.
.
.
.
.
No vale todos se conheciam, todos identificavam a tosse e o riso uns dos outros. A brandura dos dias fazia-se em diálogos com plantas, trocas de chás e estórias pitorescas, equilíbrios bordados em padrões naturais.
Pedro chegara em Maio, quando os aromas inebriavam, incontrolavelmente, os sentidos. Fora incumbido de instalar um posto médico no vale, de levar luz a uma terra de luz. Chegara com uma mala cheia de sonhos, de tudo transformar, mas depressa percebera que, ali, o sentido da vida tinha outra configuração. Pouco sabiam da ciência dos manuais, é certo, mas pareciam conhecer, desde sempre, o murmúrio das águas e o rumor do vento. E, a pouco e pouco, fora transformando o conteúdo da mala. Já não queria tudo mudar, apenas acrescentar algo ao que lhe parecia a mais genuína fonte de viver. Equilíbrios geram equilíbrios.
Muitos anos se passaram. Quem o enviara instalara-se em torre de marfim, decorada com brinquedos caros, cada vez mais caros. O discurso mudara. Já não se falava em chegar às pessoas, mas sim em custos de infra-estruturas, em custos de manutenção. Nunca no custo dos brinquedos.
O posto médico fechou, mas Pedro não partiu. Divide os dias a ler, a tagarelar, a cuidar da horta, a assistir quem dele precisa. Por esta altura, nos fins de tarde, todos identificam o seu lento caminhar pelas ruas, a absorver os aromas de Maio.
..
sua narrativa é um sonho, sempre tocando anota mais alta
ResponderEliminarbeijos
Ando tentada a ir viver para o mesmo vale do Pedro .
ResponderEliminarUm beijo , AC ,
Maria
Tbm quero cuidar da horta e ler... deixando que os dias passem...
ResponderEliminarO problema são mesmo as torres de marfim.
ResponderEliminarGostei imenso.
Bjs
O Pedro fez a escolha certa.Uma leitura deliciosa, AC.
ResponderEliminarBeijo.
Teu texto não é apenas belo, é uma bandeira de humanidade.
ResponderEliminarUm poema em forma de prosa, com odores de Maio.
Uma prosa com tonalidades poéticas, AC. O equilíbrio será sempre alcançado a partir da natureza.
ResponderEliminar
ResponderEliminarAos poucos, os conteúdos das nossas malas vão ficando mais e mais reduzidos. Mas as torres de marfim cada vez mais altas...
Na minha mala, já só o essencial. Será que haverá por lá uma casinha para mim? É que, gosto deste vale, nu de futilidades!
Beijo
Laura
Um lugar para se viver naturalmente,
ResponderEliminarsentindo o frescor, a paisagem, os cheiros...
Um beijo, AC,
da Lúcia
Esteticamente, muito bom como é habitual. O pendor crítico sobressai neste texto, o que me parece perfeitamente justificado:
ResponderEliminar«O discurso mudara. Já não se falava em chegar às pessoas, mas sim em custos de infra-estruturas, em custos de manutenção. Nunca no custo dos brinquedos.»
Um beijo
difícil encontrar um mundo assim tão natural e isento da influência mercantilista...uma utopia guardada dentro de nosso coração como um paraíso perdido. ..um equilíbrio saudável entre o homem e a natureza.
ResponderEliminarUm abraço
Como´seria bom vivermos na paz desse vale, sem torres de marfim.
ResponderEliminarbom domingo AC
beijinho e uma flor
Os discursos mudaram e mesmo que os Pedros deste País se vão ficando pelos vales cuidando de manter vivos os seus sonhos, na torre de marfim há um outro Pedro que vai roubando todo o brilho do antigo Maio.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Às vezes, você se aborrece
ResponderEliminarPorque ainda sou criancinha
E sempre deixo marcas de dedos
Nos móveis da casa inteirinha.
Mas estou crescendo dia a dia
E logo adulto vou ser
E essas marcas de dedos
Vão todas desaparecer.
Agora deixo uma marca bem especial
Pra você nunca esquecer
Como eram meus dedinhos
Antes de eu crescer.
Agora somos adultos a saudade
que sentimos já é nossa dos nossos
pequeninos já adultos também.
Feliz Dia Das Mães com muito carinho.
Ser mãe de verdade é ser amiga
dos filhos é ser seu porto seguro.
Cabe a nós mães ser exemplo
ser espelho onde nossos filhos possa
contemplar e refletir passado e futuro
com muito amor e fé acima de tudo.
Mãe :fale do amor de Deus para seus filhos
só assim eles terão orgulho de chamar te de (Mãe)
Feliz Dia das mães carinhosamente, Evanir.
Tem mimo na postagem fique a vontade para levar de lembrança.
Quando tiver um tempo entre no endereço abaixo.
https://sites.google.com/site/reflexaoemocao/textos-para-refletir
Essa mensagem não é só minha.
Quando se opta pela essência,o olhar percorre a simplicidade,
ResponderEliminarno cultivo da alegria natural,dos passos serenos de
quem sente a vida...
Maravilhoso ler-te!
Beijo.
deve existir mais Pedros por aí.
ResponderEliminaro pior são as torres de marfim.
muito belo, tudo o que escreves.
um bom fim de semana.
um beijo
Pedro ficou o que é importante. Pena é que os brinquedos falem mais alto que o bem-estar das pessoas.
ResponderEliminarDesertificar, terminar com a longevidade serão o lema de quem olha a números e não a pessoas. Mas será que o país sofre de cegueira?
Beijinho.
Belo , delicado e profundo o que escreve , poeta . Ilumina e comove a cada publicação . Obrigada , sempre. Beijos
ResponderEliminarOs aromas de maio são essenciais!...
ResponderEliminar¸╭•⊰✿¸.
Bom domingo!
Beijinhos.♡ღ
•*✿⊱╮ღ
Pedro não haverá de ser um jardineiro solitário... Muitos deles hão de aparecer e fazer de tantos vales em tantos cantos, lugares mais dignos e cheios de amor.
ResponderEliminarBeijo, querido AC.
O Pedro fez a escolha certa. Ficou no vale. :)
ResponderEliminarSimples, belo.
ResponderEliminarCoisas simples que embelezam a nossa alma, essa a escolha certa.
Beijonhos
Lição de coisas, como diria Drummond de Andrade, se aprende aqui. Quanta simplicidade na melodia dos Aromas de Maio, AC
ResponderEliminarAbraços.
Olá, boa noite!
ResponderEliminarVim pela imagem que descobri num blog e que me encantou. Depois li o teu e lembrei-me de Fernando Namora em " Retalhos da vida de um médico". Gostei.
M. Emília
Mais que apreciar, aprendeu também a exalar!
ResponderEliminarAbraços AC e linda vida!
E haverá algo mais tocante do que inalar os aromas de maio...?
ResponderEliminarBelíssima prosa.
Abraço AC, boa semana
cecilia
Excelente viagem pelo tempo
ResponderEliminaraté ao "levantar do chão"
O mal é esse mesmo muitos de nós temos um sonho igual ao do Pedro, mas depressa ele cai por terra pois as torres de marfim têm muito, muito poder... mais que os nossos sonhos...
ResponderEliminarMaravilha, parabéns!!!
bj
anacosta
Agostinhamigo
ResponderEliminarEstou muito preocupado porque nuca mais vieste à nossa Travessa. E penso que não deves ter recebido o meu imeile em que contava a minha estranha doença. De repente, em minha casa a Raquel foi dar comigo sem falar, sem ouvir, sem me mexer. Naturalmente aflita chamou uma ambulância e levou-me ao Hospital de Santa Maria onde estive ou melhor estivemos pois a minha Raquel esteve sempre junto de mim durante onze horas! Bom, resumindo e concluindo, ali fizeram-me todas as análises ao sangue e à urina, uma TAC, um eletroencefalograma e etc. No final das onze horas, o médico deu-me alta, mas finalmente eles não descobriram qual a causa da maldita doença. Tenho de dizer-te que foi um pesadelo, foi o pior dia da minha vida!!!!!!
Entretanto, e porque nunca mais voltaste à nossa Travessa não descobriste que eu iniciara uma nova secção: ORA AGORA, VIRA em que escrevo contos policiais, com muitos crimes e muito sexo. Creio que esta informação serve para te abrir o apetite e vás lá…
Por outro lado está lá colocado um novo PASSATEMPO/CONCURSO que tem como sempre os prémios das folhinhas indianas com figuras pintadas que talvez já tenhas recebido algumas por teres sido a vencedora de um outro. Se quiseres concorrer… concorre. Muito obrigado
abraços
Henrique
A doçura dos ares de Maio provocam destas coisas. O Pedro será um homem feliz!
ResponderEliminarAbraço e uma doce semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
o caldear das emoções.
ResponderEliminarlentas e suaves. como a seiva...
Textos bonitos para reflectir.
ResponderEliminarFeliz semana.
"... Pedro chegara em Maio, quando os aromas inebriavam, incontrolavelmente, os sentidos." Irretocável, como sempre.
ResponderEliminarO cheiro da vida é surpreendente.
Olá, AC!
ResponderEliminarNo fundo,todos os que moravam lá no vale ficaram a ganhar, começando pelo nosso Pedro - que além de médico também era sábio...
Bonita história, talvez que metáfora destes tempos que correm...?
Um abraço; boa semana.
Vitor
Mas sinto o Pedro solitário. Muito bom conto, infelizmente bem contemporâneo!
ResponderEliminarBeijinhos, bom serão!
Madalena
Olá meu amigo,
ResponderEliminarpassando, lendo, curtindo
a sua interioridade como ninguém
mais sabe levar...
Abraços
Livinha
Ás vezes há aromas assim...penetram na terra e instalam-se!!
ResponderEliminarGostei da escrita magnífica, que nos faz interiorizar cada momento contado e, nos interpela num convite implícito a participar da acção...
saibamos merecer os poucos "Pedros" que existem por aí...
Abraço!
Excelência, forma e conteúdo. Às vezes é preciso regressar às origens... Abraço
ResponderEliminarE há quem resista ao mês de maio? (Ou abril?) Primavera por aí, Outono por aqui, mas a mesma sensação de harmonia (não é mesmo?) que invade a mim e a você - e consequentemente a Pedro! Muito bom! A profundidade das coisas simples. Abraços.
ResponderEliminarExcelente texto, AC.
ResponderEliminarHá uma beleza que nos abraça,
a escorrer de tudo o que escreve.
Beijo :)
No fundo os que moravam lá no vale ficaram a ganhar porque ainda há "Pedros" que valem a pena...
ResponderEliminarBjs
É sempre mágico te ler! Lindo! abração,chica e ótimo fds!
ResponderEliminarFoi muito bom ler este texto, como guardião de um tempo e de um espaço que importa reter sempre...
ResponderEliminarbeijinho
Beijinho? Sou homem, Daniel. :)
EliminarAC
EliminarAs minhas desculpas. Por defeito julgo sempre estar com elementos do sexo feminino, e os poucos blogs masculinos não dão azo de tresler o género, daí os "beijinhos" obviamente julgando ser do sexo masculino.
Abraço
Daniel,
EliminarPior a emenda que o soneto. Não quereria dizer "...daí os "beijinhos" obviamente julgando ser do sexo feminino."? :)
Deixe lá, a boa disposição é sempre bem-vinda.
Abraço
Olhe, amigo, é o que faz deixar sempre beijinhos nos blogs, sendo que são raríssimos os masculinos e, por isso mesmo, por defeito, e salvo se houver um nome e não inicial, tomar o autor por autora...
EliminarMas detenhamo-nos no poema e não nos lapsos...
Um abraço
Texto interessante.
ResponderEliminarSaudações Brasileiras.
Simples e belo...gostei da escolha do Pedro e gostei deste cheiro a maio.
ResponderEliminarbrisas doces.
Pedro toma sua decisão, beijomLisette.
ResponderEliminar