.
.
.
AC, Enxertos
..
Em tempo de efemérides, cada vez mais formatadas, deixei para trás, no aconchego da sala, a voz dum cavaleiro da utopia, o eterno Zeca Afonso. O terreno, circundante à casa, esperava por mim, em rotina tecida, aparentemente, em silêncios. Nada mais enganador. Cada planta tinha a sua história, assim houvesse alma para a ouvir. A toda a hora.
Passei pele recanto dos rosmaninhos, que cresce por ali em livre curso, para desconsolo dos meus vizinhos. Para eles todo o terreno deve ser aproveitado. Ver giestas, rosmaninhos e outras plantas silvestres, em espontânea auto-gestão, é completo desperdício. O meu sorriso apenas lhes trava as palavras, não o pensar. Para quê dizer-lhes algo? Habituados que estão a tirar o melhor proveito da terra, jamais conseguirão compreender a minha satisfação na fruição de cores e odores. E, encolhendo os ombros, acabam também por sorrir.
Perto da horta tinha crescido uma cerejeira brava. Este ano, atiçado pela ousadia, atrevi-me a fazer-lhe uns enxertos. Talvez conseguisse, naquele viço quase indomável, encontrar a harmonia adequada para ela se redescobrir com outros enfeites. Ela lá estava, à minha espera. Os enxertos parecem ter conseguido penetrar-lhe no âmago, de tal forma que, já este ano, alguns frutos se anunciam. Olho, respiro, absorvo. Tento ouvir, tento perceber. A cerejeira, outrora brava, parece-me feliz com o seu novo destino.
..
Que beleza de experiência! Também me parece que de brava agora não tem mais nada.Sorri com flores! Linda foto! abração,chica
ResponderEliminarLinda e viçosa, como tudo o que é cuidado com carinho ainda que numa nova dimensão.
ResponderEliminarAbraço AC
Os teus textos têm Alma, têm odores e emoções, AC!
ResponderEliminarLi, e reli o que escreveste e sorri com enlevo. O teu amor a tudo o que vem da Natureza emociona-me e cativa-me.
Tive um tio, irmão da minha Mãe, que era experiente nessa arte dos enxertos. De uma amendoeira enxertada, comi doces ameixas. É a lembrança que tenho, mas não sei como foi aquilo feito! Tu deves saber!!
Seria possível enxertares essa cerejeira brava de outra árvore de fruto qualquer? Aqui no Norte chamam-lhe 'alporgue'. Nem sei se se escreve assim.
Um beijinho, AC! :)
( e sorrindo enlevada, me vou. )
Uma mudança feliz.
ResponderEliminarAdoro flores silvestres e adoro também ver as cerejeiras em flor.
Bom fim de semana
Um abraço
Maria
Que venham os frutos!!!
ResponderEliminarMas haverá melhor voz que a da terra?
ResponderEliminarFeliz de quem sabe cantá-la depois de amá-la!O AC sabe fazê-lo como ninguém!
Eu adoro flores silvestres e árvores também, pois claro!
beijinho
Pelas cores e flores com que se veste, diria que está radiante na sua nova fatiota de festa. Cerejas, uma delícia comidas ali mesmo de baixo da árvore.
ResponderEliminarComo diz a Janita o seu escrever tem cheiro e sabor, tem cor e beleza.
Bom domingo
:)
Fiquei enlevada pelo texto e pelo comentário da Janita!
ResponderEliminar: )
Toda enfeitada de flores... esta linda...
ResponderEliminarÉ tão bela a cerejeira em flor! Neste texto percebe-se toda a emoção de quem sabe olhar e ver...
ResponderEliminarTambém tenho saudades do Zeca.
Um beijo.
Linda a imagem e o texto. Meu pai também sabia fazer excertos, e lá na seca não raras vezes lhe pediam para podar e enxertar árvores.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo.
Lindo dia!!!!!! Beijos
ResponderEliminarHá olhos, e são tantos!, que não sabem ver.
ResponderEliminarMeu pai adorava se aventurar por esse mundo dos enxertos - fazia enxertos em roseiras, que eram sua paixão.
Meu avô materno era apaixonado pelas macieiras e se perdia a fazer criações de macieiras saídas do mundo encantado da botânica ;)
Talvez este ano a sua cerejeira se fique apenas pelas flores, mas, com certeza há-de dar fruto, para além da felicidade que lhe decoram as palavras.
abç amg
Que lindo, Ac! Assim como a cerejeira somos nós... recebendo um "enxerto" de atenção, carinho, quem não amacia e floresce? :)
ResponderEliminarTenho um bonsai cerejeira que adquiri no início do ano e há duas semanas mostrou sua primeira flor... fiquei toda feliz, rsrsrs!
Abraços!
A maioria dos seres humanos sem se perceberem foram formatados como eles bem entenderam e nada como gritar a liberdade do Zeca e deixar crescer e apreciar o que a natureza nos oferece SEM COBRANÇAS DE IMPOSTOS, desculpa sem cobrança do quer que seja e fugindo dessa tal "forma" acho que posso dizer que sou feliz!
ResponderEliminarAs árvores agradecem os enxertos sobretudo as mais velhas, assim como laranjeiras e outras "eiras"...e até eu deixo-me embalar por tal postura e renovo-me todos os dias.
Não gostei nada AC...A-D-O-R-E-I
Um abraço
Respira-se bem, aqui neste recanto!
ResponderEliminarBj.
A felicidade está nas experiências de amor às pessoas ou a uma árvore que retribuem com graça de frutos mesmo sendo bravas.
ResponderEliminarum abraço
Pode parecer-te que a domaste mas, o que ela fez foi aproveitar as tuas mãos para crescer sozinha!
ResponderEliminarViva o 25 de Abril! Viva a Liberdade!
Beijinhos, AC :)
~~~
ResponderEliminarTambém aprecio sentir os aromas da flora típica da região.
Admiro carinhosamente, esse fascínio pelos teus campos,
pelas tuas plantas, pela natureza; grandes inspiradores
de muitos dos belos textos poéticos com que nos mimas.
Já percebi que vais celebrar a efeméride em pensamento,
passeando pelos teus terrenos.
~ Tem um dia muito agradável.
~~~ Beijinho, AC. ~~~
Quando as mudanças são para melhor vale sempre a pena.
ResponderEliminarComo eu sei isso!
Aquele abraço, boa semana
Muito bom! Tudo. Beijinhos :)
ResponderEliminarCoisa poética esta, de amansar uma cerejeira brava.
ResponderEliminarA flor de cerejeira é a flor mais bela e mais perfeita que conheço. A tua fotografia é muito bonita, assim como as palavras com que a casaste.
ResponderEliminarFica um beijo e votos de um bom dia.
Gosto dessa natureza que fala em prosa e habita quem escreve.
ResponderEliminarUm beijo
Penso Abril
ResponderEliminar... e, entretanto, a cerejeira dará belíssimos frutos - já não brava, mas sem deixar de ser bravia! ...
ResponderEliminarabraço, poeta
Renovação! :) Sempre nos faz tão bem!
ResponderEliminarComo compreendo estas almas que se comunicam
ResponderEliminarcom as plantas. Sei o caminho deste diálogo,
Poeta Zen!...rss
A foto belíssima da cerejeira com "personalidade"...
Adoro sempre ler-te.
Beijo.
...e a ler acho que até consigo ver o sorriso e o odor..
ResponderEliminartão belo o texto
beijo
:)
E hoje venho apenas convidá-lo a juntar-se à festa no Sexta.
ResponderEliminarAbraço
«Passei pele recanto dos rosmaninhos, que cresce por ali em livre curso, para desconsolo dos meus vizinhos. Para eles todo o terreno deve ser aproveitado. Ver giestas, rosmaninhos e outras plantas silvestres, em espontânea auto-gestão, é completo desperdício»
ResponderEliminarFiz apenas um copy/paste desta parte porque me parece que este crescer em livre curso é muito bem-vindo, não tem nada a ver com o facto de muita gente deixar o seu quadrado de terreno sem ser limpo, por ali crescem ervas, por ali apenas existe lixo, este crescer selvagem que o AC fala, este faz-nos falta. Embeleza as nossas estradas, os nossos campos. Aliás, existem flores que se querem selvagens, genuínas.
Tenha uma boa noite, AC. Aceite um beijinho :)
Temos que olhar , com olhos de ver , as árvores .
ResponderEliminarElas dão - nos tantas lições . . . além de outras coisas inerentes à sua condição .
Um beijo AC ,
Maria
E esta cerejeira poderia ser uma metáfora para a vida, que vale por si. Um texto muito bonito, como é habitual.
ResponderEliminarUm beijinho,AC :)
Que linda está a sua cerejeira!!! O meu pai também fazia enxertos com sucesso em várias árvores de fruto :)
ResponderEliminarBeijinhos e boa Primavera!
Quem sabe o teu anónimo não precisa que lhe façam um enxerto? A mágoa, o desprezo, a raiva que se sente por alguém vai minando o nosso interior e, quando damos por isso, estamos bravos como a tua cerejeira. Que só queria um pouco de atenção e cuidados para que pudesse ser como ascoutras, com lindas flores e frutinhos vermelhos que fazem a delicia de todos Agora está feliz, não se sente inferior e vai dar os frutos que todos esperam.
ResponderEliminarSabes, só tive duas vezes um anónimo que me ofendeu no Começar de Novo ; não tenho moderação de comentários e continuo sem a ter; deixei o comentário insultuoso publicado e no dia seguinte eliminei-o. Algum tempo depois apareceu um outro e fiz o mesmo e há muito, tv um ano que não aparece. Ignorar é o melhor já que eles querem ser anónimos,
Na terra gostamos que as plantas nasçam e cresçam em liberdade, respeitando todas elas e deixando que cada uma ocupe o espaço que quiser, mas entendo que haja pessoas que queiram aproveitar cada pedacinho para cultivar aquilo que lhe faz falta na mesa. E aqui lembrei-me do quintal da minha mãe lá na aldeia onde nasci e onde vivi ate aos 24 anos; cada pedacinho era ocupado com legumes e verduras necessárias para a nossa mesa; nas beiradas do terreno, havia a erva necessaria para alimentar os coelhos, as ovelhas, etc; flores também as havia e muito cuidadas, mas nos canteiros junto da casa ou em vasos. Não fosse isso e a fome teria batido à nossa porta. Pena que hojeje eu veja nessa mesma aldeia, pessoas que perderam os empregos, estão com problemas e continuam com os belos jardins em frente das casas. Uma hortinha resolveria parte do problema. Amigo, desculpa a minha " dissertações" , mas com o teu belissimo texto, fizeste-me viajar até à minha aldeia e , com saudades rever o nosso belo quintal onde a variedade de verdes era um encanto para quem passava ; tinha muito orgulho nesse quintal, a minha mãe. Beijinhos e um bom fim de semana
Emilia
Uma cerejeira que se deixou domar... adorei o texto!... e admirável a opção da arvorezinha... logo este ano... em que grande parte da produção de cerejas, ficou comprometida... devido às fortes chuvadas do mês de abril...
ResponderEliminarA imagem está incrível!!!! Eu talvez só tivesse eliminado aquele pequenino tronco, em baixo à direita, que é um pouquinho distractivo... não deixando focar totalmente, a nossa atenção, nos troncos floridos!... De resto... lindíssima!
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana
Passei para desejar um bom fim de semana e deixar um abraço
ResponderEliminarMaria
Um texto de grande beleza. Isto acontece diariamente aqui em casa.
ResponderEliminarEnxertos já fiz dois ou três, mas confesso-me inábil nessa arte que outros dominam com mestria.
Uma laranjeira, foi o primeiro. Uma pereira foi a segunda. Está florida. Espero que nos deixe maravilhados com a pêra rosa.
Este ano estou tentado a fazer mais enxertos de borbulha em
pessegueiros.
E deste lado sente-se o aroma a rosmaninho e a orvalho destas manhãs primaveris, com a passarada a aplaudir...! Adoro passear por aqui e sentir toda esta harmonia que só uma alma fresca nos consegue dar. Obrigada e abraços AC.
ResponderEliminarMas de enxertos não precisa a tua escrita, AC!
ResponderEliminarLivra-te de o tentares!
(Gosto tanto destes teus solilóquios!)
Bjo :)
Até a natureza mais bravia se submete às mãos sábias do criador. E do acto cruzado hão-de surgir os mais belos frutos, porque sim. Porque é esse o milagre da (tua) natureza.
ResponderEliminarAbraco.