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O velho esperava-o junto da fogueira. Saudou-o, respeitosamente, e aguardou que o mandasse sentar. Quando o ancião lhe fez um leve sinal, clareou a voz e, entre algumas hesitações, acabou por lhe falar da preocupação que sentia com o respirar do mundo.
O olhar do ancião manteve-se inalterável. Dobrou-se um pouco, ajeitou os paus do lume e, tranquilamente, as palavras começaram a brotar.
- Múltiplas facetas tem o vento. Delas todos sabemos, dele se teceram loas e memórias, mas guardou-se o baú a sete chaves.
Fez uma pequena pausa e prosseguiu.
O olhar do ancião manteve-se inalterável. Dobrou-se um pouco, ajeitou os paus do lume e, tranquilamente, as palavras começaram a brotar.
- Múltiplas facetas tem o vento. Delas todos sabemos, dele se teceram loas e memórias, mas guardou-se o baú a sete chaves.
Fez uma pequena pausa e prosseguiu.
- Quando o vento, insinuante, teima em acariciar-nos a pele, a princípio conjecturamos, mas acabamos por nos render. Aparentemente passou a ser nosso, e os afagos, com pouco esforço, parecem não ter limite. Mas, em plena festança, ele surge, rugindo, a cobrar pela lisonja.
Um pau rebelde soltou-se da fogueira numa erupção de fagulhas. O ancião, com gestos tranquilos, colocou-o no lugar. E prosseguiu.
Um pau rebelde soltou-se da fogueira numa erupção de fagulhas. O ancião, com gestos tranquilos, colocou-o no lugar. E prosseguiu.
- A lição de Constantinopla há muito ficou esquecida. Hoje os anjos têm sexo, mas o vento continua sem rosto. E ri-se, à gargalhada, de D. Quixote.
As palavras, pausadas, ecoavam no vale como se dele fizessem parte. O aprendiz, aturdido com o ardor do fumo, esforçava-se por lhes sentir o voo, mas faltava-lhe a abrangência.
.As palavras, pausadas, ecoavam no vale como se dele fizessem parte. O aprendiz, aturdido com o ardor do fumo, esforçava-se por lhes sentir o voo, mas faltava-lhe a abrangência.
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Esse vento... parece gente!
ResponderEliminarO que nunca se sabe do que vem por aí, o que não identifica, o inesperado. Por isto dizer, que sejam abolidas todas as expectativas...
ResponderEliminarUm mar de mistérios, razão por ser tão curioso...
Bom fim de semana AC
Livinha
Olá, amigo AC!
ResponderEliminarÉolo, por meio de seus súditos Boreas, Noto, Euro, agride-nos por todas as direções, no entanto, afaga-nos com Zéfiro, o que nos leva a inspiração sempiterna.
Agora se o vento é oriundo de expiração de quem nos deixam ofegante, aí tudo é ternura, êxtase e refestelamento. O mais importante é que empós a tempestade, venha-nos a bonança.
Texto de extraordinária beleza!
Abraços e ótimo fim de semana para ti e família.
Carícias e frêmitos. Mãos que aliviam e que jogam-se pesadas sobre rostos às vezes invisíveis. Beleza poética sempre e sempre arrebatadora...
ResponderEliminarBeijos, AC
DE fato, o vento parece uma entidade de forte
ResponderEliminarpersonalidade...que vai do amoroso enlevo da brisa ao ensandecido e furioso furacão.O que podemos saber sobre os seus caprichos?
Um abraço
quando aos rumores dos ventos acredito que somos todos D. Quixote.
ResponderEliminarbjs.
PS. Me diz que ja recebeu o livro!Porque ja era para ele esta ai :P
Há de se temer, do vento, seu temperamento, não tão "desemelhante" do homem.
ResponderEliminarAC, que textaço, excepcional!!!
Bj imenso, poeta
Mantém a lua a fama de inconstante, todos sabemos que por suas fases. Porém tenho para mim que mais inconstante é o vento. Que ora dorme tranquilo, ora sopra de mansinho acariciando-nos o rosto como diz, ora se enfurece e faz levantar o oceano em altas vagas, ou destrói tudo o que tenha a veleidade de o enfrentar.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
E as palavras do ancião voam com o "respirar do mundo"!
ResponderEliminarComo sempre, há magia na sua prosa.
E que essas palavras de sabedoria voem com o vento sempre...abraços de boa semana pra ti amigo...
ResponderEliminarOlá, AC!
ResponderEliminarSábia metáfora sobre os tempos que correm; o vento de feição passou a temporal, e sabe-se lá agora para onde nos irá levar...Nem os anciãos o sabem!
Abraço
Vitor
Fico estarrecida quando me deparo com o seu estilo. Mesmo um conto, traz diálogos, para mim, enigmáticos e, sem dúvidas nenhuma, muito poéticos. bjs.
ResponderEliminarÉ bem isso. Tu, como poucos, consegue metamorfosear prosa e poesia numa coisa só... E fica tão lindo.
ResponderEliminarE eu que pensei ser de graça o beijo que o vento me dava todos os dias...
Beijo, AC.
Ventos fortrs que mudam as coisas de lugar!
ResponderEliminarBom domingo AC
Beijinho e uma flor
diálogos sábios.
ResponderEliminarmuito bom.
bom domingo.
beijo
Um parábola em que o sentido do verbo reporta para o reconhecimento da existências de forças incontroláveis que o homem nunca dominará. E não se fala "apenas" do vento.
ResponderEliminarA fé dos "loucos" faz rir o vento, mas o que seria de nós sem essa loucura?
Um beijo
Palavras de mestre!
ResponderEliminarO aprendiz muito terá que percorrer.
beijinhos
Olá amiga! Estava com saudades de vir por aqui. Agora estou com Blog novo e definitivo o Expectro cedi a uma amiga que hora ou outra gosta de poetar... Mas aqui temos uma parábola de um certo mestre que tem toda a razão de dizer que o vento nos acaricia, mas chega uma hora que nos mostra ou cobra algo. Muito bom.
ResponderEliminarUm beijo a ti e uma semana tranquila.
Ser aprendiz é se confundir, sem perceber de início o que o mestre diz. Mas as lições sempre chegam a um termo. E valem sempre a pena.
ResponderEliminarAbraço e uma boa semana, AC.
O meu vento tem rosto... ele se parece com o rosto de um "moço vento" que vi o desenho em um livro de estoria que li ainda criança... ele salvava a moça de todos os perigos carregando-a no colo enquanto fazia ventanias por todo o mundo... desde entao quando sinto ventar em mim... penso que estou a salvo de todos os males...
ResponderEliminar
ResponderEliminare o vento que nos sopra tanta imaginação e voo,
abraço
Quando soubermos de nós ... saberemos do vento , e não só .
ResponderEliminarUm beijo , AC ,
Maria
Poeta , o texto , como sempre , é belíssimo .
ResponderEliminar"(...) Múltiplas facetas tem o vento ."
Conforme Pessoa :
" (...) Outras vezes , oiço passar o vento ,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido ."
Beijos e ótima semana
Nessa minha cabeça em que as palavras giram como se fossem água em um moinho de sentimentos, sempre movem-se com mais força os meus neurônios quando se deparam com as suas palavras.
ResponderEliminarSempre...
beijoss :)
AC, lembras do Lelena que você me escreveu e que estava até outro dia na coluna lateral do meu blog?
ResponderEliminarPois fui mudar a cor das palavras porque havia mudado a cor do blog e o perdi e, agora, não consigo encontrá-lo :(
Você ainda o tem?
Estou sentindo tanta falta dele...
Tanta.
beijoss
Sabe prestar atenção e ver o que os ventos nos querem mostrar... Lindo e desejo ótima semana! chica
ResponderEliminarÉ que talvez sejamos feitos da mesma matéria que o vento: ora nos acariciamos e aos que nos cercam, ora nos autoagredimos e aos outros, rebentando em tufões, tempestades em copos de água, sem reconhecermos nossa própria face; às vezes perdemos as mãos em nosso moínho e tudo desmorona à nossa volta, perdemos assim, a capacidade de sonhar! O vento nos acaricia, nos refresca, nos leva, às vezes, até às nuvens, mas
ResponderEliminartambém nos dá "belos" tombos se não nos recolhermos a tempo! Como nós, o vento canta, o vento uiva...!
beijos :)
um dia o aprendiz, quando tiver esquecido tudo aquilo que aprendeu, saberá a face do vento...
ResponderEliminarbelíssimo texto.
forte abraço
AC, como sempre brilhante, com prosa ondulante a ilustrar o vento dos tempos!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
Madalena
Nas asas do vento e com a sabedoria do ancião conseguimos divagar para além da nossa pequena realidade.
ResponderEliminarExcelente como sempre!
beijinhos
Maria
Somos carregados por todo tipo de vento, da suave brisa ao furacão. Beijos meu amigo e boa semana!!
ResponderEliminarAc
ResponderEliminarO vento sempre nos faz ver como é importante a nossa vida. Compara-lo com o ventop és sempre maravilhosa.
com amizade Monica
Será que nos rendemos? Beijinhos
ResponderEliminarAssim é a sabedoria dos anciãos. Mas que haja sempre D. Quixotes, apesar do vento que ri sem rosto...!
ResponderEliminarBeijo, boa semana
Belo e sugestivo texto! Leve como a brisa matinal mas profundo como o vento que precede a tempestade: invade o pensamento e exige a reflexão. Abraço.
ResponderEliminarBelo! parabéns.
ResponderEliminaradorei este humores do vento, muito inspirador!
ResponderEliminarBeijinho grande, AC!
Poeta
ResponderEliminarO vento segreda-nos sempre, nós é que por vezes não ouvimos.
Um beijinho
Sonhadora
"Hoje os anjos têm sexo, mas o vento continua sem rosto..."
ResponderEliminarCada coisa tocada pela imaginação que desenhamos dentro de nós, o poder evocado por aquilo em que acreditamos.
Perfeito texto poético!
Sigo o blog com prazer.
Abraços
Indecifrável e constante é o vento que faz girar a vida. E nele nos embrenhamos, como folhas soltas. Abraços!
ResponderEliminarprecisamos escutar o vento com os acordes do coração
ResponderEliminarbeijinhos
♡¸.•°
ResponderEliminarOlá, amigo!
Costumo pensar que o vento é a nossa consciência, que nos leva para onde deixamos, mas sempre temos desculpas quando tudo dá errado, então culpamos o vento... no fundo, ele só cumpre sua inocente missão de soprar as nuvens sejam de sol ou de tempestade.
Bom fim de semana!
Beijinhos do Brasil
✿ °•.¸♡¸.•°✿
Adorei o teu espaço com textos maravilhosos que nos fazem viajar como o vento...
ResponderEliminarObrigada pelo carinho e esteja à vontade para usar as minhas pinturas...
Bj xana