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A cidade ficou para trás, mas o seu pulsar chega longe, numa agonia estridente, mesclada em contradições submersas em labirintos de desespero. As sirenes uivam, o asfalto é o simulacro duma arena sem regras. A multidão, numa ressaca desesperada de flores pisadas, esbate o desejo de circo, apenas almeja as voltas do pão. A cabeça, a cada passo, baixa um pouco mais. É a dignidade que se vai.
No resguardo do jardim, o mundo a duas cores: num banco, próximo da estátua do poeta, o sem abrigo enrola um desbotado cobertor; mais além, sob a terna capa dos avós, a criança descobre o fascínio da bola a rolar.
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Lindo te ler e deu muito bem pra visualizar a cena!!Gostei! abração,chica
ResponderEliminarAC que raio de país ...é este...até quando a preto e branco? é tão urgente alguma cor!!! haja um a distração para não perdermos o que nos resta de esperança!
ResponderEliminarBelo texto reflexivo!
Beijo :)
A dualidade da vida - a preto e branco: as bolas das crianças, o sem abrigo enrolado num cobertor....
ResponderEliminarMuito bem Ac
Abraço
Um ângulo da realidade...Há pessoas que, apenas, buscam a supremacia na terra, os que gargalham ante a dor, os orgulhosos, os que desprezam a justiça, os que perseguem os justiceiros, os corruptos...Sim, a cidade parece triste. AC, um beijo!
ResponderEliminarA vida e seus compassos e descompassos perfeitamente ajustados na moldura cotidiana.
ResponderEliminarUm bj querido amigo
angústia querido AC..
ResponderEliminarmas a pureza da criança a tudo supera..
lindo!
beijos.
Este sempre foi, desde que me conheço, um país de pão e de circo.
ResponderEliminarNão é de admirar que tanto circo, que ainda continua, resultasse em falta de pão. Nem sempre a preto e branco porque os políticos deste país, postos no poder a partir de uma revolução que a maior parte deles não mereceu, continuam ainda
hoje, de forma fantasmagórica a apresentar-nos um país que que não existe.
Espero apenas que pelo menos as bolas para as crianças não deixem de existir, porque enquanto atrás delas correm podem enganar a fome por momentos. Lembrei-me do Gedeão, mas nem vale a pena citá-lo. Quanto aos sem abrigo,
sempre existiram e só tenderão a aumentar.
Surpresa de alguém? Para mim, nenhuma.
Um belo texto, AC.
xx
AC,
ResponderEliminarLamento ver suas palavras harmoniosas e suas frases elegantes, se ocuparem de descrever uma situação tão delicada quanto a de sua cidade, mas nem sempre o tema que se apresenta é aquele que gostaríamos de tratar.
Que em breve nossas cidades melhorem,
Grã
PS: obrigado pela visita e pelo comentário em meu blog.
Agostinhamigo
ResponderEliminarPrefiro, decididamente, o postal a preto e branco. Vêem-se melhor os contrastes, as linhas são mais definidas, as intenções também. Já no respeita à raça e aos regimes correspondentes sou e sempre fui e sempre serei contra o apartheid.
Esta é uma leitura possível de um pequeno/grande texto que sabes fazer muitíssimo bem. Obrigado.
Abç
Henrique
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Continuo à espera de um novo textículo. Quando será que?
AC,
ResponderEliminarDe fazer pensar...
Grande crónica, retrato actual deste pequeno país...!
Ouso deixar-lhe; http://mariasentidos.blogspot.pt/2012/10/chao-de-luta-pao-e-arte.html
Beijinhos :)
Lindíssimo e pertinente este seu texto.
ResponderEliminarBeijinho, A.C.
Terno e triste!
ResponderEliminarAbraço
Tanto de belo como de triste, mexeu comigo!
ResponderEliminarTriste realidade.
beijinho e uma flor
Antagonias da vida dividem o mesmo espaço. Um abraço!
ResponderEliminarAs contradições do mundo capitalista onde vivemos como um equilibrista mas sem a poesia do mundo do sonho, mas o acirramento maniqueísta da miséria e do deslumbre do falso progresso. Pelo menos a criança sob a proteção possa ter o seu instante de inocência feliz.
ResponderEliminarUm abraço
Falaste do Brasil, então? Por que não são diferentes as angústias por aqui. O pão e circo imperam desde sempre. Os chão estão lotados de sem abrigo. A bola é mais importante que o livro... Enfim.
ResponderEliminarE tu, sublime, sempre.
Um beijo!
Este cromo é perfeito, AC. E como sempre as palavras estão na medida exata. A tua economia verbal é invejável. O seu texto tem sempre uma intensidade que nos faz pensar nele por horas depois de lido.
ResponderEliminarGrande abraço,
Contradições...desesperança x esperança...e a vida segue...
ResponderEliminarabraços,
Lígia
Olá, AC!
ResponderEliminarEste mundo é feito de contrastes e contradições. De extremos que não se tocam, embora por vezes tão juntos...Por instantes, paramos para olhar, mas depois a vida continua; não pode ser doutra maneira...
Belo texto, ainda que repassado de cores tristes.
Um abraço
Vitor
Pao é circo... pobreza e riqueza... desespero e esperança... é o mundo em que vivemos...
ResponderEliminarMeu caro
ResponderEliminaré preciso contemplar
mas urgente é agir
Abraço
Mais um texto que nos deixa a reflectir...
ResponderEliminarGosto de retratos a preto e branco, mas gosto de uma vida colorida.
Abraço
E pensar que a P&B também se faz a vida, e multicolor.
ResponderEliminarBoa noite.
Que se faça luz
ResponderEliminarPura reflexão! E o "mundo pula e avança"( dizia o poeta)...avança?! Agora parece que recua...mais e mais...
ResponderEliminarUm abraço.
M. Emília
Infelizmente um postal a preto e branco mundial,só não
ResponderEliminarpodemos perder a sensibilidade diante desta miséria,se
indignar diante desta crescente desigualdade
e denunciar sempre. Assim, como fez o poeta com
este talento e sensibilidade,uma luz a refletir...
Bj.
Muito bom este conto, AC, lembrou-me imediatamente o Porto quando eu era miúda. Obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos e bom dia!
As cabeças inclinam-se cada vez mais .
ResponderEliminarEsperemos que as crianças continuem encontrando as suas bolas, e e nelas venha pintado o arco iris
Um beijo, AC ,
Maria
a P&B e devia ser a cores...
ResponderEliminarum postal quiçá também de outros mundos.
real e triste.
que as crianças, ainda encontrem a sua bola para brincar.
:)
Das anomalias, a caminho de uma normalidade, perigosa.
ResponderEliminarInquietante!
Beijo meu
Poeta , outro belo texto . A dignidade deve ser mantida . " A cabeça , a cada passo, baixa. um pouco mais . É a dignidade que se vai ."
ResponderEliminarLutemos , pois . Beijos
,
.... e no entanto, existem pontes para a outra margem!
ResponderEliminare sonhos a conquistar!
enorme, teu texto.
abraço
Que palavras lindas de se ler!!!! Um postal cheio de surpresas o teu. Me encantei!!!
ResponderEliminarMuito grata pela visita lá em meu blogue! =)
Fui ali verificar e percebi que já sou sua seguidora. Desculpe-me a ausência. Prometo que voltarei mais vezes.
Att,
ResponderEliminarContrastes na absorção das imagens. Gosto!
Beijo
Laura
É um «preto e branco» que as palavras burilam...
ResponderEliminarbjs
Impressionante que a cada letra as suas palavras formam perfeitamente uma imagem.
ResponderEliminarBeijos.
Texto maravilhoso!
ResponderEliminarRetratando um quadro um tanto dolorido, porém real, muito presente!
Beijos!
Os seus leitores levaram as suas palavras e encaixaram-nas nas suas próprias cidades, nas suas realidades pessoais. E em todas elas se encaixa este texto despido de artifícios, minimalista e global. Porque a crise física, moral, emocional se dilata aos quatro cantos do mundo.
ResponderEliminarSem imagem, para acentuar o postal a preto e branco?!
Um abraço, um domingo com uma pincelada de cor
Ruthia d'O Berço do Mundo
P.S. Sou péssima com títulos. O Berço do Mundo foi uma epifania. Agora lido diariamente com a necessidade de criar conteúdo à altura de tão sublime nome...
A poeticidade do seu texto alegra meu coração, ainda quando a realidade subjacente à poesia nada tem de bela! Gostei muito da imagem da multidão numa "ressaca desesperada de flores pisadas".
ResponderEliminarA poeticidade do seu texto me alegra como alegrei-me ao descobrir a escrita de Yvette Centeno. Quando estive em Lisboa um livreiro disse-me que ela andava doente. Nunca mais soube dela e gostava que ela também continuasse a escrever!
Abraço!
Um texto que me lembrou um quadro de tal modo a cena salta das palavras e se faz presente ante os nossos olhos.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Paralelas que nunca se tocam.
ResponderEliminarVazios. De dignidade, de respeito, de esperança.
Inocências que se queriam perenes.
Que a bola continue a rolar, ainda que seja de trapos.
triste, ainda bem que existe tu.
ResponderEliminarVou ficar por aqui, espreitando.
ResponderEliminarHá espaços que nos convidam a entrar, logo...