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AC, No meu quintal há laranjas
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Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Não sei que lhes fiz, saíram-me da mão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Não sei que lhes fiz, perdi um sapato.
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Não sei que lhes fiz, fiquei com vergonha.
Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Recriaram a história, viajaram de balão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Sentiram-se nus, no seu melhor fato.
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Choraram na mama, em jeito de ronha.
Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Voaram bem alto, não queriam o chão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Quem faz a comida, se não há nada no prato?
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Perdi-lhes o rasto, que coisa enfadonha.
Choraram na mama, em jeito de ronha.
Havia uma cegonha, um gato e um cão.
Voaram bem alto, não queriam o chão.
Havia um cão, uma cegonha e um gato.
Quem faz a comida, se não há nada no prato?
Havia um gato, um cão e uma cegonha.
Perdi-lhes o rasto, que coisa enfadonha.
Havia um homem, uma cegonha, um gato e um cão.
Só perceberam a história, quando deram a mão.
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E as laranjas, que estão ali a fazer?
Fazem parte da história, mas não vou dizer. *
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* Afinal, vá lá saber-se o porquê, sempre digo. Aparentemente não tinha motivo para o post - raramente tenho, podem crer, antes de me sentar em frente do computador - mas, em período pós-almoço, com o olhar a soltar-se, reparei nas laranjas que cresciam lá fora, em território de suposta liberdade. Fui buscar a máquina, fotografei e, quando me preparava para escrever algo que abrangesse a imagem, as palavras, como que ganhando alforria, desviaram-se para outras paragens, mais consentâneas com um período em que o maravilhoso dita leis: a infância. Talvez, com esta breve explicação, as laranjas já possam sorrir. :)
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E que bem te saiu a cantilena, A.C.
ResponderEliminarSabe tão bem soltar a criança que há em nós! :)
Havia um poeta, que tinha um laranjal
Escreveu com tal alma, com tanta magia
As laranjas choraram, as leitoras pasmaram
E aconteceu esta coisa bela chamada poesia...
Um beijinho. :)
Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, era o título dum vinil dum grupo há muitos anos atrás. Tantos, tantos, que até a Manuela Moura Guedes fazia parte do elenco. :) Agora substitua-se as conquilhas por comentários e todos ficamos a saber ao que viemos.
EliminarAs crianças, tal como dizia o poeta, são o melhor do mundo, Janita. Só é pena que muitas delas, nos tempos que decorrem, e muito por influência dos pais, confundam liberdade com falta de educação. Não são todas, mas fazem-se notar. Mas deixemos isso, voltemo-nos para o que vale a pena: a infância é uma etapa da nossa vida em que o maravilhoso tem uma importância preponderante. É preciso imaginar, fazer de conta, é preciso recriar, adornar, fantasiar, caso contrário a dura realidade pode causar danos incalculáveis no futuro adulto que vai germinando, dia após dia...
Rimaste bem, com alma de criança. É por isso que sempre achei que eras uma pessoa especial.
Um beijinho :)
Belas laranjas, sim. E o jogo de palavras? Pura diversão. Uau! Gostei...
ResponderEliminarObrigado, Marta. É que despertar a diversão numa alma rigorosa, atenta ao mínimo pormenor, que é o que se exige na sua profissão, não deve ser tarefa fácil. :)
EliminarAbraço :)
'Faz de conta...' quantas vezes precisamos dessa fala!
ResponderEliminare seu poema remetendo a infância é puro deleite.
E as laranjas? quantos quintais tem laranjeiras molhadas de chuva?
é um privilégio seu AC.
Amei voltar aqui.
fica o abraço
Lis, que bom senti-la por aqui!
ResponderEliminarO faz de conta é um exercício fundamental para as crianças, mas não só. Quantos de nós, para alicerçar melhor a vida, sentem necessidade de sonhar? É bom alimentar isso nas crianças, é bom preservar isso nos adultos. A vida, com toda a certeza, sorrirá muitas mais vezes.
Abraço :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarÉs um homem poeta mas que nunca deixaste o teu lado de menino em que as coisas mais simples da vida lhe enchem a alma e não tenho mais palavras AC e com ternura e bem comovida, dou-te a mão...posso?
ResponderEliminarBeijos e um bom domingo
Bem, só para dizer que gostaria muito de ter escrito isto (com laranjas) para os meus alunos.
ResponderEliminarDelicioso, simplesmente.
Um bom domingo!
(Compreendo a "soberania" das palavras). Também me acontecem, desse modo, frequentemente.)
Que lindo! De uma doçura admirável!
ResponderEliminarA infância também mora em mim!
Beijo carinhoso, feliz semana!
Quanta versatilidade AC, gostei tanto. E cá para mim, as laranjas vão bem com tudo. Dos meus frutos preferidos :)
ResponderEliminarBoa semana
Há sempre um tesouro em algum lugar da mente e ela nos faz sorrir
ResponderEliminarcomo antigamente.
um abraço
belos improvisos organizados
ResponderEliminarAbraço caro poeta
Havia, uma cegonha, um gato é um cão, que ao domingo na rua comiam laranjas e brincavam ao pião. Agora sim, o cão, o gato, a cegonha e o poeta brincaram tanto que vão dormir a sesta. Desculpe, tive que eliminei o primeiro comentário por motivos óbvios. Abraço.
ResponderEliminarMuito interessante. Me lembrou das histórias de crianças, das lenga-lengas.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
E a infância é um jogo de brincar às escondidas e ser feliz. Adorei.
ResponderEliminarBeijinho AC.
Gostei da lenga-lenga. Gostei das laranjas e de tudo o que elas me podem sugerir. Fizeram-me sede...
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
As tuas laranjas são lindas e as palavras uma maravilha!
ResponderEliminarBoa semana AC.
Beijinho amigo
Adélia
benditas laranjas que deram origem a tão excelente texto.
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
O meu comentário ficou?
ResponderEliminarÉ uma evidência, Pedro. Obrigado. :)
EliminarGosto da sua página, mas meu antivírus bloqueia dizendo que o objeto é um cavalo de troia. Será que mais alguém está com esse problema ao visitar tua página?
ResponderEliminarÉ estranho, há pouco recebi por mail o mesmo aviso, mas o meu anti-vírus diz-me que está tudo bem.
EliminarSerá que algum leitor poderá esclarecer/ajudar?
Como sempre um belo jogo de palavras acompanhado de uma não menos bela foto .
ResponderEliminarUm beijo , AC ,
Maria
Um poema no encantatório das palavras, na expressividade
ResponderEliminardo "faz de conta", uma magia de "olhos de criança" e
porque não dizer, de cada criança que reside em nós.
A poesia na sua essência é uma criança criativa que
que brinca com o imaginário...
Votos de dias felizes, AC!
Beijo.
Ps: Estou sem condições de ser assídua no meu espaço e
nos espaços dos amigos, mas a medida que posso,
visito os espaços para a partilha das artes que
eu tanto aprecio.
No Natal antes pinheiros que eucaliptos
ResponderEliminarAC AC que interessantíssimo poema! A laranja me remete aos leitores que te assistem a peça que produz (seus escritos, prosas, poesia)! E sim me fez rir :), como acredito que todos que te leram! Um abraço meu amigo!
ResponderEliminarpalavras em lengalenga, bem rimadas
ResponderEliminare que fazem ali as laranjas?
pois é, ficaram para laranjada
que até aqui ficou bem original...
:)
Não é mesmo preciso haver um porquê. E vivas à infância e às laranjas.
ResponderEliminarEste seu texto abraçado às laranjas deixou-me com um sorriso de orelha a orelha.
ResponderEliminar(acrescento que as suas laranjas estão bem mais bonitas do que as que por aqui existem na laranjeira, aqui estão todas com ar de quem não foi à praia, muito deslavadas, coitadas :)))
Beijinho, AC .
Caro amigo o jogo saiu perfeito, sem apitos ou bandeirinhas. Esplêndido, cativante, inebriante. E as laranjas vão sempre bem e a escrita também. A história "de manhã ouro... à noite mata"... passou à história.
ResponderEliminarAbraço.
Um texto encantador, e doce... que nos remete para a infância... o nosso período mais sentido... que nos deixa memórias para a vida... e em que a vida se nos apresenta mais doce... faz todo o sentido... que as laranjas sejam uma parte da história...
ResponderEliminarComo sempre... uma leitura deliciosa...
Adorei! Beijinho
Ana