terça-feira, 23 de março de 2010

O NOME DAS COISAS

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Saltitava nas pedras
Pé ante pé
Para lá do ribeiro
E o canto do melro
Apelo irresistível
Conduzia os anseios
Do pequeno potro
Na descoberta genuína
Da vida em harmonia
Temperada em odores
De giesta e rosmaninho.
Não havia temores
Nas esguias veredas
Que levavam ao pinhal
E o mundo lá longe
Era aqui tão perto
Num fervilhar de vida
Em vão escondida
Em pleno céu aberto.
Sentia a voz da mãe
Inquieta com a cria
Mas os dias eram seguros
Na pacatez do lugar
Num mundo natural
Encostado às montanhas
Em que o nome das coisas
Forjado pelos deuses
Em feitiço profundo
Ainda era o mesmo
Das palavras ditas
No primórdio dos dias
Da criação do mundo.
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10 comentários:

  1. Como num poema tão simples as palavras se transformam em gigantes conteúdos profundos e eloquentes.
    A ruralidade telúrica maravilhosa do "Big Bang" que traz consigo a VIDA.
    Que bem que intrepretas o sentimento da Natureza das coisas.
    Que maravilha de sensibilidade afectuosa!
    Fico muito feliz por poder partilhar contigo esta razão de viver e sentir a simplicidade da vida sem ambição do Ter mas com a aprendizagem diária do Sedr.
    Bem-Hajas pela serenidade que transmites a almas mais ou menos inquietas.
    Abraço
    Caldeira

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  2. Caldeira,
    Fico contente por gostares.
    Um abraço.

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  3. Amigo, tocaste-me com a harmonia das tuas palavras e o teu olhar sobre a naturalidade das coisas.
    Gostei muito!
    Abraço

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  4. A harmonia da vida em plenitude e mais um poema apoteótico sobre a VERDADE autêntica,que a natureza proporciona.Tudo em si é genuinamente puro e poético:

    " E o mundo lá longe
    Era aqui tão perto
    Num fervilhar de vida
    Em vão escondida
    Em pleno céu aberto.

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  5. "E então apeteceu-me também nascer,
    nascer por mim, por minha expressa vontade,
    sem pai nem mãe,
    sem preparação de amor,
    sem beijos nem carícias de ninguém,
    só, só e só por minha livre vontade.
    (...)
    E pronto. Eis-me nascido. Cheio de sede e fome.
    António é o meu nome." (António Gedeão)

    Às vezes, há que desaprender e reencontrar a naturalidade do ser e da vida.

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  6. Jorge,
    Ainda bem que toquei a tua alma alentejana de horizontes largos.
    Um abraço.

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  7. Ibel,
    Às vezes a harmonia das coisas está mesmo ao nosso lado, mas os nossos olhos apressados não a vêem. Temos que reservar mais tempo para nós, olhar mais à nossa volta.

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  8. E.A.,
    Os seus comentários são sempre interessantes, com um olhar questionador e de procura. Confie no seu olhar e na sua alma.

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  9. Ao espreitar no “ninho” do Interioridades, saltitei ao ritmo de cada verso, palavra a palavra, e deparei-me com coisas(extraordinárias!) que não têm nome.
    Tomei a liberdade de ouvir "o canto do melro para lá do ribeiro" e descobri que...

    O nome das coisas
    Que não têm nome,
    São simplicidades do ninho
    Que ganham dimensão
    No aconchego da mãe
    Sempre que abre o coração…

    O nome das coisas
    Que não têm nome,
    São riscos apetecidos
    Que perdem na escuridão
    o lugar sabido
    de um voo cativo
    na palma de cada mão.

    O nome das coisas
    Que não têm nome,
    São memórias escondidas
    Que ganham emoção
    No impulso da palavra
    Que tempera a recordação.

    O nome das coisas
    Que não têm nome,
    São sentimentos de um mundo
    Que em pleno céu entreaberto,
    A medo, nos ensina
    Que o mundo lá longe,
    Afinal, nunca esteve tão perto…

    Há coisas que, pela sua grandeza, simplesmente não têm nome!
    Tentar adjectivar a forma como escreves é uma delas.:)

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  10. JB,
    Gostei da tua leitura.
    Deixa-me apenas acrescentar que, para lá da neblina, as coisa têm mesmo nome, perdemos foi o sentido do seu rumo. O que, na prática, significa que esquecemos de onde viemos e não sabemos muito bem para onde caminhamos.

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