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Imagem tirada daqui
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Na pequena aldeia, aconchegada no que de melhor o vale tinha, um leve rumor sobrepunha-se aos gestos de sempre. Não chegava a ser inquietude, mas destilava energia suficiente para despoletar discretos arremedos de sobressalto, pólvora seca em prados sedentos de água.
Nos campos faziam-se as derradeiras colheitas, com cheiro a maçãs e uvas maduras. Da serra, enfeitada de eólicas, assomavam nuvens carregadas, anunciando os estertores do mundo, acentuados pelo uivar dos cães em noite de Lua Cheia.
Avessa a fados e lamúrias, a Ti Laurinda, na sua velha casa de pedra, mais idosa que a soma das suas duas pernas, ensaiava nova quadra com que, episodicamente, presenteava as suas galinhas, ou quem mais a quisesse ouvir. A última até já as pedras de xisto a tinham entranhado.
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Olhar p'ra dentro, olhar p'ra fora
Não tem nada que enganar
Se a chuva estiver p'ra vir
Algo está para mudar.
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Enquanto comia as couves galegas, entremeadas com uma batatita e regadas com um pingo de azeite, uma nova quadra ia ganhando forma:
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Antes do vento chegar com força
Acautela a tua telha
Não serás sempre moça
Também um dia serás velha.
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Quando interpelada por alguém, acerca deste seu hábito, a Ti Laurinda sorria, sorria sempre, enquanto encolhia os ombros:
Quando interpelada por alguém, acerca deste seu hábito, a Ti Laurinda sorria, sorria sempre, enquanto encolhia os ombros:
- Que quer, são cá coisas minhas...!
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Belo texto AC. Tão bem descrito que tive a nítida sensação de ouvir a Ti Laurinda. E a foto é também muito bela. Portugal tem aldeias lindíssimas.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Que lindo a começar pela foto. E a Ti Laurinda tem todo direito de assim responder!Adorei! bjs, chica
ResponderEliminarA Ti Laurinda é uma senhora muito dotada.
ResponderEliminarOi, A.C. que lindo versejar e que linda pessoa Laurinda...a sabedoria da vida é a que mais nos instrui. Foto riquíssima de apelos ancestrais...nunca vi mas sempre amei, está impressa no DNA.
ResponderEliminarum abraço
Que lindo! Os versos, a Ti Laurinda e a foto. Ainda existem algumas, mas tão poucas, Ti Laurindas por essas aldeias de xisto fora. Essa foto faz-me lembrar uma certa aldeia onde estive há dois anos :)) Será? Beijinho AC
ResponderEliminarLinda foto! Eu lembro muito dos momentos com minhas tias, tanto das que permanecem entre nós como das que já partiram... interessante hábito! Mostra a bagagem de sabedoria da tia Laurinda! Abraços!
ResponderEliminarUma perfeita construção imagem/texto trazendo a sabedoria dos que vivem a vida plena: "antes do vento chegar/acautela a tua telha". Lição de arte e de vida. Bela postagem, AC. Abraços, boa semana.
ResponderEliminarGostei muito
ResponderEliminarUma crónica de um tempo e de um lugar recheada de alma: a dessas gentes e a tua.
ResponderEliminarUm texto que devia figurar num roteiro...
Bjo, AC :)
genuinidade... e beleza no texto e na foto de lugares.
ResponderEliminargostei!
:)
Pura delicia!... Apreciar as gentes e os locais, do nosso interior bem português... através do seu texto, AC!...
ResponderEliminarIria jurar, que me senti lá... na aldeia da Ti Laurinda...
Passando por aqui... enquanto a Net deixa... e espreitando as últimas novidades...
Abraço!
Ana
Encantamento e ternura brotados em forma de versinhos!
ResponderEliminarAmei!
Feliz semana!
Poeta , "sobrinho de peixe , peixinho é..."
ResponderEliminarTia Laurinda poetando e o sobrinho nos brindando com texto belíssimo .
Agradeço a partilha .Adorei também a foto .
Beijos e boa semana
Saudades dessas tuas palavras sentidas. Saudades desse lugar, que quando leio é como se estivesse nesse pedaço da tua memória.
ResponderEliminarAbraços, meu querido.
Aquele que canta a nossa interioridade testemunha uma realidade em vias de extinção. Por uns dias, partilho essa paisagem, enquanto preparamos uns hectares para a plantação de um amendoal. Ar puro, eólicas no horizonte, trabalho árduo (dando graças aos céus por já não estar muito calor).
ResponderEliminarEspero que o Verão tenha sido doce, eu andei longe mas já regressei.
Abraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
Deliciosas estas memórias, AC! Saboreei-as, bem como à imagem e a tudo o que me fez lembrar!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
muito sábia, Ti Laurinda!
ResponderEliminarforte abraço
O teu belo estilo de contar...
ResponderEliminarTão bela e singela a "Tia Laurinha", apenas sendo o que é
transcende o comum no belo (en)canto à vida...
Beijo, AC!
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ResponderEliminar~ Um texto que nos descreve com ternura e poesia,
um Setembro bucólico, de rara beleza...
~ Vidas de uma pureza sempre surpreendente!
Grata pela partilha e agradáveis momentos de leitura.
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~~~ Abraço amigo. ~~~
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Este relato é uma verdadeira pérola:)
ResponderEliminarA essência das gentes da terra, acho que está no nosso sangue de ser português.
Fica um beijo AC.
Coisas da "Ti Laurinda" reportadas com uma beleza como só o AC o faz!
ResponderEliminarA imagem também é muito bonita, fez com que lembrasse as casas em Casal de São Simão, um lugar muito bonito onde estive à dias.
Um beijinho meu Amigo.
Adélia
Um texto extraordinariamente belo, onde se intercalam as quadras da Ti Laurinda, mulher sábia. Uma fotografia maravilhosa. Foi um gosto passar por aqui.
ResponderEliminarBeijo.
Encantou bjbj Lisette.
ResponderEliminarUma beleza inocente que dificilmente se encontra no nosso mundo "moderno".
ResponderEliminarGostei imenso.
Beijinhos e bom fim de semana
Passei. Como já tinha comentado, deixo um abraço e desejos de bom fim de semana
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ResponderEliminarViajei por um instante à minha mocidade. Como tudo é capaz de voltar quando vemos algo ou lemos uma frase. Beijinhos
Os ditados dos mais "velhos" tinham sempre uma razão de ser.
ResponderEliminarEu adorava ouvir as histórias e ditos do meu avô.
Aproveito para agradecer as palavras de conforto que me deixou pela morte da minha mãe, muito obrigado pelo carinho.
Bom domingo
Um abraço
Maria
:) Acho que são coisas da alma da Ti Laurinda, e ainda bem que ela lhe faz a vontade!
ResponderEliminarUm abraço!
Que lugar encantador, AC a Ti era mesmo muito sábia.
ResponderEliminarBeijo.
Ahahahah, tenho para mim que se um dia conhecesse a Ti Laurinda ficaríamos para ali as duas, perdidas, em amena cavaqueira.
ResponderEliminarO desfecho está delicioso. A foto convida-nos a entrar. Pena é que tal não seja possível. Ainda...
Boa noite, AC :)