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Pintura de Carlos dos Reis
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Esbracejara, chafurdara, mas aprendera a nadar naquele lago de lama.
Passava por ilhas, muitas ilhas, todas cercadas de muros, a bradar a sua independência. Evitou-as. Continuou a nadar, contornando as jangadas carcomidas, vestígios de adormecidas ousadias, até chegar à margem pedregosa.
Sentou-se, voltado para aquele mundo em convulsão. Enquanto recobrava o fôlego, ofegante, começou a pensar em pontes. Mas não, não era por aí, os muros apenas cairiam de podres.
Subiu, a custo, a íngreme escadaria, até atingir o exterior. Após curta pausa, começou a contornar a muralha de cor indefinida, procurando uma brecha. A ânsia pouco deixava ver, as paredes pareciam inexpugnáveis.
Parou. Concentrou-se na brisa, na imperceptível ondulação dos musgos, na indecifrável linguagem das pedras, até sentir o que realmente era: um minúsculo ser sem bússola, com uma pequena sacola de memórias a tiracolo.
Voltou, pouco a pouco, as costas à muralha. À sua frente, contornando a erupção do fraguedo, uma floresta com toda a espécie de árvores prolongava-se até à linha do horizonte. Abriu os braços, encheu o peito de ar e sentiu o irresistível apelo.
Enquanto caminhava, lentamente, por entre o arvoredo, imbuindo-se de aromas e cores, intuiu que as andrajosas vestes iam ficando, uma a uma, para trás, até se sentir completamente nu.
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A liberdade que o ar puro, colorido, nos dá.
ResponderEliminarProfundo e imensamente tocante com mensagens fabulosas.
ResponderEliminarBom fim de semana
Que brisa maravilhosa se entrelaçou nos meus cabelos:)
ResponderEliminarFechei os olhos, abri os braços ao ventre da mãe natureza e voei :)))
Que lindo, AC.
Fica um beijinho:)
Lindo demais!
ResponderEliminarSentir-se junto, dentro, ser parte!
Beijo carinhoso!
Oi .A.C. após tantas lutas possamos alcançar a plenitude da libertação e recuperar as cores e os sons bem como os sentimentos deixados para trás em busca de uma ilusão.
ResponderEliminarUm abraço
Caminhando e contornando todas as muralhas que poderão surgir, assim seja!
ResponderEliminarBeijinho AC bom domingo.
A nudez a tão almejada e saborosa nudez .
ResponderEliminarE só assim , se pode abrir plenamente as asas .
"Como se rastejasse a paisagem dos sonhos pelo lado mais escarpado da alma".
ResponderEliminarBelo texto...
Um beijo,
Carregamos serras às costas
ResponderEliminarcomo se fosse possível regressar às origens
ao primeiro grito
Sentiu o que realmente somos, mesmo aqueles que pensam que o não são.
ResponderEliminarBeijinhos, bom domingo!
Embrenha-se no caminho... procura-se, o despojamento é como a cebola que se descasca.
ResponderEliminarBeijinho grato.:))
Finalmente encontrou-se!
ResponderEliminarUma prosa poética soberba AC.
Um beijinho e boa semana
Fê
Poeta , adorei a confissão de fé . Beijos e boa semana
ResponderEliminarDespir a pele, derrubar muros, quebrar pontes, nadar contra a corrente de lama e voltar a olhar. Tudo fica diferente :)
ResponderEliminarUma mensagem espetacular! A imagem está fantástica complementando...
ResponderEliminarBeijo.
Caminhar e ouvir em cada passo o eco do nosso coração... ´:)
ResponderEliminarÉ isso... despir-se de memorias... e com a mente livre e leve... voar para o novo...
ResponderEliminarInterioridades metafóricas onde a Natureza tem o seu desfecho final.
ResponderEliminarGostei muito de ler.
Um abraço
é necessário remover a pele para chegar ao coração...
ResponderEliminargostei muito.
forte abraço
a suavidade da tela, está em comunhão com o texto.
ResponderEliminargostei muito deste despir o que não faz falta e ficar assim como quando se nasce.
essa nudez que todos precisamos e não ousamos.
gostei deveras.
beijo amigo
:)
É quase impossível ser completamente livre. E caminhar à margem pode trazer acima de tudo muita solidão. Mas até certo ponto, até ao aceitável, para quem tem que viver em sociedade, a liberdade vale alguma solidão, algum isolamento. Até porque muitas vezes só nos rodeiam pequenas fogueiras de vaidade.
ResponderEliminarBeijinhos :)
Deixo apenas o meu sorriso, perante a imagem que tão belamente pintou.
ResponderEliminarAbraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
Há os muros naturais - inofensivos; os erguidos pelo Homem - asfixiantes e quase inexpugnáveis; e há os invisíveis - perturbadores e carentes de ação. Nestes devemos assentar o nosso desígnio. E talvez cheguemos aos do Homem...
ResponderEliminarMuito bom, Ac! Parabéns!
Bjo :)