terça-feira, 22 de outubro de 2013

POSTAL A PRETO E BRANCO

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A cidade ficou para trás, mas o seu pulsar chega longe, numa agonia estridente, mesclada em contradições submersas em labirintos de desespero. As sirenes uivam, o asfalto é o simulacro duma arena sem regras. A multidão, numa ressaca desesperada de flores pisadas, esbate o desejo de circo, apenas almeja as voltas do pão. A cabeça, a cada passo, baixa um pouco mais. É a dignidade que se vai.
No resguardo do jardim, o mundo a duas cores: num banco, próximo da estátua do poeta, o sem abrigo enrola um desbotado cobertor; mais além, sob a terna capa dos avós, a criança descobre o fascínio da bola a rolar.
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43 comentários:

  1. Lindo te ler e deu muito bem pra visualizar a cena!!Gostei! abração,chica

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  2. AC que raio de país ...é este...até quando a preto e branco? é tão urgente alguma cor!!! haja um a distração para não perdermos o que nos resta de esperança!

    Belo texto reflexivo!

    Beijo :)

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  3. A dualidade da vida - a preto e branco: as bolas das crianças, o sem abrigo enrolado num cobertor....

    Muito bem Ac

    Abraço

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  4. Um ângulo da realidade...Há pessoas que, apenas, buscam a supremacia na terra, os que gargalham ante a dor, os orgulhosos, os que desprezam a justiça, os que perseguem os justiceiros, os corruptos...Sim, a cidade parece triste. AC, um beijo!

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  5. A vida e seus compassos e descompassos perfeitamente ajustados na moldura cotidiana.
    Um bj querido amigo

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  6. angústia querido AC..
    mas a pureza da criança a tudo supera..
    lindo!
    beijos.

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  7. Este sempre foi, desde que me conheço, um país de pão e de circo.
    Não é de admirar que tanto circo, que ainda continua, resultasse em falta de pão. Nem sempre a preto e branco porque os políticos deste país, postos no poder a partir de uma revolução que a maior parte deles não mereceu, continuam ainda
    hoje, de forma fantasmagórica a apresentar-nos um país que que não existe.
    Espero apenas que pelo menos as bolas para as crianças não deixem de existir, porque enquanto atrás delas correm podem enganar a fome por momentos. Lembrei-me do Gedeão, mas nem vale a pena citá-lo. Quanto aos sem abrigo,
    sempre existiram e só tenderão a aumentar.
    Surpresa de alguém? Para mim, nenhuma.
    Um belo texto, AC.
    xx

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  8. AC,
    Lamento ver suas palavras harmoniosas e suas frases elegantes, se ocuparem de descrever uma situação tão delicada quanto a de sua cidade, mas nem sempre o tema que se apresenta é aquele que gostaríamos de tratar.

    Que em breve nossas cidades melhorem,

    Grã

    PS: obrigado pela visita e pelo comentário em meu blog.

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  9. Agostinhamigo

    Prefiro, decididamente, o postal a preto e branco. Vêem-se melhor os contrastes, as linhas são mais definidas, as intenções também. Já no respeita à raça e aos regimes correspondentes sou e sempre fui e sempre serei contra o apartheid.

    Esta é uma leitura possível de um pequeno/grande texto que sabes fazer muitíssimo bem. Obrigado.

    Abç

    Henrique
    ________

    Continuo à espera de um novo textículo. Quando será que?

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  10. AC,
    De fazer pensar...
    Grande crónica, retrato actual deste pequeno país...!
    Ouso deixar-lhe; http://mariasentidos.blogspot.pt/2012/10/chao-de-luta-pao-e-arte.html
    Beijinhos :)

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  11. Lindíssimo e pertinente este seu texto.
    Beijinho, A.C.

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  12. Tanto de belo como de triste, mexeu comigo!
    Triste realidade.

    beijinho e uma flor

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  13. Antagonias da vida dividem o mesmo espaço. Um abraço!

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  14. As contradições do mundo capitalista onde vivemos como um equilibrista mas sem a poesia do mundo do sonho, mas o acirramento maniqueísta da miséria e do deslumbre do falso progresso. Pelo menos a criança sob a proteção possa ter o seu instante de inocência feliz.
    Um abraço

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  15. Falaste do Brasil, então? Por que não são diferentes as angústias por aqui. O pão e circo imperam desde sempre. Os chão estão lotados de sem abrigo. A bola é mais importante que o livro... Enfim.
    E tu, sublime, sempre.

    Um beijo!

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  16. Este cromo é perfeito, AC. E como sempre as palavras estão na medida exata. A tua economia verbal é invejável. O seu texto tem sempre uma intensidade que nos faz pensar nele por horas depois de lido.

    Grande abraço,

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  17. Contradições...desesperança x esperança...e a vida segue...

    abraços,

    Lígia

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  18. Olá, AC!

    Este mundo é feito de contrastes e contradições. De extremos que não se tocam, embora por vezes tão juntos...Por instantes, paramos para olhar, mas depois a vida continua; não pode ser doutra maneira...

    Belo texto, ainda que repassado de cores tristes.
    Um abraço
    Vitor

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  19. Pao é circo... pobreza e riqueza... desespero e esperança... é o mundo em que vivemos...

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  20. Meu caro
    é preciso contemplar
    mas urgente é agir
    Abraço

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  21. Mais um texto que nos deixa a reflectir...
    Gosto de retratos a preto e branco, mas gosto de uma vida colorida.
    Abraço

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  22. E pensar que a P&B também se faz a vida, e multicolor.


    Boa noite.

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  23. Pura reflexão! E o "mundo pula e avança"( dizia o poeta)...avança?! Agora parece que recua...mais e mais...
    Um abraço.
    M. Emília

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  24. Infelizmente um postal a preto e branco mundial,só não

    podemos perder a sensibilidade diante desta miséria,se

    indignar diante desta crescente desigualdade

    e denunciar sempre. Assim, como fez o poeta com

    este talento e sensibilidade,uma luz a refletir...

    Bj.

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  25. Muito bom este conto, AC, lembrou-me imediatamente o Porto quando eu era miúda. Obrigada!
    Beijinhos e bom dia!

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  26. As cabeças inclinam-se cada vez mais .

    Esperemos que as crianças continuem encontrando as suas bolas, e e nelas venha pintado o arco iris

    Um beijo, AC ,
    Maria

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  27. a P&B e devia ser a cores...
    um postal quiçá também de outros mundos.
    real e triste.
    que as crianças, ainda encontrem a sua bola para brincar.

    :)

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  28. Das anomalias, a caminho de uma normalidade, perigosa.

    Inquietante!

    Beijo meu



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  29. Poeta , outro belo texto . A dignidade deve ser mantida . " A cabeça , a cada passo, baixa. um pouco mais . É a dignidade que se vai ."
    Lutemos , pois . Beijos
    ,

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  30. .... e no entanto, existem pontes para a outra margem!

    e sonhos a conquistar!

    enorme, teu texto.

    abraço

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  31. Que palavras lindas de se ler!!!! Um postal cheio de surpresas o teu. Me encantei!!!
    Muito grata pela visita lá em meu blogue! =)

    Fui ali verificar e percebi que já sou sua seguidora. Desculpe-me a ausência. Prometo que voltarei mais vezes.

    Att,

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  32. Contrastes na absorção das imagens. Gosto!

    Beijo

    Laura

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  33. É um «preto e branco» que as palavras burilam...

    bjs

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  34. Impressionante que a cada letra as suas palavras formam perfeitamente uma imagem.

    Beijos.

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  35. Texto maravilhoso!
    Retratando um quadro um tanto dolorido, porém real, muito presente!
    Beijos!

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  36. Os seus leitores levaram as suas palavras e encaixaram-nas nas suas próprias cidades, nas suas realidades pessoais. E em todas elas se encaixa este texto despido de artifícios, minimalista e global. Porque a crise física, moral, emocional se dilata aos quatro cantos do mundo.
    Sem imagem, para acentuar o postal a preto e branco?!
    Um abraço, um domingo com uma pincelada de cor
    Ruthia d'O Berço do Mundo

    P.S. Sou péssima com títulos. O Berço do Mundo foi uma epifania. Agora lido diariamente com a necessidade de criar conteúdo à altura de tão sublime nome...

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  37. A poeticidade do seu texto alegra meu coração, ainda quando a realidade subjacente à poesia nada tem de bela! Gostei muito da imagem da multidão numa "ressaca desesperada de flores pisadas".
    A poeticidade do seu texto me alegra como alegrei-me ao descobrir a escrita de Yvette Centeno. Quando estive em Lisboa um livreiro disse-me que ela andava doente. Nunca mais soube dela e gostava que ela também continuasse a escrever!
    Abraço!

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  38. Um texto que me lembrou um quadro de tal modo a cena salta das palavras e se faz presente ante os nossos olhos.
    Um abraço e uma boa semana

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  39. Paralelas que nunca se tocam.
    Vazios. De dignidade, de respeito, de esperança.
    Inocências que se queriam perenes.
    Que a bola continue a rolar, ainda que seja de trapos.

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  40. triste, ainda bem que existe tu.

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  41. Vou ficar por aqui, espreitando.
    Há espaços que nos convidam a entrar, logo...

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