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Vsevolod Shvayba
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Carregavam memórias ancestrais, guardadas em mil subterfúgios, como se da mais preciosa carga se tratasse. Sabiam o que a maior parte dos mortais não sabia, sobrevoavam as suas vidas, observavam as suas angústias, mas pouco ou nada lhes era permitido, a não ser deixar pequenos sinais: uma flor no sítio mais inusitado, uma moeda depositada numa gaveta, um raio de sol a ultrapassar o filtro das árvores... E seguiam, seguiam sempre, qual missão sem fim à vista, eterna tarefa em prol da harmonia.
Às vezes, cansadas do seu pedestal, eram tentadas a deter-se num qualquer pormenor do que observavam. E, qual porto de abrigo feito devaneio, assumiam as vestes dum mero humano, como se as emoções fossem a maçã da tentação. Era só por momentos, pensavam. E, normalmente, era. Mas quando, por descuido, deixavam que as emoções lhes abraçassem o corpo e a alma, nada mais era como dantes. Talvez fosse por isso que, em pleno milheiral, quando o estio já findava, a tarde ficasse incendiada com uma luz que até tu própria desconhecias.
Partiste, tinhas que partir, na altura não sabia. Mas quando, nos longos finais de verão, as cotovias se elevam, nos céus, em busca da última luz, eu sei que a tua alma nunca chegou a partir.
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Às vezes, cansadas do seu pedestal, eram tentadas a deter-se num qualquer pormenor do que observavam. E, qual porto de abrigo feito devaneio, assumiam as vestes dum mero humano, como se as emoções fossem a maçã da tentação. Era só por momentos, pensavam. E, normalmente, era. Mas quando, por descuido, deixavam que as emoções lhes abraçassem o corpo e a alma, nada mais era como dantes. Talvez fosse por isso que, em pleno milheiral, quando o estio já findava, a tarde ficasse incendiada com uma luz que até tu própria desconhecias.
Partiste, tinhas que partir, na altura não sabia. Mas quando, nos longos finais de verão, as cotovias se elevam, nos céus, em busca da última luz, eu sei que a tua alma nunca chegou a partir.
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Vsevolod Shvayba, A dance
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Olá, A.C.
ResponderEliminarMuito bom ter-te por aqui, de novo. Saudade!
Por enquanto, ainda têm um longo caminho a percorrer, até que os seus bagos dourados incendeiem o final das tardes... O tempo em que as moçoilas incendiavam os corações dos mancebos, e as suas vozes ecoavam nas lajes das eiras, já faz parte de um passado distante.
Um texto precioso, debulhado em poesia. :)
Beijinhos.
A gravura é simplesmente deliciosa.
ResponderEliminarFiquei a observá-la durante algum tempo.
É daquelas imagens que pedem uma história!
Magnífico texto, com imagens tão inspiradoras… Confesso que já tinha saudades de ler estas prosas poéticas e cheias de significado… Uma boa semana.
ResponderEliminarUm beijo.
Wow AC o que é esse artista Vsevolod Shvayba, que grande descoberta! Fui perquisar mais da obra dele e adorei. E a tua narrativa uma delícia de ler! Às vezes parece que encontramos alguns seres assim pelo caminho. Um beijo.
ResponderEliminarTodas as flores se desfolham
ResponderEliminarExcelente como sempre
Hoje é só para dizer que já estou de volta.
ResponderEliminarAmanhã já haverá comentários.
Mais uma prosa poética cheia de tudo, embora não goste nada da primeira gravura e no teu espólio tens fotos fabulosas que fariam mais efeito:)) (pelo menos para mim) e desculpa o abuso.
ResponderEliminarBeijocas e um bom dia
Que bonito, AC:)
ResponderEliminar"eu sei que a tua alma nunca chegou a partir", porque é impossível enganar os fantasmas. Tão lindo. Um forte abraco Agostinho. Agora que um ano letivo árduo terminou e o descanso merecido finalmente chegou, desejo-lhe umas férias tranquilas, com muita e paz de espírito, que acredito encotrar nesse seu pequeno paraíso.
ResponderEliminarBonito e intenso.
ResponderEliminarAs palavras e as imagens
brisas doces *
INFORMAÇÃO
ResponderEliminarTal como tinha anunciado acabo de publicar mais um episódio, o oitavo, da saga É DIFÍCIL VIVER COM UM IRMÃO MONGOLÓIDE que desta feita tem como título... "Empernanço de pestana"... Com este texto a acção entra de raspão na guerra colonial e ainda na ida do primeiro homem à Lua. Uma vez mais alerto para imagem que pode impressionar as/os mais sensíveis.
Volto depois para comentar.
As almas são assim AC, tão surpreendentes e tão previsíveis por vezes. Boa noite
ResponderEliminarPerco-me na beleza das palavras feitas imagem, das imagens carregadas de emoções. Que dizer mais? Quisera eu estar à altura para comentar semelhante texto.
ResponderEliminarAbraço e bom Domingo.
Isto era o que acontecia a todos os deuses gregos, tinham uma sã inveja dos mortais, vinham fazer umas visitas e deixavam sempre frutos atrás de si. Lindas estórias, lendas e superstições nasceram disso.
ResponderEliminarBom Verão, amigo AC
Abraço
Maravilhoso, este pedaço de céu, em forma de texto, onde se descortinam as almas dos que não chegam a partir... talvez por ser mesmo escrito, com o coração...
ResponderEliminarTalento, sensibilidade e emoção, sempre num mix perfeito, por aqui, AC!
Beijinho! E boas férias, de for o caso!...
Ana
E como nos primeiros dias de Agosto, serei eu, que entrarei de férias... deixo um beijinho e um abraço apertado, para estas semanitas, em que estarei mais ausente!...
ResponderEliminarTudo de bom, por aí, AC!
Ana
A gos... to aqui vim.
ResponderEliminarentrei ao toque mas, no fim,
disfarçado a mente.
Aqui vim e
sempre que venho espanto-
-me, maravilho-me pela dança, as nu-
vens: eu leio, eu_Agosto sinto-
-me nas nuvens.
Agosto enquanto der e Agostinho, pois,
depois das marés vivas que alqueivam
neurónios para a sementeira.
Há-de vir maiz,
há-de vir e é xi-coração!
Abraço
Saudade!!!!
ResponderEliminarAC, estou para ver alguém que escreva contos poéticos assim!
Sempre leio mais de uma vez!
Beijos, boa semana! =)
Espero que esteja bem.
ResponderEliminarBeijos.
Houve, realmente, alguma preocupação com a saúde, mas está tudo bem.
EliminarObrigado, Graça.
Preocupação já não é bom,
ResponderEliminarNão vá a gente fazer disso
ocupação...
Isto é mais que uma afirmação.
Vim às novidades e vi que houve algum sobressalto.
Saúde, amigo AC.
Meu caro Agostinhamigo I
ResponderEliminarAntes do mais - esqueceste-me absolutamente o que muito lamento. V~e se tornas à Travessa que é também tua. Obrigado.
Um texto que mal começo a ler nem precisa de ser assinado porque sei logo que é de tua autoria tais as linhas com que o traças. É uma mestria que identifico porque é inconfundível e magnífica. Um pouco dolente e doente como a nossa Graçamiga disse e como tu respondeste.
Poe-te fino, amigo, precisamos de ti, do teu estilo, do teu amor às letras com que arrumas frases e ideias
Um abração deste teu amigo (que também se confessa faltoso...) e admirador
Henrique, o Leãozão
INFORMAÇÃO
Já está postado na Nossa Travessa um novo textículo deste feita inócuo, portanto sem qualquer tipo de provocação, de agressão erótica ou de imagem chocante, enfim próprio para todas as idades, sexos, profissões e até religiosos, agnósticos e ateus. Tem características internacionalistas e o seu título é AS PRIMAS DE MONTREAL mas não precisa de tradução para os comentários que se aguardam.
Desculpa, cheguei por aqui fui ficando pela literatura vasta que encanta.
ResponderEliminarBelo seu escrever.
Olá AC será que o meu amigo está bem?
ResponderEliminarBeijinho com muito carinho
Adélia
POETA , você está bem ?
ResponderEliminarSaudade de seus textos e de suas visitas ao meu espaço .
Beijos
Vejo que a luz incendeia o milheiral. E as tuas palavras também.
ResponderEliminarDesejo que estejas melhor a cada dia.
beijinho, AC.