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Pintura de Barbara Issa Vagnerovà
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Quando Julho atingia a maioridade, num ritual de espera pelos melhores dias, temperado no suor de muitos meses, as colheitas começavam a jorrar alegria pelas ruas, num festim de abundância.
Nesses dias, aproveitando a tolerância, costumavas vir sentar-te, à tardinha, no banco sobranceiro à grande árvore, onde a garotada, deliciosamente ingénua, mostrava habilidades e travessuras, num jeito muito próprio de abraçar a vida. Tranquila, de livro na mão, sorrias do entusiasmo dos outros, mas nunca te atrevias a sair do teu banco.
Um dia, talvez quando o odor das flores de tília mais se insinuava, pedi-te que me falasses do livro. Sorriste – sempre te vi a sorrir - e mostraste-me a capa: As Aventuras de Tom Sawyer. Depois, num gesto delicado, espontâneo, perguntaste-me se o queria ler.
Esse Verão nunca mais foi o mesmo. Eu comecei a ler o livro, tu começaste a acompanhar-me, quase à socapa, na descoberta dos ninhos, do nome dos insectos, a diferenciar o canto das aves, a saber o nome dos peixes que habitavam a ribeira.
De vez em quando ouvia-se o ecoar do teu nome, e tu lá ias. Quase sem nos darmos conta, tu davas corpo, a cada dia que passava, às palavras do livro, enquanto eu, como se me redescobrisse, aprendia a pintar o mundo com novas cores.
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Ele apenas necessitava de uma mão feminina que o guiasse…
ResponderEliminarO que se aprende por entre julhos!
ResponderEliminarUmas vezes respondia "já vou", noutras permanecia em silêncio para não perturbar as abelhas.
Belíssima narrativa, AC. Virginais leituras!
O verão, no Hemisfério Sul, é tempo de sol, praia... As melhores lembranças dos livros ficam para o inverno.
ResponderEliminarBelíssimo texto. Tenha uma ótima semana!
O quadro voltou!
ResponderEliminarE com ele a inocência dos tempos idos!
Julho... verão...livros...a vida acontecendo...
ResponderEliminarEducar é isso AC, e sei bem do que falo porque dar cor e vida às pequenas coisas da vida é uma herança que não tem preço.
ResponderEliminarMas já me apetecia sentar-me num banco e que largassem...mas ter sido pai e mãe e agora avó...é como dizia o meu falecido irmão..."vira o disco e toca o mesmo sobretudo aos mais novos para que sejam gente boa":)))
Beijocas e um bom domingo
PS: Não gostei nada do quadro o que peço desculpa e saio de fininho para que não te zangues comigo
Julho nas primeiras descobertas, no caminho da adolescência.
ResponderEliminarComo sempre um texto prenhe de poesia.
Adorei.
Um abraço e bom domingo
Bom dia ! Vim retribuir sua visita e o comentário que deixou, sempre engrandecendo a postagem. Serás sempre bem vindo ao meu cantinho, volte sempre.
ResponderEliminarAmei o seu post, bem elaborado. Parabéns!
Tenha um domingo feliz e um início de semana na paz, com muita saúde e felicidade. Abraços, Lourdes Duarte.
Deixo os lingues dos meus blogs para quem desejar conhece-los e seguir. Ficarei grata!
https://professoralourdesduarte.blogspot.com.br/
http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/
Acho que o calor e a luz nos tornam desinibidos e fazem nascer em nós uma enorme vontade de viver, partilhar.
ResponderEliminarBeijinhos AC
Oi, AC!
ResponderEliminarE o julho ficou lindo sob essa pintura que escreveste!...
A partir das palavras, o sol cobriu um mês inteiro de história!
Beijos! =)
Boa semana!
O entusiasmo com que li este texto trouxe-me aqui o cheiro das tílias e o Tom Sawyer e o regresso à inocência...
ResponderEliminarUma maravilha!
Boa semana.
Um beijo.
Uma terna simbiose de alguém que vivia aventuras virtuais mas não se atrevia a vivê-las, de facto, e outro alguém mais temerário, mas sem conhecer o assombro da imaginação literária. Assim se fazem estórias felizes, de Verão.
ResponderEliminarAbraço, bom Verão (sem fogos)
Ruthia
que delicia de texto
ResponderEliminarum reviver de memórias e voltar à infância e a Julho
gostei muito...
beijinhos
:)
Adoro tudo o que escreves e me trás sempre um sorriso no rosto te ler. Grata pela presença e sempre lutemos pela preservação da natureza. Beijinho! :)
ResponderEliminarGosto muito dessa tua prosa recheada de poesia.
ResponderEliminarBeijo
AC,
ResponderEliminarA imagem escolhida é belíssima, muito encantadora...
A prosa poética encantadora com uma simbologia a
cada olhar, com a sua própria leitura.
E assim é o caminho da escrita, cada leitor no
caminho dos seus próprios olhos e significados.
Uma semana luminosa!
Beijo.
Ps: Muito grata pela tua presença amiga,com comentários
atenciosos!
Mais um texto, que é uma verdadeira delícia de apreciar... saboreando cada palavra deste Julho, por aqui...
ResponderEliminarParabéns, AC! E por sinal... um post, que me chamou a atenção para um livro, que tenho... algures... não sei onde... e que até foi lido, bastantes vezes... em outros Julhos, já distantes... a ver se o encontro, um dia destes...
Beijinho! Continuação de uma boa semana!
Ana
Sempre gostei desse livro, as aventuras de T. Sawyer
ResponderEliminarPoeta , este belíssimo post me fez reviver o início da adolescência , quando aprendia inglês através das aventuras de Tom Sawyer . A pintura de fundo faz brilhar cada palavra sua . Sempre agradecerei a partilha , bem como , suas visitas ao meu espaço . Beijos
ResponderEliminarLinda postagem que me fez retornar a leitura do livro. Parabéns!
ResponderEliminarAbraços, uma noite abençoada e um amanhecer feliz.
As lembranças ocupam o lado mais luminoso do coração. Por vezes, fazem voar.
ResponderEliminarBj.
Lídia
Não sei exatamente o que (provavelmente tudo) neste texto me convidou a sentar no banco e apreciar a cena, deixar o pensamento vagar alheio ao barulho das crianças. A um tempo onde em julho faz calor, contrariando o que conheço, e a vida grita timbres não ouvidos nesta época.
ResponderEliminarBelíssimo texto!
ResponderEliminarO livro é maravilhoso e, sim, todos, de uma forma ou de outra reinventámos o Tom Sawyer com as nossas ingénuas aventuras.
Beijinho
Uma delícia . . . o texto , a imagem e o livro .
ResponderEliminarBeijinhos , AC ,
Maria
Os livros são texto e pretexto para tudo...
ResponderEliminarDeliciosa narrativa, como sempre.
Bjinho