José Pio, Serra da Gardunha
.
.
.
Nas encostas da Gardunha as folhas vão-se despedindo, lentamente, dos carvalhos e dos castanheiros, atapetando os passos em busca da linguagem do silêncio. Piso-as, agora mais expostas que nunca, quase com receio de as magoar na sua dignidade final. Mas tudo parece tranquilo no seu destino, até o ruído do esmagar das folhas aparenta fazer parte da harmonia envolvente, um quase agradecimento pelo acelerar da passagem a matéria orgânica que sustentará outros crescimentos. A grandeza adormecida das penedias da Estrela, mesmo em frente, é testemunha tranquila do equilíbrio das coisas.
A natureza, porém, é livro sempre aberto, lembrando-nos constantemente que tudo é efémero. Não muito longe, a aconselhar prudência, sente-se o fossar dum javali, e a tensão do perigo altera as tonalidades do silêncio. A sensação do todo, aliada da quietude da alma, esvai-se no instinto de sobrevivência, e o bom senso aconselha a retirada.
Do alto de um pinheiro, em nota de epílogo, irrompe a presença dum melro-azul, em canto com sabor a gargalhada.
.
.
.
Acho que a gargalhada foi da estrela!!!
ResponderEliminarum beijo
rromí
Que maravilha! Adorei! Sento contigo toda a emoção! abraços,chica
ResponderEliminarLinda a foto.
ResponderEliminarLindo o texto.
Linda a voz do melro.
a natureza nos encanta e nos faz ver Deus..
ResponderEliminarbeijos querido..
um lindo final de semana..
Como gostei dessa sua Gardunha! E do texto… quase me fez “adorar” o outono… quase! : )
ResponderEliminarAbraço
Esse canto, que pareceu gargalhada, foi o da vida !
ResponderEliminarbelo texto!
:)
AC.
ResponderEliminarBonita esta gargalhada!!! Adorei meu amigo.
Beijo e uma flor
nas penedias
ResponderEliminaronde se pressente o começo do mundo, o eco faz gargalhar o chamamento dos melros
vocalizações com significados diferentes
se lhe tivesse respondido ainda agora lá estaria, à conversa, com o melro-azul
um beijo, AC
manuela
AC, me pus ao teu lado, a te observar nesse momento de contemplação e palavras à natureza.
ResponderEliminarForam sentidas.
Beijo meu
Olá, grande AC!
ResponderEliminarTua obra é sempre de grande erudição.
Os vocábulos são coloridos e melífluos a embelezarem e a darem sabor especial a narrativa.
Cantar a natureza bem assim é privilégio de poucos.
O melro-azul gorjeou ao perceber a presença do poeta.
Estás sempre de parabéns pelo virtuosismo.
Abraços fraternos do amigo dalém mar.
quis sábio pássaro se por em estado de canto e algazarra,
ResponderEliminarabraço
É ele nos lembra que não podemos voar e observar esta livro entre as nuvens de braços abertos.
ResponderEliminarbeijos caríssimo tenha um lindo final de semana
Tudo é efémero, sem dúvida, por isso há que observar e sentir profundamente a beleza da simplicidade que nos rodeia... como um cantar dum melro-azul ou o cair das folhas que já cumpriram a sua missão.
ResponderEliminarAdoro lê-lo.
abraço
oa.s
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarNão sei... talvez o Melro-azul lhe tenha previsto o susto e acertado no seu gesto de se afastar. No fundo, ali, não passava de um intruso... tenho a certeza de que se ria de si. Eu... eu não ri.
ResponderEliminarRiu-se do coachar do sapo que teimava em sonhar ser cantos...Bjos achocolatados
ResponderEliminarpassou a emoção de estar no meio da natureza e saber como é perfeita... obrigada!
ResponderEliminarRosário
Gostei muito deste texto e da fotografia.
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMeu querido Poeta
ResponderEliminarTudo na vida são momentos efémeros que devemos prender e torná-los eternos.
Deixo um beijinho
Sonhadora
E porque não adiantaram a conversa e riram mais um pouco? Olhos de aprendiz, alma de montanha.
ResponderEliminarbjs das 5
Sou uma apaixonada pela natureza AC , daí o motivo de achar lindo sua prosa seus poemas, voce.
ResponderEliminarTambém gostas e dela fala com sabedoria.
obrigada
um bom domingo
AC
ResponderEliminarOs melros sabem da natureza das coisas. Vigiam-nos no folhear do livro e espantam-nos, depositando em nós o eco do seu próprio canto.
Lindíssimo!
Um beijinho
A.C. ,
ResponderEliminarestive lá , apanhando algumas folhas do caminho e deliciando - me com a gargalhada do melro azul .
Obrigada pela viagem .
Um beijo ,
Maria
Respira-se uma paz... inesquecível...sonhadora...
ResponderEliminarLindo...
Beijos e abraços
Marta
Que belo texto, amigo! Senti-me em casa embora a localização geográfica esteja a muitos quilómetros de distância da que aqui é referida. A Natureza prepara-se para o sono profundo, os choupos perdem as folhas e pisá-las dá-me uma sensação triste e quase pecaminosa. Eu sei que elas irão transformar-se em matéria orgânica e "ressuscitarão" mas custa-me espezinhá-las.
ResponderEliminarBem-hajas!
Abraço fraterno
Blue bird? só conheço o melro preto
ResponderEliminarkis :=)
Olá, AC!
ResponderEliminarÉ lindo o Outono, revestido a folhas de tons quentes que nos transmitem beleza e paz de espírito. Gosto muito dela; só é pena que seja precursora do Inverno...
Bonito texto; um abraço.
Vitor
Caro Agostinho,
ResponderEliminarPicasso não pintaria melhor essa paisagem.Julgo conhecer bem a Serra da Gardunha, a biodiversidade, os cogumelos (uns comestíveis, outros não).A sensibilidade, a sua sensibilidade dá um toque de magia, a esse verde acastanhado que o Outono nos proporciona.Fantástico!
Um abraço,
Um perfeito cenário de sentimentos ao olhar...abraços de boa semana pra ti amigo.
ResponderEliminarCenário maravilhoso!
ResponderEliminarSempre me encanta o coração os pensamentos humanos, as palavras em torno da natureza, com inspiração vinda dela, de sabedoria.
Beijos!
Emerge deste texto uma certa dicotomia na relação do homem com a Natureza, naquilo que esse contacto tem de desejo, respeito e sonho. Desejo de encontro com as raízes, com a essência da vida. Mas para além deste aspecto surge um outro que se lhe opõe. Há, na Natureza, um lado oculto e misterioso que se reveste de uma certa ideia de tragicidade muito bem representada por Munch em "O Grito".
ResponderEliminarNão será também o homem, só por si, esse retrato duplo da Natureza: Espanto e Medo?
Um beijo
A natureza é, de fato, um livro sempre aberto...e tu fscinas-m com a tua escrita...fazer-me pecar! Ah, pois que a inveja +e pecado e eu invejo a forma doce e tão bem conseguida como falas da natureza que eu tanto amo...
ResponderEliminarObrigada por me permitires beber caa palavra tua como se minha fosse...
Obrigada por escreveres dessa forma inspirada pela divindade, decerto...
Obrigada, apenas...
BShell
Lindo este texto, dá uma roupagem muito harmoniosa a um outono que nem sempre nos oferece um rosto bonito. Como hoje, olhando lá para fora :)
ResponderEliminarOs ciclos da Natureza deveriam ser os grandes mestres. Mas nós desaprendemos, criamos ciclos demasiado artificiais, que nos vão devorando, sem hipótese de fuga.
Um beijinho e obrigada por este momento.
Porque gargalha o melro? Porque é ele o senhorio da encosta!
ResponderEliminarCaríssimo AC, fabulosa narrativa, como sempre!
Beijinhos e bom domingo!
Madalena
A natureza realmente tem muitas tonalidades para quem quiser estar atento...os seus (des)equilibrios são fonte de novos ciclos!
ResponderEliminartenhamos nós a sabedoria para os desafiar e contemplar!
Bela imagem este texto...e tb com um melro (estamos a pedir Primavera AC? lol)
Agostinhamigo
ResponderEliminarUm melro-azul e a gargalhar só pode ser em Portugal... onde nem sequer um pardal...
Mais um excelente desarrincanço, mais um excelente texto, mais uma excelente ilustração. Vir aqui - creio que ainda to não tinha dito - é um verdadeiro refrigério. Obrigado
Abç
"deixai-me com as coisas fundadas no silêncio"
ResponderEliminar. sophia de mello andresen
um pouco mais de poesia para o já tão
belo e poético espaço ^^
beijos!!
AC,
ResponderEliminarTão bonito o Outono na Gardunha e que feliz por o poder ver da sua janela!
O silêncio em duas partes distintas: numa quietude serena e no perigo que espreita toda a harmonia como se a fuga se imponha e do belo se proteja.
Grata pela beleza do texto. :)
Beijinho.
Ac
ResponderEliminarContemplando a natureza, quase espantado com a "gargalhada" do melro azul, também se cresce... é a força da vida!
Abraço
Quicas
Quase caminhei contigo sobre esse tapete de natural exuberância. Linda a tua descrição. Transformaste em poesia o que para muitos poderia ser um simples passeio.
ResponderEliminarMaravilhoso!
Beijo, AC.
Eterna apenas a certeza da finitude.
ResponderEliminarParadoxo que a gente se atreve a chamar de vida...e gosta.
=)
Um beijo.
Vendo a natureza com olhos de poesia! é um dom precioso.Belo texto.
ResponderEliminarUm abraço
A natureza tem uma magia que contempla os nossos sentidos, a nossa alma.
ResponderEliminarBeijo
Carlota Pires Dacosta
Maravilha! adorei a garagalhada do melro, corri para o quintal incentivando os melros que por ali habitam mas...não tive a tua sorte...
ResponderEliminarBjs
belíssimo texto, com todos os cambiantes e tonalidades de Outono. a que não falta sequer o assobio (desafiador) do melro.
ResponderEliminargostei muito,
abraços
A gargalhada do melro azul nos revela a sabedoria de que a natureza não morre renova-se constantemente ao cumprir a transição , as folhas secas, cedem aquela posição e passam a cumprir a função maior de voltar à terra e fomentar a vida das folhas jovens ...Agora são adubo fértil para a continuidade.Quão profunda foi tua observação comparativa A.C.
ResponderEliminarAbraços.
Muito doce, calmo, e tranquilo seu texto... Parece até que ouvi o barulho das folhas secas serem pisadas...
ResponderEliminarJá não me sinto tão só quando te leio...
Beijos
Ana
Caro AC
ResponderEliminarO outono, para mim, é das estações mais lindas, precisamente pela magia como a descreve tão bem nesse seu texto numa prosa poética belíssima.
O título, 'A gargalhada do melro-azul', adorei-o! :)
Abraço
Olinda
É verdade!Tudo é efémero!
ResponderEliminarBeijos carinhosos!
metáforas sábias, a que há muito nos habituaste.
ResponderEliminarincrivelmente lúcido o raciocínio da Lídia.
vim matar uma saudade.
beijo :)
Meu Deus, amigo, você escreve tão bem, que parece que te leio com os olhos da alma!
ResponderEliminar:)
Lindo, lindo, e lindo!
Passeei por esse caminho e me deslumbrei.
Obrigada por isso.
Tudo de bom pra você.
Hoje por aqui, estamos no feriado da Proclamação da República.
Abraços,
Cid@
Excelente retrato de um local muito belo. A Serra da Estrela, e a sua flora.
ResponderEliminarA natureza é o melhor dos pintores e presenteia-nos com belos quadros, como este que o amigo descreveu com maestria.
Um abraço e muito obrigada pelas visitas lá no meu cantinho.
Que texto bonito e aconchegante!, AC, por alguns
ResponderEliminarinstantes cheguei a entrar nesse livro aberto,
pleno de harmonia e beleza!!!
beijos :)
palavras sábias e ricas para definir a natureza na sua plenitude.
ResponderEliminarcomo sempre um belíssimo texto.
um beij
Quanta sensibilidade! Poesia em prosa e a natureza agradece com o canto do melro-azul.
ResponderEliminarAbraço :)
Um apontamento maravilhoso, não menos que a fotografia que o ilustra.
ResponderEliminarObrigada.
Beijinhos
Ná
Querido AC,
ResponderEliminarAs tuas fascinantes palavras deram à natureza, um esplendor singular.
A imagem da Serra da Gardunha parece uma pintura. É tão linda quanto tudo o que escreves.
Beijos encantados,
Inês
Boa noite poeta...
ResponderEliminarTão sereno e lindo que me fez imaginar e sonhar com a serra da Gardunha.Sempre que passo aqui além do prazer, sinto uma paz interior muito grande.
beijos da Néia do Palavriando
Meu Deus, que texto mais lindo! Você me surpreende, não somente com o que escreve, mas com o carinho de sempre me visitar e deixar sabedorias no meu humilde Blog. Longe de mim está tal fineza de estilo que você já conseguiu, mas escrevi agora um texto que, coincidentemente,também, como o seu, fala de uma ave, o Bem-te-vi. A minha ave traz recordações que descrevo. Gostaria que também visse este. Beijão.
ResponderEliminarLindo canto de Outono, a condizer com a magnífica fotografia! Adoro esses chãos atapetados de que fala e o silêncio e a beleza multicolor das árvores nesta estação.
ResponderEliminarBeijos
Branca
não existe paisagem mais linda que os tapetes de folhas forrando o chão...
ResponderEliminarUm belo dia pra ti meu amigo...abraços fraternos.
ResponderEliminarComposição perfeita!
ResponderEliminarUm beijooO* meu querido amigo
Hola, muchas gracias por comentar en mi blog, sobre todo porque me ha permitido conocer tus escritos. Aunque el idioma es diferente, se parece tanto que no me hace falta ni traducir. Por eso comprendo la maravilla de tus textos, es como una sensación de belleza que se introduce en el alma mientras vas leyendo. Que preciosidad!
ResponderEliminarBesos.
A natureza é sábia, beijo Lisette.
ResponderEliminarDe todas as flores que colhemos nos campos,
ResponderEliminara Amizade é o único sentimento que os ventos podem soprar,
mas, suas pétalas jamais cairão.
Estou com uma infinita saudades.
A partir do dia 25 estarei voltando se Deus quiser.
Farei o possivel para ir fazendo visitas visitas a noite.
Beijos com infinitas saudades.
Evanir
Hoje, depois de 9 horas de trabalho seguidas houve tempo para ir à praia surfar, num sol quente que ninguém diria que estamos no Outuno... ;)
ResponderEliminarMeu amigo
ResponderEliminarVim partilhar...
Fins de Novembro tenho um livro novo de Poesia.
Cantar África
208 paginas
Todas com imagens
Preço 12.50
se quiseres um ou mais diz para eu reservar e envia-me a direcção
É um bom presente de Natal..
beijos
Lindo texto. Bem poético. Adorei a visita. beijo
ResponderEliminarMeu amigo, linda esta sua natureza, e com o remate final perfeito :)
ResponderEliminarImagem linda também.
beijinhos
"A natureza, porém, é livro sempre aberto"...
ResponderEliminare eu acrescento: que neste lugar se lê muito bem.
obrigada pela leitura lá no chão.
um abraço
♡°
ResponderEliminarº✿
º° ♥✿
Olá, amigo!
Se não fosse pelo javali eu também queria passar por esses caminhos e ouvir o melro cantando.
Bom fim de semana!
Beijinhos.
Minas
❤
❣✿
.
ResponderEliminar. de facto . tudo é efémero . porém permanece a supremacia de um olhar . assim descrito .
.
. um abraço .
.
.
brilhante, brilhante, brilhante!
ResponderEliminartantos dos meus sentires enquanto percorria toda a beleza de Manteigas ou Seia. Ai quantas saudades!!!
Abraço.
Tu és esse melro azul...escreves maravilhosamente bem ó encantador de palavras !!!
ResponderEliminarBeijo:)
Uma sinfonia harmônica com um belo canto final.
ResponderEliminarAqui perto de casa há um pedaço de floresta, parecia que estava andando por lá.
Abraços
Agrada-me a tua prosa poética.
ResponderEliminarUm abraço.
Dignidade final? Quem é digno é digno Sempre até ao final. Sem murros nem bejos, apenas com um leve bailado com um sorriso de um adeus...
ResponderEliminarComo é possivel escrever "fossar de um javali" de uma sombra que o acompanha nos ultimos anos? Numa viagem atemporal?E que lhe alimenta o ego, dia após dia...como o refúgio dos seus sentidos? Que está tão longe , mas talvez o perto fosse abismo para ambos...Não terá deixado cicatrizes endógenas a essa e a outras sombras que o seguem...Haja respeito pelas sombras do seu passado, porque isso de escrever bem , não basta! É necessario ter uma Alma elevada e purificada, pois não se reserva apenas a si fazer mal aos outros. Talvez a nuvem 1 tenha tido a função de lhe direccionar o Caminho do Bem e o Respeito por todos os seres humanos com quem vivifica. Mude a atitude seja digno das suas lindas Palavras...