesmo quando a morte está presente, é a vida que a envolve(e não o contrário).
ResponderEliminar"...a morte, para o observador atento, é sempre uma tentativa de reconciliação com a vida..."
abraço ac e pretinha!
beijo.
Poeta , seu doce e pungente texto me emocionou . Temos na família uma Pretinha ,da raça labrador . Ela , como a sua , entende de nossas alegrias e tristezas .Citando Clarice Lispector : " Ter bicho é uma experiência vital .
ResponderEliminarE a quem não conviveu com um animal falta um certo tipo de intuição do mundo vivo . "
Sinto pela perda .
Aceite meu abraço com carinho
Chorei pela Pretinha e por lembrança de situações idênticas .
ResponderEliminarUm beijo e um abraço , AC ,
Maria
Brilhante o texto, AC, como sempre, e digno do momento. Junto-me a ti no sentimento de perda e, também eu, lanço flores sobre a terra.
ResponderEliminarAbraços.
Gilson.
Sinto pela sua perda, mas lembre-se de quão privilegiado é por ter essas memórias, que o acompanharão para sempre.
ResponderEliminarAbraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
AC,
ResponderEliminaras tuas palavras fizeram-me lembrar o meu fiel amigo Cocas e meus olhos encheram-se de lágrimas. Ainda hoje sonho com ele, e chamo o meu pássaro Einstein pelo seu nome, às vezes é como se ele ainda estivesse aqui. E está...
Quem ama os animais como a si, como os seus aprende que eles ficam sempre em nós...
Beijo
O teu texto é uma ode à Pretinha que com certeza está orgulhosa de semelhante prosa requintada...homenagens destas só a princesas...também eu passei por isso...e chorei quando vi o corpo branco preso pela coleira...hirto...e os olhos abertos...e o azul claro sem vida...ainda hoje me custa!!!
ResponderEliminarBeijo e faz o teu luto!
Senti profundamente cada uma de suas palavras, querido AC. Vivi isso mais de uma vez e posso lhe dizer que foram os seres que mais me amaram na vida. Sem restrições, sem porquês. Um texto lindo e triste, mas a Pretinha partiu feliz pela oportunidade de ter vivido com você.
ResponderEliminarbeijo
"Cães como nós..."
ResponderEliminarcomovente texto.
abraço
Um abracinho de conforto
ResponderEliminarkis :=)
Que triste, mas o que se pode fazer? Superar a tristeza...
ResponderEliminarUm abraço carinhoso para ajudar...
Bjo
Meu querido amigo, AC, sinto muito pela sua perda!
ResponderEliminarEstes nossos amiguinhos de pelos, são tão especiais, que ficam mesmo gravados no nosso coração pra sempre.
Que a Pretinha siga feliz, lá no céu do cachorrinhos...gosto de ter esta sensação de que eles são bem cuidados por lá... ela ficará bem, amigo e você também.
Um abraço, beijo
Valéria
É horrível enterrar um amigo!
ResponderEliminarEste texto foi dos mais belos que te li.
Escrito com sangue, pontuado com dor.
Que descanse em paz a Pretinha!
Lamento este momento doloroso.
ResponderEliminarVoltar a visitá-lo neste dia...
Um beijo AC
Um texto de despedida realmente tocante.A gente estima tanto esses companheiros de 4 patas que é preciso tempo para elaborar a perda deles também.
ResponderEliminarAbraços,
Um texto tocante de despedida.Lamento.A gente estima tanto esses amiguinhos de 4 patas que apenas o tempo para aliviar a falta que eles nos fazem.
ResponderEliminarAbraços,
Que nessa terra cresçam flores (como gaura lindheimeri) e adocem sempre o olhar...
ResponderEliminarUm Xi,
Só de imaginar, dói. E o texto comovente numa libertação de dor, que fica.
ResponderEliminarAbraço solidário
Dói muito perder os que se amam. Seja qual for a espécie!
ResponderEliminarUm abraço.
Sinto muito. Emocionante texto. admiro as pessoas que entendem a vida não só para si mas para todos, pois somos diferentes e sempre iguais, bichos ou gente, pois gente é bicho também.
ResponderEliminarBom final de semana.
Um grande abraço!
AC, «flores silvestres para a Pretinha» fez em Agosto dois anos também perdi a minha amiga Violeta, há três anos que ela me tinha escolhido numa visita ao canil (talvez já viesse doente) custou-me horrores, vê-la acabar-se lentamente mas, é a lei da natureza.
ResponderEliminarAlgum tempo depois, recolhi uma cachorrinha a (Faísca) e espero usufruir da sua companhia por muito tempo!
Um beijinho, amigo! Abraço!
"Flores silvestres para a Pretinha". Sei como dói.
ResponderEliminarBeijos :(
Ah meu amigo!
ResponderEliminarMe fez lembrar da minha velha Pretinha que perdi a tanto tempo!Hoje tenho outra cadelinha!Tive muitas, mas nao no lugar dela!Nunca mais sera a minha primeira: a Pretinha!
E assim termina a vida.Dolorida.Pra tudo e pra todos!
Um abraço solidário e flores para sua Pretinha!
Neste momento só deixo um grande abraço em sua alma.
ResponderEliminarbjs
Francy´s
Meu querido amigo
ResponderEliminarSei como dói ter de se fazer esse gesto.
Também passei por isso com uma gatinha que me acompanhou 13 anos e tive que tomar a decisão de a adormecer, foi terrível.
Deixo um beijinho com carinho e uma flor para a Pretinha.
Sonhadora
Creio que a perda de um animal querido, muitas vezes, o mais fiel amigo, é um ritual de amadurecimento, de compreensão da vida e da morte, do inexorável e da necessidade de prosseguir vivendo. Todos passamos por isso, às vezes muito cedo, outras quando já conseguimos refletir sobre vida e morte, sem chorar, sofrendo por dentro... Abraço fraterno.
ResponderEliminarSenti seu sofrimento, pois esses dias enterrei a minha bassê! saudades dela, abraços
ResponderEliminarPerco o pouco jeito que tenho com as palavras, nestas alturas... Portanto, limito-me a olhar para a imagem e a constatar o óbvio com um adjectivo: Linda!
ResponderEliminar:)
Sei o que é esta dor, mas é a lei da vida.
ResponderEliminarBeijos e flores.
Lamento amigo. Gostava de dizer mais qualquer coisa mas em alturas de perda daqueles que amamos, as palavras não mitigam saudades.
ResponderEliminarUm abraço
Sinto muito meu amigo, sei como dói a perda destes nossos anjinhos sem asas, nosos companheirinhos queridos.
ResponderEliminarPretinha é linda e e onde estiver decerto estará apreciando teu gesto amoroso de ofertar-lhe flores e mais, o teu amor até o fim.
Recebe meu abraço e meu carinho...
Texto tocante. Entendo sua dor. Tbm passei por uma perda dessa natureza, c/meu poodle "Choquito". A doença e a partida deixou a casa triste.. vazia. Vida sacrificada + choro dolorido. Ficaram as boas lembças... Hoje tenho um lhasa apso chamado Charlie. O xodó da casa! =)
ResponderEliminarabço
Meus olhos verteram lágrimas. Imagino o que você sentiu... Beijos, AC!
ResponderEliminarTambém sei como é, entendo cada palavra. Ficam sempre as memórias, boas, claro.
ResponderEliminarTambém deixo flores silvestres, em homenagem a essa amiga e a todos os amigos de quatro patas!
Beijos
Deixo flores silvestres, também para a Pretinha...
ResponderEliminar:( Beijo
a dor da partida de quem nos deu amor.
ResponderEliminaré sempre muito triste.
deixo flores para a Pretinha.
beij
E a saudade fica. As memórias, também. E nelas condensam-se todo o amor que demos e recebemos. Todas as alegrias. Todos os afagos. Todas as horas que, foram nossas e deles.
ResponderEliminarFalo pela tua Pretinha e pela minha Rita, a pequenina Yorkshire que tanta alegria me deu e que partiu, já fez um ano, e ainda hoje choro por ela.
Um abraço solidário neste tempo, sem tempo.