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Sergei Aparin, In memory of my grandfather
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Caminhavam. Não sabiam bem para onde, mas caminhavam. O tempo não se media por instrumentos, era o estômago que ditava leis. O estômago e, acima de tudo, os filhos, mola impulsionadora de todas as intenções, de todos os passos.
De vez em quando, numa pequena pausa, a harmónica saía do bolso, entoando lamentos e anseios. Alheavam-se, por momentos, do mundo, num forjar de forças que não requeria explicação. Era assim, simplesmente, imitando o deambular do sol e da lua.
Quando encontravam alguém, os sentidos ficavam alerta. Andarilhos de muitas paisagens, conhecedores das grandezas e misérias do homem, procuravam, no interlocutor, sinais de abordagem: se era sensível aos outros, se era mesquinho, se olhava de frente. E agiam conforme as circunstâncias.
No regresso, passada a curiosidade das crias, a ordem instalava-se. Cada grão tinha um preço, cada gesto uma intenção. E comiam, gratos. Só quando a harmónica, em acção de graças, saía do bolso, é que os sorrisos se soltavam.
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Maravilha. Regressei às minhas origens. Naquele tempo éramos todos andarilhos. Não seguíamos pelo toque da harmónica, mas pelo som das palavras ditas.
ResponderEliminarA partilha final do pão tinha um sabor como nunca mais encontrei.
Abraço com amizade.
Lindo texto A. C. e bem poético...de uma vida dura pode se extrair doçura quando se tem o sentido da partilha
ResponderEliminare através da canção encontrar a alegria de viver.
Um abraço
Lindo! Celebrar o alimento com alegria e gratidão!
ResponderEliminarFeliz semana!
Um tempo de sobrevivência, os sonhos não tinham lugar mas onde o afecto os mantinha unidos. Muito belo!
ResponderEliminarUm beijinho e boa semana
Fê
Muito bonito , Poeta . De tudo o que me encanta mais é a sua definição : " os filhos , mola impulsionadora de todas as intenções , de todos os passos . "
ResponderEliminarObrigada , sempre . Beijos e boa semana .
uma "vida boa", que não "boa vida"
ResponderEliminartu és um brilhante criador de personagens solares
num humaníssimo registo de sensibilidade
abraço, meu caro amigo
Belíssima palavras para falar de vivências com que muito me identifico.
ResponderEliminarUm beijinho meu Amigo Ac e uma boa semana
Um texto muito bom que me transportou para outros tempos, outras memórias.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Ainda bem que a harmônica existia para que se percebesse a importância do riso.
ResponderEliminarBelo!
A profundidade das tuas palavras tem um percurso
ResponderEliminarde voo tão singular, e, ao mesmo tempo tão íntimo de
cada leitor, como uma grande ciranda de olhares e
afetos que fazem um encandeamento, em cada identificação
dos sentires descritos no teu texto.
Tu és um mestre no encantamento da escrita, AC!...
Sempre grata de ler-te, um privilégio!!
Bj.
Por momentos fui ao Oeste e ouvi Ennio Morricone...
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
a gaita de beiços... tambem...
ResponderEliminarque anunciava a chegada de alguem e de cousas...
ainda há pela serra...
Chegou-me aqui o som da harmónica e eu sorri também... Excelente este texto que descreve momentos em que me reconheço...
ResponderEliminarUm beijo.
Hoje se olha tudo, menos os olhos... Talvez por isso tantos desenganos.
ResponderEliminarÉ sempre um prazer te ler, AC.
Beijo.
É inevitável que um sorriso se solte no final de ler este seu texto. Parece que foi escrito propositadamente para nos arrancar um sorriso. No meu caso arrancou e nem sequer foi necessário fazer muita força.
ResponderEliminarAceite um beijinho, AC. Obrigada também pela tranquilidade que passa nas suas palavras. Isso nos dias que correm e tendo em conta este mundo virtual, é raro :)
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ResponderEliminarParece-nos muita míngua, mas na verdade o povo 'romani'
é nómada por hábitos ancestrais e prezam muito a sua
liberdade e vida em ar puro. Assim, é que são felizes.
Uma descrição impecável, realçando os momentos poéticos
da vida errante...
~~~ Beijinhos, AC. ~~~
Muito bonito e pictórico!
ResponderEliminarBem precisamos de uma harmónica para harmonizar os dias :)
Beijinhos
É bonita esta escrita que fala de outros tempos, mas como me revejo nela...No fundo, todos nós, cada um à sua maneira, caminhamos...cada um com o seu norte e a sua bússola, o seu móbile...Lutamos por um melhor devir...
ResponderEliminarUma escrita com raízes profundas no tema e na qualidade!
beijinhos
Belíssimo
ResponderEliminarna busca de infinitos tangíveis
Às vezes mais vale ir sem rumo.
ResponderEliminarUma bela imagem, a ilustrar um texto tão singelo e tão profundo. De um tempo em que os caminhos de vida eram mais áridos, e se andava um pouco ao sabor da corrente à procura do pão. Mas havia música e sorrisos nas crianças.
ResponderEliminarBelíssimo, AC!
xx
Aqui chamamos de gaita. Sempre curti porque fez parte de minha adolescencia, meus 20 anos, Supertramp... Certa vez, comprei uma excelente e dei à minha filha, mas acabou ficando para mim.
ResponderEliminarBjs
A pintura que escolheu é belíssima.
ResponderEliminarAs palavras procuram a ordem no caos da procura incessante. Estou em sintonia.
Bj. :))
O que te dizer AC? Que me fizeste relembrar tempos idos e bem difíceis e que teimosamente teimam em voltar mas sem quem qualquer harmónica que deixe marcas saudáveis.
ResponderEliminarGosto da pintura que juntas!
Beijos
Um texto que me tocou tão profundamente como o som dessa harmónica, ou gaita de beiços, como o meu primo lhe chamava. Também ele tocava divinamente.
ResponderEliminarTrouxeste até mim um retalho da minha infância, AC.
Também essa tela maravilhosa me lembra a vida nómada, que eu tanto admirava e, secretamente, desejava...
Um beijinho grande, AC. Obrigada!
Que bem descreves o momento mágico em que se pode desligar do real, e simplesmente ser.
ResponderEliminarSão precisos momentos de harmónica
quase que se sente o som da harmónica.
ResponderEliminartempos idos muito bem escritos e recordados.
beijinho
:)
Descreveste bem a vida de meu povo...assim sao os ciganos...
ResponderEliminarTão bonito! Adorei ler.
ResponderEliminarBjs
E talvez este belo texto, escrito com tanta sensibilidade e serenidade, possa servir de metáfora à nossa condição humana - somos seres sempre errantes, andarilhos nesta vida.
ResponderEliminarUm beijinho, AC
Gostava de saber tocar harmónica e fazer parte deste grupo . . .
ResponderEliminarUm beijo , AC , e bom fim de semana ,
Maria
Pura maravilha, de texto... a vida... na sua dureza, doçura e ternura... numa dúzia de linhas... e meia!...
ResponderEliminarAbsolutamente admirável!...
Beijinho!
Ana
"Só quando a harmónica, em acção de graças, saía do bolso, é que os sorrisos se soltavam." - E era mesmo isso! Tenho na memória momentos desses. A música e a dança completavam o cerimonial do alimento. Agora, nem nos damos conta disto.
ResponderEliminarBelíssimo texto a dar conta dos tempos e modo de agir das gentes que não têm um lugar fixo. O relógio dos homens só acarreta escravidão.
Bjo, AC :)
Bem pintado o quadro, caro AC.
ResponderEliminarTodos juntos, a puxar para o mesmo lado, aparentavam ser uma unidade indestrutível de convicção e solidariedade. E resolviam a vida a contento das reais necessidades sem concessões nem submissões.
E, para inveja dos outros, até havia espaço para a harmónica.
Abraço
Olá, AC.
ResponderEliminarBelíssima descrição do que as memórias lhe trazem de gentes de um tempo que não se media por instrumentos e tudo tinha outro peso.
Há tantos mundos no mundo.