domingo, 23 de julho de 2017

A VOZ DOS (INCONTÁVEIS) SILÊNCIOS

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Muito da essência humana, por mais que brade a diversidade de pretensos pastores, tem a ver com sobrevivência. Ciclicamente vão aparecendo algumas vozes, inconformadas, pugnando por um patamar mais elevado, mas depressa os detentores do poder, apelando à zona de conforto das massas, reagem. Nada mais eloquente, para ilustrarmos essa ideia, que socorrer-nos das palavras do príncipe de Salina, personagem do romance "O Leopardo", de Tomasi di Lampedusa: é preciso que alguma coisa mude, para que tudo fique na mesma.
Na nossa vida somos confrontados, amiudadas vezes, com situações de perfeita mediocridade, em que as instituições exigem obediência cega, por mais míope que seja a sua visão. Bem podem bradar os bem intencionados que uma sociedade só poderá evoluir se os seus membros forem pro-activos, com consciência crítica. Na prática, principalmente nos países mais solarengos, isso só nos manuais. E, desde que haja pão e circo, mais um favorzito aqui e ali, as pessoas facilmente vendem a alma ao diabo. E é vê-lo sorrir, o descarado!
O ser humano é o que é, temperado com demasiada dose de egoísmo, mas com uma parte, por mais recôndita, com necessidade de luz. Há quem diga que certos silêncios são sabedoria, que é preciso saber passar entre os pingos da chuva, mas cá para mim, eterno desassossegado, eles apenas moldam a alma no rastejar da cobardia.
Antes que seja tarde, vai sendo tempo de darmos voz aos nossos silêncios.
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22 comentários:

  1. A nossa Mafaldinha sempre muito à frente do seu tempo ! :))
    É que há sentimentos que nos atormentam verdadeiramente e há que deitá-los cá para fora ! :))

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  2. Nem sempre o silêncio é ouro...
    Talvez o seja para quem precise de psiquiatras.
    Outrora, um ombro amigo servia de consolo e o tempo dava remédio.
    Hoje - cadê os amigos? E o tempo para lamber as feridas?...
    Daí que esta sociedade esteja cada vez mais doente...

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  3. Tanto mais precisamos de luz, quanto maior a escuridão - parece óbvio? Não é...

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  4. Eu tento...

    Mudar o mundo não custa muito, leva é tempo

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  5. Dar voz ao silêncio é mais que urgente. Nem sempre aplicamos a regra. A regra às vezes impede outras expressões. Mas expressa-se quando surge alguma luz que a escuridão por vezes aborda.

    Um beijinho :) !

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  6. Adorei!... "Dar voz ao silêncio"...
    É preciso coragem para cuspir o que nos engasga!

    Boa semana!
    Beijos! =)

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  7. Apetece-me dizer, hoje, num plano não tão abrangente quanto o do texto que, tal como as imagens, há silêncios que falam mais do que mil palavras...

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  8. AC,

    Apreciei muito, a começar pelo título acompanhado da
    tirinha da Mafalda. Com o seu texto excelente reflexivo.
    Existem silêncios que ecoam omissão-passividade. O senso
    crítico numa sociedade é fundamental diante desta calamidade
    de políticos corruptos, aqui no meu País com a situação de
    uma política geral corrupta, com podres poderes,
    o silêncio-omissão é favorecer a eles nesta corrupção
    sistêmica que vem acabando com a minha Pátria...
    Maravilhoso a leitura aqui!
    Beijo.

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  9. Um lindo e bem escrito texto que no seu contexto trás reflexões importantíssima para os dias atuais em que a sociedade conturbadas, se envolve em corrupções e outras coisas erradas e violentas.Amei a postagem. Abraços, tenha uma semana de muita paz. Grata pela visita, ao meu cantinho. Volte sempre.

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  10. Às vezes é preferível calar a voz e dar espaço a esses mesmos silêncios, sobretudo quando começa a haver muito ruído...

    :)

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  11. O mais triste silêncio é aquele que não vê como ou a quem dirigir a sua voz. Em um mundo totalmente regido pela corrupção e violência há um silêncio engasgado, pasmo, inconformado com o que se mostra... Abraços, boa semana.

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  12. " eterno desassossegado, eles apenas moldam a alma no rastejar da cobardia."
    Tão verdade !
    Neste momento , porém , o que mais me agride são os encontrões e o " salve - se quem puder " , dos nossos companheiros de caminhada .

    Concordo que temos que dar voz aos nossos silêncios e prepararmo -nos para a factura que será apresentada , mesmo pelos que deviam fazer coro connosco .

    Um beijo AC , e obrigada por este texto ,
    Maria

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  13. Os meus silêncios ultimamente tenho-os engolido. Estou para aqui embuchada, empanturrada, prestes a explodir...
    Beijinhos AC

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  14. Boa peça para reflexão.
    Biquinho calado, não pisar o risco, ser bem educado (submisso), etc., etc. são expressões que revelam a condição de repressão que ainda enforma a educação e a personalidade dos portugueses. Até parece haver algum condicionamento genético para que assim seja, mas, a política e a religião influenciaram, irremediavelmente (?) toda uma Nação.
    Ou o silêncio ou uma cocofonia inconsequente, é o que temos.
    Abraço.

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  15. A consciência crítica começa a ser uma coisa rara... Precisamos de reagir, dar, como diz "voz aos silêncios". Pergunta muito oportuna, a da Mafaldinha... Um texto de reflexão, que li e reli...
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  16. AC
    assim é, há silêncios demasiado demolidores, outros que não deviam existir, e outros ainda que são plenos de ruído.
    a Mafalda está coberta de razão
    e o seu texto é uma pérola como sempre.
    beijinhos
    :)

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  17. Há silêncios que "nem às paredes se confessam"

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  18. Que texto soberbo!
    Uma crítica a que não me atrevo a juntar qualquer palavra, de tão bem escrita e acutilante que está.
    Resta-me subscrever!
    beijinho

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  19. Um texto belíssimo, que nos faz reflectir... sobre a verdadeira essência de alguns silêncios... há silêncios que dizem tudo... e há silêncios que dão apenas voz à cobardia... pela omissão...
    Mais um trabalho excepcional, AC... que espelha muito bem tantas realidades por esse mundo fora...
    Beijinho
    Ana

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  20. Uma boa reflexão AC. Se um silêncio disse tudo, pode ter certeza que há um olhar por trás, fulminante! Então apenas trocou as palavras por fogo!
    Muito agradecia pelos seus votos, no meu blog, por conta do meu aniversário.
    Um beijo.

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  21. Acho que sou igual a toda a gente, bem melhor nem pior. Às vezes digo o que sinto e penso (em várias areas) E às vezes não me dou bem com isso. Dizer, mostrar o que se pensa/sente pode levar a partilhas, projectos, crescimento, pensamento... mas também já me aconteceu levar-me à solidão (a quem não?)
    Não gosto de guardar silêncios.
    Dou-me mal com o silêncio dos outros.
    Mas até agora nunca me arrependi (pelo menos assim a sério) de dar voz ao que cá por dentro se passa.

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