sábado, 23 de julho de 2022

JOGO DAS ESCONDIDAS - 1

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Margarida Cepêda, Procurando o princípio
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Ela foi ali e não disse, mas quis. A sua mãe, depois de dissertar acerca dos mil e um perigos da vida, deu-lhe um beijo e aconchegou-lhe o lençol.
Ela foi mais além e não disse, mas quis. A sua mãe, em silêncio, nada lhe disse, mas aconchegou-lhe o lençol de forma diferente.
Ela foi para muito longe e, olhando para trás, quase que não queria, mas foi. A sua mãe, qual ocaso da vida, limitou-se a acenar. 
A sua mãe partiu, mas não queria. E ela, sem certezas na vida, passou a mão pelo lençol que ela lhe tinha colocado na mochila. E, talvez tarde de mais, deixou que as barreiras do dique se soltassem e chorou, abundantemente, irrigando o caminho que ela, qual mortal errante, continuava a não descortinar. Mas, rompendo as margens, qual herança de pedra sem musgo, ousou continuar.
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16 comentários:

  1. Rupturas às vezes são necessárias.
    Um grande abraço e um ótimo domingo.

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  2. Triste mas ousadias acontecem......Lindo texto! Ótimo domingo! abraços, chica

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  3. Tantas e tantas vezes só damos valor às coisas, fatos, pessoas, depois de as perdermos. É um fato real, tão verdadeiro.
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    Um domingo feliz
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  4. Deixar os filhos voar porque nas mil incertezas não esquecem e, "rompendo as margens, qual herança de pedra sem musgo, ousou continuar."
    Muito bonito e assertivo como sempre.
    Beijos e um bom domingo

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  5. Pais e mães vivemos sempre nesse ténue equilíbrio entre o querer deixar voar e o querer agarrar e enfiar no ninho. Mas mesmo difícil, é possível.

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  6. A vida... é um sempre a perder... uma grande lição, que convém bem cedo aprender... para pacificarmos tal processo em nós... formatados que estamos a enveredar pelo perfil de vencedores... a quem a vida premiará com sucessivos ganhos... e poucas dores...
    Um belo e tocante texto... com uma situação... que mais cedo ou mais tarde sempre toca a todos, pelas leis da vida... e quando não... significa que fomos nós que nos antecipámos... e deixámos de rolar no caminho...
    Beijinhos! Feliz domingo, AC, e votos de continuação de um óptimo mês de Julho!
    Ana

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  7. Detesto despedidas.
    Fazem mal.
    Boa semana

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  8. A mãe falou, aconchegou, acenou, como só as mães sabem. Ela só entendeu quando a mãe lhe faltou. Tarde? Nunca é tarde para chorar e deixar seguir os sonhos enrodilhados na esperança, mesmo que o vento nos devolva as mágoas... Tão sensível teste texto!
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  9. Muito bem. Gostei bastante!!
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    Não saem os poemas com ousadia...

    Beijos. Votos de uma excelente semana.

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  10. Tocante.
    Tão sensível.
    Vida de mãe é mesmo assim.
    Estar, aconchegar e depois partir.
    Grande parte das vezes só sentem a nossa falta quando já partimos.
    A vida segue.
    Brisas doces *

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  11. Todas as despedidas são dificeis ,algumas
    trazem incluso a tristeza. E as mães sabem bem
    quando o dique se solta em voos altos e a filha só
    saberá quando for mãe.
    Muito inteligente seus textos AC
    _ todos me deixam a refletir _ esse especialmente .
    grande e forte abraço

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  12. O barco continua o seu caminho em busca de novos horizontes Mas fica o Porto Seguro a esperar o novo encontro. Assim vivemos e esperamos...na saudade e na esperança. Lindo o seu texto!
    Um abraço

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  13. Meu querido amigo ... Voltando com muitas saudades. Depois de tantos anos sinto que estou regressando a CASA. Estou abrindo a porta à amizade linda que construímos aqui . Deixo o meu carinho e um beijinho.

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  14. Passando a deixar um beijinho!
    É de coração apertado e nó na garganta que venho acompanhando a zona serrana a arder, quase a perfazer uma semana... e as autoridades impassíveis... sem pedir meios aéreos adicionais, para o que não se consegue combater por meio terrestre. Não dá para entender!
    Saúde para si e todos os seus, AC! Tudo de bom!
    Ana

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