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Tela de Margarida Cepêda
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Dúvidas, inquietações, receios. Para quê tentar construir pontes? Para quê escrever? A resposta é dúbia, pouco clara, mas há sempre algo a impelir a gravidade da ampulheta. Talvez seja a desejável incapacidade de abraçar uma verdade feita, talvez seja a necessidade de dizer que tudo estará sempre por dizer. Será um gesto? Um despoletar de palavras? Por mais que diga nunca será o suficiente, o ritmo das coisas exige que não haja paragens. Então, será o quê? O canto dos pássaros? A sinfonia do ciclo lunar? A força das marés? Desses nós temos algumas certezas, só não sabemos da inconstância dos homens. E eles, mais que ninguém, obrigam-nos a exercícios do tudo ou nada.
Quando tudo parece à deriva, eis a dependência dum gesto arrebatador, a procura dum sinal de esperança. Quem resiste a este eterno faz de conta?
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Porquê escrever? Só por palavras do meu mestre lhe posso responder (e acho que ele não concordaria tratar-se de um faz de conta):
ResponderEliminar"Escrever é traduzir. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos, para um código convencional de signos - a escrita - e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos transmitir, mas uma sombra, ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem ser intraduzível, por exemplo... a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o rastro de um sonho, que o tempo não apagará por completo."
José Saramago
A pertinência é sempre um desejável contributo.
EliminarGrato, Rogério.
Porquê ou para quê, mantenho o texto. E um abraço
ResponderEliminarPertinente ou não me vieram à mente duas reflexões de Fernando Pessoa:
ResponderEliminar"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade
às estrelas,nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens" (O Eu Profundo)
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"Toda emoção verdadeira é mentira na inteligência, pois não se dá nela.Toda
emoção verdadeira tem portanto uma expressão falsa.Exprimir-se é dizer o que não se sente"
Daí concluo que temos uma necessidade enorme de comunicação pois é uma maneira de tentarmos conhecermos a nós próprios ,fato inglório porque as palavras nunca conseguem explicar o sentimento em toda sua verdade...por isso lançamos pontes.
Um abraço
Guaraciaba, o seu contributo é sempre tido em muita conta. Grato.
Eliminarflor, lua cheia, ciranda, a fotografia de Cepêda é o movimento espiral das interrogações do texto escrito... que bonito!
ResponderEliminarPorque não o consegue evitar. Porque o faz com mestria e não precisa de mais motivos!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
Madalena
Quando o desejo é escrever, não há impedimento algum capaz de parar a inspiração que nos vem da alma.
ResponderEliminarBeijo
AC
ResponderEliminarEscrever nem sequer é para todos. Será talvez para aqueles que com um punhado de palavras , despem a alma de quem lê!
Beijo
Sónia
"O autoconhecimento é o primeiro passo para a salvação"
ResponderEliminarKonrad Lorenz
Mesmo com duvidas, com receios, com interrogações debaixo de um escuro céu, a palavra constrói-se sempre!
ResponderEliminarO medo é o que nós faz viver e não perecer.
Beijo
Se algo nos empurra para a escrita, porque não fazê-lo, independentemente de nos lerem ou não, de gostarem ou não, se o fazemos só porque sim?
ResponderEliminarLava-nos a alma e ensina-nos quem somos.
Boa semana
Saber de nós . Saber com que contamos de nós próprios , faz com que a roda não pare .
ResponderEliminarUm beijo AC ,
Maria
quem resiste, quem há de resistir, quem se furtaria a uma esperança?
ResponderEliminarabraço
O Medo sempre é um inimigo, mais a indecisão pode destruir, um momento muito importante.
ResponderEliminarEsperança deve sempre fazer morada dentro de todos os corações.
Seja sempre bem vindo em meu mundo dos doces.
Abraços de baunilha.
Lua.
Há sempre qualquer coisa para escrever....
ResponderEliminarRenova-se a palavra, divaga-se sobre as dúvidas...
Hoje perde-se, mas amanhã....é sempre um novo dia, um novo olhar, uma outra certeza...
Beijos e abraços
Marta
Há sempre algo que é capaz de nos apaziguar a inquietação...
ResponderEliminarQue lindo texto!
Realmente são infinitas as inquietaçãos, as interrogações... algumas respondidas, novas emergem e assim seguimos a vida. Lindas suas palavras.
ResponderEliminarBeijos e feliz semana querido AC
Valéria
"qdo embarco na viajem interior tenho o poder de escolher e traçar os caminhamos que vou seguir... o que me assusta é desbravar horizontes desconhecidos, e por isto, muitas vezes retrocedo... e volto noutro dia do ponto de partida pra nova aventura...
ResponderEliminarAs minhas marés, quando parecem a deriva, revisam uma universal troca de versos que se misturam na vida. Um faz de conta eterno que encanta as próprias ilusões...
ResponderEliminarBeijos
Olá, AC!
ResponderEliminarHaverá tantas razões para levar alguém a escrever.Mas lá no fundo, sentimento comum a toda a gente, estará sempre a ideia de que se terá algo de importante a dizer...esperando que alguém lhe reconheça essa importância.Se assim não fosse, para quê escrever...?
Abraço amigo.
Vitor
"Há palavras que nos beijam
ResponderEliminarComo se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor
..."
Alexandre O'Neill
É uma questão de perspectiva...:)
Beijinhos
Escrevo para respirar.
ResponderEliminarUm bj querido amigo.
Como resistir ao apelo da vida? Se é na escrita que tu vives e fazes viver.
ResponderEliminarbeijo com carinho e admiração
Quem resiste?
ResponderEliminarO paradigma é que a escrita suprime a inquietude. Será?
Cria novos processos de inquietude. Na dialética constante do que prende ao passado para levar para o futuro, algo se perde no instante.
Belo texto!
AC meu amigo
ResponderEliminarNós andamos mesmos à deriva sem sabermos onde atracar ou mesmo qual ilha onde naufragar, é isto que nos impõem, andarmos sem rumo.
Beijinho e uma flor
a "salvação" é colectiva, ou não é! as palavras são apenas ( e são tanto!) o elo que nos abraça!
ResponderEliminar(como eu "invejo" este texto! sobretudo o último parágrafo)
abraço
É precisamente por isso que escrevo... sem isso, mais à deriva andaria! Bom texto. :) Beijinho
ResponderEliminarA lua cheia é um tempo suave e cheira a perfume de paraísos escritos em nós. Interrogações? Para quê?
ResponderEliminarBeijo!
Querido AC,
ResponderEliminarO escritor/poeta Manoel de Barros diria que "o poeta lambe as palavras e depois se alucina".
Tens a minha admiração.
Beijo,
Inês
Fico a pensar:quem inventou o ponto de interrogação? Ele nos leva a pensar mais do deveríamos?
ResponderEliminarAC!
ResponderEliminarDepois de um loooongo repouso, to voltando aos poucos com o blog, revendo os amigos!
E como é importante ver tua presença verdadeiramente amiga em meu espaço. Seu post como sempre um convite `a reflexão, um presente pra gente!
Bjs e saudd!
Mi
se não existe salvação, resta-nos a invenção
ResponderEliminarbeijos
Já estamos dentro desse faz de conta.
ResponderEliminarMuito bonito!
Grande Beijo!
AC
ResponderEliminarConstruir pontes. Esta mensagem e comparaçoes sobre pontes. acho formidavel!
com amizade e carinho de Monica
E quem me dera saber escrever para realmente poder colocar todas as emoções em papel.
ResponderEliminarNa vida tudo é dual,as palavras as pessoas os instantes e a lua lua nos mostra um pouco esse mistério
ResponderEliminarbjs
AC,
ResponderEliminarMuito interessantes as interrogações que nos deixa. Só não concordo que seja um faz de conta, será antes um grito da alma ou um aflorar de um sentir subconciente, uma espécie de catarse. Será também muito do que diz, para cada um de nós será diferente, mas ficcionado ou não está lá sempre slgo de nós.
Um beijinho grande
Branca
Escrever é uma libertação! Construir pontes, uma aproximação.
ResponderEliminarBons sonhos
Questões imensas, AC e muito pertinentes.
ResponderEliminarBeijinhos.
A incessante procura para saciar a sede...apesar do cansaço se interrogar se vale a pena...já dizia o poeta « tudo vale a pena se a alma não é pequena». A mente e a paixão alimentam-se de gestos «arrebatadores» que tornam mais verdes a esperança.(Por vezes a fonte seca...e as palavras calam-se...de vez em quando passeio-me por aqui sem deixar pegada, mas hoje senti necessidade de um gesto...)o canto dos pássaros neste ciclo lunar continua cada vez mais afinado, movido pela força das marés (e quem resiste a calar-se perante palavras tão plenas de sentimentos?)AC parabéns!Continue com as pontes porque elas perduram no tempo!Bjs vizinho!
ResponderEliminareu não resisto a este eterno faz de conta
ResponderEliminarcomo os ciclos sucedem aos ciclos e na noite em que a lua já não for lua
como é que faremos para nos interrogar
é um receio e uma inquietação
um beijo, AC
Escrever, como libertação d'alma, numa força que nos impele, seja ela qual for, é sempre fascinante.
ResponderEliminarbeijos
cvb
Meu querido Poeta
ResponderEliminarSonhar é preciso...acreditar é urgente.
Como sempre adorei e deixo um beijinho e a minha admiração.
Sonhadora
Eu Preciso de escrever...mesmo que só para mim, mesmo que os peritos digam que tal coisa não existe.
ResponderEliminarPrecioso texto que eleva à meditação.
Bj
Irresistível o belo
ResponderEliminarAo escrever estamos a fazer algo para que as coisas sigam outro ritmo. Sabemos que nada adiantamos? Sabemos porque seria preciso uma multidão para mudar o rumo disto. Sabemos também que o poder do outro lado é enorme e que nos tentará derrubar acabando com os nossos sonhos. Escrevendo estamos a dizer que ainda não nos derrubaram, continuamos a nossa luta. Beijinhos
ResponderEliminarPorque a escrita, sendo um veículo, encerra incontáveis funções. E para quê contrariar o impulso?
ResponderEliminarAbraço e um excelente fim de semana!
Olá, sábio amigo AC!
ResponderEliminarAqui temos um magnífico texto pintado com as mais belas conotações.
A Lua é sempre testemunha de valorosos alumbramentos dos grandes mestres da arte.
Cronos sempre manterá o ritmo da ampulheta independente de nossos anseios.
Parabéns pela maestria!
Abraços do amigo de além-mar.
Tu transmites emoções com a maior facilidade, esse só por si é um grande motivo para escreveres.
ResponderEliminarBjs
Quem dera tivesse engenho e arte para responder às suas perguntas. Cada um terá as suas razões para escrever. Expressar sentimentos, (e o amigo fá-lo na perfeição) pode ser uma delas. Para mim escrever, é sentir que estou viva.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Escrever e mais um ciclo de nosso amadurecimento, beijo Lisette.
ResponderEliminarAC, querido amigo! escrevemos para que possamos acreditar em nós.
ResponderEliminarTexto reflexivo, que ao lê-lo fui criando desdobramento dos sentidos.
LIndo, lindo!
Bj grande
Enquanto houver suspiros, desejos, sentimentos, jamais deixaremos de lado essas inquietações...abraços de bom final de semana.
ResponderEliminarMuitas vezes já me fiz essa pergunta: "para que escrever?"... E ainda não sei a resposta, só sei que gosto, embora tenha visto metamorfosear esse meu gostar. Agora é menos urgente.
ResponderEliminarE gosto, imensamente, desse teu jeito único, sensível, intenso de desenhar lindamente as palavras.
Beijos, querido AC.
lua cheia "é um problema" para quem é sensivel, porque as perguntas invadem a alma e nem sempre temos respostas, para elas.Como disse Cecilia Meirelles "temos face como a lua", ainda bem que são faces passageiras imagine se não fosse Carissimo!
ResponderEliminarUm GRANDE abraço em sua Alma.
PS. a sua sensibilidade me encanta.E espero que continue escrevendo,mesmo que seja perguntas e observações que florecem em sua alma.
Te desejando um bom domingo.Bj
ResponderEliminarÉ como uma febre de alma inquieta, esta necessidade de escrever. Mais do que o desejo de entendimento, é a força de um abraço que se deseja, é uma ponte entre ilhas que se constrói , um afluente em busca de um oceano de humanidade.
ResponderEliminarO faz de conta é, a maior parte das vezes, um mero recurso estilístico.
Um abraço, AC
Não podemos parar ou fazer de conta, querido amigo. A vida é movimento constante. Muito bonito,AC, um beijo!
ResponderEliminarnunca faltem perguntas - estas dúvidas/inquietações... sempre trazendo essas coisas bonitas de se ler. :)
ResponderEliminarBenditas inquietações...se não fossem elas ...que seria da poesia aos olhos dos homens...? Não nasceria...há que traduzir por palavras ...banhar-se nelas e contar essas verdades aos outros ...os que ainda não sabem, os que ainda não descobriram... e o nosso maior prazer é dar de beber a quem sabe verdadeiramente apreciar!!! Beijo grande...:)
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